segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Na Idade Média houve uma explosão de liberdade, criatividade e progresso

Catedral de Strasbourg, França
Catedral de Strasbourg, França
Luis Dufaur
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A Idade Média, impropriamente chamada "Idade das Trevas", foi uma das épocas de maior desenvolvimento e criatividade técnica, artística e institucional da História, escreveu o Prof. João Luís César das Neves, Professor Catedrático e Presidente do Conselho Científico da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa, no Diário de Notícias de Lisboa.

A Cristandade, explicou ele, gerou um surto de criatividade prática. Assim as realizações da Idade Média resultaram em melhorias da vida das aldeias, não em monumentos que os renascentistas poderiam admirar.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Na Idade Média, a Europa encheu-se de escritores, artistas, monumentos e invenções

Escola medieval. Disciplina e aprendizado.
Escola medieval. Disciplina e aprendizado.
Luis Dufaur
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Quanto ao ensino primário, também estava largamente difundido na Idade Média.

Em muitas regiões da Europa, havia escolas primárias gratuitas, funcionando ao lado de cada igreja paroquial, de forma a ministrar a instrução elementar a todos os indivíduos de todas as classes sociais.

As escolas primárias, como as superiores, estavam, na Idade Média, sob a alta orientação do Clero e da Igreja, que mantinha a unidade de pensamento do mundo cristão e portanto sua unidade política e a unidade de sua cultura, por meio da autoridade espiritual que cabe à Igreja Católica.

Os últimos séculos da Idade Média se caracterizaram por um extraordinário florescimento das letras e das artes.

Apareceram, então, artistas e intelectuais que podem ombrear com os maiores que a humanidade tenha conhecido em qualquer tempo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

A vida rural encravada na cidade

Luis Dufaur
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A vida rural foi extraordinariamente ativa durante a Idade Média, e grande quantidade de culturas foi introduzida na França durante essa época.

Isso foi devido, em grande parte, às facilidades que o sistema rural da época oferecia ao espírito de iniciativa da nossa raça.

O camponês de então não é nem um retardatário nem um rotineiro. A unidade e a estabilidade do domínio eram uma garantia tanto para o futuro como para o presente, favorecendo a continuidade do esforço familiar.

Nos nossos dias, quando concorrem vários herdeiros, é preciso desmembrar o fundo e passar por toda espécie de negociações e de resgates, para que um deles possa retomar a empresa paterna. [disposições recentes vieram modificar o regime das sucessões]

A exploração cessa com o indivíduo, mas o indivíduo passa, enquanto o patrimônio fica, e na Idade Média tendia-se para residir.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Progresso e desenvolvimento das cidades na Idade Média

Construção de uma cidade medieval
Construção de uma cidade medieval
Luis Dufaur
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A história da evolução de uma cidade na Idade Média é um dos espetáculos mais cativantes.

Cidades mediterrâneas, como Marseille, Arles, Avignon ou Montpellier, rivalizando pela sua audácia com as grandes cidades italianas no comércio de aquém-mar; centros de tráfico, como Laon, Provius, Troyes ou Le Mans; núcleos de indústria têxtil, como Cambrai, Noyon ou Valenciennes; todas demonstraram um ardor, uma vitalidade sem igual.

Obtiveram, além do mais, a simpatia da realeza.

Já que as cidades libertas entravam na enfiteuse real, não procuravam elas por este fato, em seu desejo de emancipação, a dupla vantagem de enfraquecer o poder dos senhores feudais e aumentar com isso inesperadamente o domínio real?

Muitas vezes a violência é necessária, e surgem movimentos populares como em Laon e Le Mans.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Paternalismo protetor nas relações de trabalho na Idade Média

Controle de qualidade nas guildas, ou corporações
Controle de qualidade nas guildas, ou corporações
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Eis o que diz o Papa Leão XIII no que toca aos trabalhadores da indústria e do comércio a respeito do paternalismo nas relações de trabalho na Idade Média:

"Os nossos antepassados experimentaram por muito tempo a benéfica influência destas associações (as corporações operárias).

"Ao mesmo tempo que os artesãos encontravam nelas inapreciáveis vantagens, as artes receberam delas novo lustre e nova vida, como o proclama grande quantidade de monumentos.

"Sendo hoje mais cultas as gerações, mais polidos os costumes, mais numerosas as exigências da vida quotidiana, é fora de dúvida que não se podia deixar de adaptar as associações a estas novas condições.

"Assim, com prazer vemos Nós irem-se formando por toda parte sociedades deste gênero, quer compostas só de operários, quer mistas, reunindo ao mesmo tempo operários e patrões: é para desejar que ampliem a sua ação.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Entre empregador e empregado relações de pai e filho

Patroa e criados na colheita: relacionamento de alma
Patroa e criados na colheita: relacionamento de alma
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Na sociedade medieval os relacionamentos humanos não eram tanto baseados nos contratos de serviço, mas nos contratos pessoais em que um homem se dá inteiro e recebe uma proteção total.

Hoje, os contratos entre patrão e empregado, ou entre patrão e patrão, empregado e empregado, são contratos trabalhistas, contratos de compra, venda, empréstimo, etc., e locação de serviços.

Esse tipo de contratos está restringido aos interesses e vantagens particulares legítimos.

Porém, não se pode dizer que atendem a todos os desejos de relacionamento que existem no homem.

Trata-se de contratos legais onde o relacionamento de alma é secundário ou está ausente. Esta ausência deixa um vazio no espírito.

A sociedade medieval apanhou perfeitamente essa ausência na locação de serviços entre empregador e empregado.

Aliás, as palavras empregador e empregado são muito boas para o mundo do metal e do dinheiro.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Na decadência, a família medieval ainda faiscou maravilhas

Recepção nas bodas de prata de George Washington, Jean Leon Gerome Ferris (1863 – 1930)
Recepção nas bodas de prata de George Washington, Jean Leon Gerome Ferris (1863 – 1930)
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O período pós-medieval conhecido como Ancien Régime (Antigo Regime) e que vai desde o fim da Idade Média até a Revolução Francesa (aprox. de 1453 até 1789) merece magníficos elogios.

Mas isso não quer dizer absolutamente que tenha sido um regime ideal.

Ele se situa numa época em que a sociedade foi lentamente resvalando para o abismo da Revolução Francesa.

Tendo a sociedade medieval abandonado seu ideal primitivo, entrou numa rampa histórica.

E quando se acompanha detidamente este movimento descendente, vê-se até que seu resvalar não foi tão lento.

O Ancien Régime é uma era na qual se apontam muitas coisas boas, mas que não lhe são próprias, pois são aspectos medievais que ainda lhe restam.

Por outro lado, tem inúmeros pontos maus, aspectos já do Estado moderno que vai surgindo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

As famílias na justiça de Deus

Levando o Santissimo Sacramento para os doentes. Ferdinand Georg Waldmüller (1793 - 1865)
Levando o Santíssimo Sacramento para os doentes. Ferdinand Georg Waldmüller (1793 - 1865)
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Continuação do post anterior: A tradição familiar, as estirpes e o governo do Estado




Os homens, sendo eternos, serão julgados na vida eterna; mas as nações, não o sendo, receberão prêmio ou castigo nesta Terra.

O mesmo se dá com as famílias: como tais, não se salvam nem se perdem; têm a recompensa de suas qualidades ou a punição de seus defeitos nesta Terra mesmo.

Certas famílias terão até seu anjo da guarda próprio.

Este o mistério de que nos fala muitas vezes a Escritura: famílias que são chamadas a uma certa missão, recusam, e saem do cenário histórico; outras, que correspondem à graça, começam a florescer, e Deus faz nascer delas homens inteligentes, capazes, ilustres.

Não quer isto dizer que cada família que empobreça o seja por punição; mas, de um modo geral, pode-se dizer que a ascensão ou decadência das famílias está relacionada com o uso que tenham feito das graças divinas.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

A tradição familiar, as estirpes e o governo do Estado

Festa de aniversário, William Powell Frith (1819 – 1909), Mercer Art Gallery, Harrogate Museums and Arts
Festa de aniversário, William Powell Frith (1819 – 1909), Mercer Art Gallery, Harrogate Museums and Arts
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Continuação do post anterior: Por que os filhos parecem com os pais As forças misteriosas da hereditariedade




Três elementos – a hereditariedade de corpo, de alma e o ambiente moral – completados com outros, como a expressão da mentalidade da família no modo de ser cortês, no modo de conversar, de decorar a casa, de cozinhar, de tratar os negócios, no modo até de conceber as relações afetivas, o casamento, o noivado, etc, todo este conjunto constitui a tradição que uma família transmite.

Se estas forças podem ser extraídas, desenvolvidas e firmadas pela família, a família deve produzir esta tradição.

Chamamos estirpe uma família que assim produz uma tradição: um tipo físico muito continuado, um tipo de constituição psíquica e nervosa muito definida, um tipo de virtudes, e às vezes também de defeitos muito definidos, um sistema de vida, um estilo de existência, tudo muito definido.

Estirpe é uma família que carreia consigo uma grande densidade de tradição, sob todos estes aspectos, e que constitui um todo homogêneo e igual a si mesmo, através de vários séculos.

Os homens passam, a estirpe é sempre a mesma; como um rio, em que a água passa, mas ele é sempre o mesmo.

Esta noção de estirpe precisa ser completada.

Alegria numa família popular, Jan Steen, (1668)
Alegria numa família popular, Jan Steen, (1668)
Não há estirpes somente na classe nobre, mas em todas as classes sociais.

Se ela é o produto natural do desenvolvimento da família, e se esta é chamada pelos desígnios da Providência a desenvolver-se, devemos ter séries e séries de estirpes em todos os graus da hierarquia social.

Estirpes de padeiros, de príncipes, de lixeiros, de joalheiros, de cantores.

É o conjunto destas estirpes que constitui a nação.

E a nação não apenas no presente, mas como uma continuidade histórica, no passado, no presente e no futuro.

O Brasil de hoje é o mesmo Brasil de outrora porque descende das mesmas e antigas estirpes, conservando uma identidade de tradição.

Porém, à medida que estas estirpes vão se desbotando e sendo substituídas por novas, sem verdadeira tradição, ele já não é mais o mesmo.

Este é um processo multissecular.

O Egito de hoje já não é o Egito de outrora, pois as estirpes não são as mesmas.

O que nasceu no feudalismo, tanto nas cidades como nos campos, foi um conjunto enorme de homens que formaram estirpes.

Este conjunto de estirpes, e de organizações com base em estirpes, é que propriamente constituiu a Idade Média.

O que ela teve de mais intrínseco e arraigado foi esta estrutura de estirpes, vivificada pelo espírito de família.

A Igreja ama e favorece as estirpes


Por que razão a Revolução detesta esta ordem de coisas? Porque é a menos igualitária delas.

Casamento, Giulio Rosati (1858–1917)
Casamento, Giulio Rosati (1858–1917)

A afirmação de que os homens não só são desiguais depois de nascidos, mas o são antes mesmo de nascerem, é abominável aos revolucionários.

Nesta concepção, via de regra o futuro do indivíduo está pré-estabelecido pelo aproveitamento que o seu livre arbítrio dará, conforme corresponda ou não à graça de Deus, às riquezas que a hereditariedade nele depositou.

Ainda que aproveite muito, não será mais do que aquelas riquezas o permitirem.

E elas são muito desiguais.

Chegamos assim a uma desigualdade hereditária, que é o contrário do que a Revolução Francesa afirmara.

Ela quis fazer crer a igualdade de todos os homens.

Tolerou, por não ter outra solução, a desigualdade baseada no mérito.

Mas esta tradição, resultado de um conjunto de méritos passados, que dá ao homem uma formidável vantagem sobre os demais, este elemento de desigualdade, jamais ela toleraria.

A desigualdade fundamental que afirmamos está necessariamente ligada às estirpes e à organização da família.

A estirpe é contrarrevolucionária ainda por outro aspecto.

Tomemos como exemplo algum clube: o Harmonia, em São Paulo, um clube grã-fino.

Brinde de muitas gerações em família, P.S. Krøyer, 1888
Brinde de muitas gerações em família, P.S. Krøyer, 1888
É puramente artificial, meramente convencional.

Poderia chamar-se Lírio Azul, ter sua sede num bairro proletário e constar de outros sócios.

A estirpe, não: é como deve ser, e não pode deixar de ser daquele modo.

Ela constitui uma espécie de personalidade coletiva de cada um.

Cada qual será ele mesmo na medida em que estiver integrado em sua estirpe, e desenvolver as qualidades próprias a ela; não poderá ser outra coisa, não poderá querer para si algo que era próprio dos príncipes Condés.

Cada qual só conseguirá ser o que é, da melhor forma que puder.

Se esta personalidade coletiva se romper ou truncar, é sua própria personalidade que ficará ferida.

Cada homem não pode deixar de fazer parte da sua estirpe.

Se esta sofrer algum detrimento, é ele que sofrerá.

A sua mentalidade é um fragmento dela.

O natural da pessoa é estar integrada num todo com o qual tenha conaturalidade.

As estirpes e o Estado


Se houver uma família com caracteres bem definidos, espraiando-se numa parentela muito remota, mas muito unida, em que todos tenham a sensação viva de serem membros da mesma família, cada membro será amparado por um grupo social independente do Estado.

A família é uma potência, um todo, move-se independentemente do Estado, constitui uma célula com a qual o Estado tem que contar.

Seus membros não dependem de Institutos de Previdência; se empobrecerem, a família os ajudará.

Os parentes constituem o meio de suas relações, que lhes asseguram uma posição social, independente da maneira de se trajarem, etc.

Com instituições desta natureza o Estado pouco pode.

Se alguém nasceu em determinada estirpe, o Estado não a pode promover muito além disso.

Alegoria do bom governo, Ambrogio Lorenzetti (1290 - 1348), Prefeitura de Siena
Alegoria do bom governo, Ambrogio Lorenzetti (1290 - 1348), Prefeitura de Siena
Uma estirpe definida é o fator da própria independência do indivíduo, cria uma barreira contra arbitrariedades do Estado.

Numa sociedade repleta de estirpes há grupos sociais muito importantes, que o Estado deve a todo momento tomar em consideração.

Uma sociedade sem estirpes, onde só há parentescos vagos e as famílias se desbotam, é a sociedade de hoje.

Na organização feudal e medieval a matéria-prima são as estirpes.

São um, dois, dez séculos de continuidade histórica realizada por essas estirpes.

É preciso notar que os historiadores são concordes em afirmar a existência de obras que precisam ser levadas a cabo por várias gerações: a fundação de certos países, o desenvolvimento de certa política, a criação de certas fontes de prosperidade.

A instituição que, de direito natural, assegura a realização da obra histórica através das gerações, é a família.

A estirpe faz com que, ao longo das gerações, uma dinastia realize uma obra: uma família de sineiros aperfeiçoe certo tipo de sinos, uma de viticultores chegue a produzir um vinho excelente, ou uma de professores apure um sistema didático incomparável.

São obras de gerações, e são as obras mais profundas da História.

De direito natural, devem ser desenvolvidas por estirpes.


Continua no próximo post: As famílias na justiça de Deus

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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Por que os filhos parecem com os pais
As forças misteriosas da hereditariedade

No ambiente familiar se transmite um espírfito único de geração em geração, Hugo Engl (1852 - 1926). Wikimedia Commons
No ambiente familiar se transmite um espírito único de geração em geração,
Hugo Engl (1852 - 1926). Wikimedia Commons
Luis Dufaur
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Num discurso à nobreza romana, Pio XII fala das forças misteriosas da hereditariedade.

São misteriosas, de fato, pois que até hoje os biologistas não conseguiram definir satisfatoriamente as regras que presidem a hereditariedade.

Mas ela é um fato, e muito importante, constatado sob mil aspectos diversos.

Cada homem traz dentro de si várias hereditariedades.

Somos a resultante biológica de um sem número de correntes de vida, que vieram ter em nós o seu ponto de encontro.

Assim como numa lagoa existem águas de diversos rios que nela desembocam, assim existem em nós essas hereditariedades.

Somos recipientes em que várias correntes do passado se fundem.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

No feudalismo as famílias florescem e saem do caos

Luis Dufaur
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Eis a verdadeira história do feudalismo.

Funck-Brentano tem razão ao demonstrar que o feudalismo nasceu dos fatos tratados nos post anteriores. Cfr. A família organizou a vida social e os países ; As estirpes ordenaram os homens que fugiam do caos

Mas há uma série de outros que ele não cita, e que o prepararam.

Vejamos contudo, sumariamente, alguns deles.

Entre os sucessores de Carlos Magno, ficou assentado que os cargos seriam vitalícios e hereditários; isto era já um princípio de feudalismo.

Mesmo no tempo de Carlos Magno ele já nomeava condes, que eram os grandes proprietários de determinada região.

Vê-se que ele já tinha o intuito de apoiar a administração central sobre os valores locais autênticos.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

As estirpes ordenaram os homens que fugiam do caos

Conceito medieval da família: a árvore genealógica e a continuidade familiar
A estirpe familiar dá continuidade ao espírito dos primeiros pais ao longo de gerações.
A árvore genealógica registra essa continuidade familiar
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Continuação do post anterior: A família organizou a vida social e os países



A teoria de Funck-Brentano sobre a origem do Estado francês não é muito clara porque carece de um elemento que trataremos agora.

Pois a Inglaterra, ao tempo em que o feudalismo nascia por esta forma, era invadida pelos normandos, e já antes destes pelos anglo-saxões.

Lá encontraram uma população de celtas, que tinham o nome de bretões, donde provém a Bretanha de nossos dias.

Os celtas, que eram cristãos, foram derrotados e sumariamente expulsos pelos invasores, os quais converteram-se e deram origem à Irlanda e ao País de Gales, onde até hoje fala-se um resquício da língua céltica.

As tribos celtas, esmagadas, recuaram diante dos agressores e fixaram-se durante algum tempo na Escócia.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

A família organizou a vida social e os países

Fugindo dos bárbaros no caos do fim do Império Romano, os restos de civilização se reuniram em torno de empalizadas. A família era a alma da resistência
Fugindo dos bárbaros no caos do fim do Império Romano,
os restos de civilização se reuniram em torno de paliçadas.
A família era a alma da resistência
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Continuação do post anterior: A família nas origens da civilização



No início da Idade Média, os homens mais civilizados, horrorizados com a invasão dos bárbaros, começaram a galgar os montes e montanhas, fixando-se nos pontos menos acessíveis.

De tal modo que os normandos passando pelas vias fluviais não tivessem vontade de atingi-los.

Começaram, por outro lado, a fixar culturas e a construir casas por detrás dos pântanos, nos lugares chamados marécage, zonas pantanosas atrás das quais há regiões férteis.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

A família nas origens da civilização

Casamento, Conrad Beckmann (1846 – 1902)
Casamento, Conrad Beckmann (1846 – 1902)
Luis Dufaur
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A obra de Funck-Brentano “L’Ancien Régime” (Arthème, Fayard e Cie., Paris, 1937) dá-nos ocasião para tecer considerações acerca das origens da Idade Média.

Historiador de grande renome, o autor é contudo naturalista, mas suas obras nos são de grande valia, se bem examinadas, com espírito crítico.

Funck-Brentano parte da posição muito boa de que, no Estado, a matéria-prima fundamental é a família.

O Cardeal Billot, em seu livro “De Ecclesia”, discorrendo acerca do Estado orgânico, diz, magistralmente, que quem definisse o corpo humano como um conjunto de células diria um disparate, mas se dissesse ser um conjunto de órgãos diria uma grande verdade.

Com efeito, o corpo humano não é constituído simplesmente de células, mas de células que por sua vez compõem órgãos.

As unidades do corpo humano mais próximas são os órgãos.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Benefícios da união dos poderes espiritual (Papado)
e temporal (Império)

Ato de submissão de São Luis a Inocêncio IV em Cluny. Bibliothèque National de France.
Ato de submissão de São Luis rei da França a Inocêncio IV em Cluny.
Bibliothèque National de France.
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Que tenha havido abusos da parte da Santa Sé, como da parte do poder temporal, é coisa incontestável, e a história das disputas entre o papado e o império está aí para prová-lo.

Mas podemos dizer que no conjunto esta tentativa audaciosa de unir os dois poderes — o espiritual e o temporal — teve um saldo positivo para o bem comum.

Era uma garantia de paz e de justiça esse poder moral do qual não se podiam infringir as decisões sem correr perigos precisos — entre outros o de se ver despojado da sua própria autoridade e afastado da estima dos seus súditos.

Enquanto Henrique II está em luta com Thomas Becket, não se sabe qual prevalecerá, mas no dia em que o rei decide desembaraçar-se do prelado por um assassínio, é ele o vencido.

A reprovação moral e as sanções que ela provoca têm então mais eficácia que a força material.

Para um príncipe interdito, a vida deixa de ser tolerável: os sinos silenciosos à sua passagem, os súditos fugindo à sua aproximação, tudo isto compõe uma atmosfera à qual não resistem até mesmo os caracteres mais fortemente temperados.

Até Filipe Augusto acaba finalmente por se submeter, quando nenhum constrangimento exterior o teria podido impedir de deixar a infeliz Ingeburga gemer na prisão.

Durante a maior parte da Idade Média, o direito de guerra privada permanece considerado inviolável, tanto pelo poder civil como pela mentalidade geral.

Manter a paz entre os barões e os Estados apresenta, portanto, imensas dificuldades; e se não fosse esta concepção da Cristandade, a Europa correria o risco de nunca passar de um vasto campo de batalha.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Espada de São Fernando no brasão de Sevilha

Pendão de Sevilha
Pendão de Sevilha
Luis Dufaur
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Os cavaleiros medievais “batizavam” suas espadas com nomes e até lhes reconheciam feitos prodigiosos que Deus operava por meio delas.

Durante séculos esta crença foi partilhada por nações inteiras e algumas dessas espadas sobreviveram às vicissitudes da história e são exibidas em museus como relíquias.

Figuram como motivo de orgulho em brasões e símbolos heráldicos de famílias, cidades e países.

A disputa pela inclusão da espada do rei São Fernando III de Castela no brasão da cidade de Sevilha suscitou uma aparatosa polêmica na Assembleia Municipal informou o jornal espanhol “ABC”.

Por fim, até o esquerdista PSOE votou em seu favor ao lado dos partidos conservadores PP e Ciudadanos, mas enfrentando uma enraivecida oposição das agrupações de esquerda e extrema-esquerda.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Harmonia nas sociedades e nas nações em volta do Papado

São Leão III coroa imperador a Carlos Magno e põe o fundamento da Cristandade
São Leão III coroa imperador a Carlos Magno
e põe o fundamento da Cristandade
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Na Idade Média foi possível o nascimento da ordem social e política a partir do caos porque houve um ponto central que permaneceu fixo: o papado, centro da vida espiritual e articulador das boas relações entre os povos.

Mas muito diversas foram as suas relações com os diferentes Estados porque alguns se ligaram à Santa Sé por títulos especiais de dependência.

É o caso do Império Romano-Germânico, cujo chefe, sem se encontrar sob a suserania do Papa, ao contrário do que se acreditou frequentemente, deve contudo ser escolhido ou pelo menos confirmado por ele.

Isto explica-se, reportando-nos às circunstâncias que presidiram à sua fundação e à parte essencial que aí tinha tomado o papado, que não faz mais do que conferir-lhe o seu título e julgar casos de deposição.

Outros reinos são vassalos da Santa Sé, pois num dado momento da sua história pediram aos papas a sua proteção.

Como os reis da Hungria, entregando-lhe solenemente a sua coroa; ou como os reis da Inglaterra, Polônia ou Aragão, pedindo-lhe que autenticasse os seus direitos.

De modo que o selo de São Pedro ratifica doravante e preserva as suas liberdades.

segunda-feira, 22 de março de 2021

Do abismo do caos saiu o inimaginável:
a grande ordem medieval

A Grande Ordem nasceu em meio à derrocada do Império romano
A Grande Ordem nasceu em meio à derrocada do Império romano
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A Idade Média, tal como se apresentava no seu ponto de partida, corria o risco de nunca conhecer senão o caos e a decomposição.

Nasceu de um império desmoronado e de vagas de invasões sucessivas, formada por povos desarmônicos que tinham cada um os seus usos, seus quadros e sua ordem social diferentes, quando não opostos.

Quase todos esses povos bárbaros tinham um sentido muito vivo das castas, da sua superioridade de vencedores.

De ali só poderia sair o mais inconcebível esboroamento, e de fato o apresentou no início.

Contudo, verificamos que nos séculos XII e XIII essa Europa tão dividida, tão perturbada por ocasião do seu nascimento, atravessa uma era de harmonia e de união tal como nunca conhecera.

E talvez não conhecerá mais no decorrer dos séculos.

Ds bárbaros, povos desarmônicos, diferentes ou opostos, só podia resultar o desabamento geral
Dos bárbaros, povos desarmônicos, diferentes ou opostos,
só podia resultar o desabamento geral
Por ocasião da primeira cruzada, vemos príncipes sacrificarem os seus bens e os seus interesses, esquecer as suas querelas para tomarem juntamente a Cruz.

Os povos mais diferentes reuniram-se num único exército.

A Europa inteira estremeceu à palavra de um Urbano II, de um Pedro, o Eremita, mais tarde de um São Bernardo ou de um Foulques de Neuilly.

Vemos monarcas, preferindo a arbitragem à guerra, submeter-se ao julgamento do Papa ou de um rei estrangeiro para regularizar as suas dissensões.

Fato ainda mais notável, encontramo-nos perante uma Europa organizada.

Ela não é um império, não é uma federação — é a Cristandade.

É preciso reconhecer aqui o papel representado pela Igreja e pelo papado na ordem europeia.

Foram, com efeito, fatores essenciais de unidade.

A diocese, a paróquia, confundindo-se frequentemente com o domínio, foram durante o período de decomposição da Alta Idade Média as células vivas a partir das quais se reconstituiu a nação.

As grandes datas que para sempre marcariam a Europa são as da conversão de Clóvis, assegurando no mundo ocidental a vitória da hierarquia e da doutrina católicas sobre a heresia ariana.

E a coroação de Carlos Magno pelo Papa Estêvão II, que consagra o duplo poder espiritual e temporal, cuja união formará a base da cristandade medieval.

É preciso ter em conta, de uma maneira mais geral, a influência do dogma católico que ensina que todos os filhos da Igreja são membros de um mesmo corpo, como o lembram os versos de Rutebeuf:

Tous sont un corps en Jésus-Christ,

Dont je vous montre par l’écrit

Que li uns est membre de l’autre.


Todos somos um só corpo em Jesus Cristo,

E assim eu vos mostro, pelo que está afirmado,

Que nós somos membros d’Ele.

Busto-relicário de Carlos Magno. Fundo: cúpula da catedral de Aquisgrão, sua capital.
Busto-relicário de Carlos Magno.
Fundo: cúpula da catedral de Aquisgrão, sua capital.
A unidade de doutrina, vivamente sentida na época, jogava a favor da união dos povos.

Carlos Magno compreendera-o tão bem que, para conquistar a Saxônia, enviava missionários de preferência a exércitos, e o fazia por convicção, não por simples ambição.

A história repetiu-se no Império Germânico com a dinastia dos Otões.

A Cristandade pode definir-se praticamente como a “universidade” dos príncipes e dos povos cristãos obedecendo a uma mesma doutrina, animados de uma mesma fé, e reconhecendo desde logo o mesmo magistério espiritual.

Esta comunidade de fé traduziu-se numa ordem europeia assaz desconcertante para cérebros modernos, bastante complexa nas suas ramificações, grandiosa contudo quando a examinamos no seu conjunto.

A paz na Idade Média foi muito precisamente, segundo a bela definição de Santo Agostinho, “a tranquilidade da ordem”.




(Fonte: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)


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