segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

A autoridade medieval
se funda mais no respeito do que na força

São Luis IX, rei da França, modelo de autoridade medieval
São Luis IX, rei da França, modelo de autoridade medieval
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Até o século XVI, a autoridade real fundou-se mais sobre a sua força moral do que sobre os seus efetivos militares.

Foi ela também que solidamente formou o renome dos reis justiceiros.

Os Regrets de la mort de Saint Louis insistem sobre este ponto:

Afirmo que o Direito morreu, e a Lealdade acabou
Quando morreu o bom rei, a criatura santa
Que a todas e a todos dava direito à sua queixa.
A quem poderão agora os pobres clamar
Quando morreu o bom rei, que tanto os soube amar?
O próprio “bom rei” São Luis insiste muitas vezes neste ponto, nos seus Ensinamentos ao seu filho:

“Executa a justiça e a retidão e sê leal e inflexível para os teus súditos, sem te virares para a esquerda ou para a direita, mas sempre para o direito; e apóia a querela do pobre, até que a verdade seja declarada”.
Joinville conta em diversas ocasiões como ele punha estes princípios em prática, e como a justiça real fazia-se sentir até aos confins do reino:

“No Reno encontramos um castelo a que chamam Roche de Glin, que o rei tinha mandado abater porque Roger, o senhor do castelo, era tido como defraudador dos peregrinos e dos mercadores”.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Autoridade do rei medieval:
mais um pai de família que um governante moderno

São Luís serve aos pobres como se fossem filhos doentes
São Luís serve aos pobres como se fossem filhos doentes
Grandes Chroniques de France. Bibliotèque Nationale, Paris
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Se a sociedade medieval funcionava com um organismo regido por uma vida própria, com uma extraordinária variedade de usos e costumes e uma estonteante autonomia nas leis e normas a todos os níveis, então como se podia exercer a autoridade real sobre um corpo que como que não precisava de cabeça?

O teólogo Henri de Gand vê na pessoa do rei um chefe de família, defensor dos interesses de todos e de cada um.

Tal parece ser bem a natureza da monarquia medieval.

O rei, colocado no topo da hierarquia feudal tal como o senhor na direção do domínio e o pai na chefia da família, é simultaneamente um administrador e um justiceiro.

É o que simbolizam os seus dois atributos — o cetro e a mão da justiça.

Como administrador, o rei tem em primeiro lugar ocasião de exercer o poder diretamente sobre o seu próprio domínio.