terça-feira, 28 de novembro de 2017

O urbanismo medieval e o urbanismo moderno

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Quando nas iluminuras medievais consideramos uma cidade vista de longe, ela se apresenta de modo inteiramente diferente da cidade moderna.

A cidade moderna é de contornos imprecisos, irregulares.

É como um tumor que se vai estendendo de lá para cá e para acolá, de maneira tal que numa certa direção ela cresceu muito, e noutra existem ainda parques que vão quase até o seu centro.

A cidade medieval nos dá impressão de uma moeda bem cunhada.

Ela está repleta de casas, num recinto delimitado por um muro e realçado por torres.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Desigualdade proporcionada e harmônica das classes na direção da sociedade

Cardeal da Igreja Católica
Cardeal da Igreja Católica
Luis Dufaur
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A Igreja Católica, na Civilização Medieval, manteve o regime das classes sociais diferentes, reconhecendo a existência de um clero, uma nobreza e um povo.

Mas ao mesmo tempo que manteve essa diferença, alterou fundamentalmente alguns aspectos dessa diferença.

Antes de tudo, a primeira das classes sociais, que era o clero, era uma classe completamente aberta a todas as pessoas que tivessem vocação para nela ingressar.

A Igreja nunca exigiu que a pessoa pertencesse a determinada classe social para chegar a entrar no clero.

Pelo contrário, foi muito frequente o exemplo de pessoas pertencentes às camadas mais modestas da sociedade e que ascendiam a mais alta categoria da hierarquia eclesiástica.

De outro lado, tínhamos a nobreza. A nobreza era uma classe hereditária, mas havia aí também uma grande diferença.

Em primeiro lugar, um nobre podia ser destituído de sua nobreza, se ele praticasse determinados atos infamantes.

De outro lado, um plebeu poderia ser promovido a nobre se ele praticasse atos de relevância.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O papel da mulher na Idade Média

Ana de Bretanha
Luis Dufaur
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Há quem pense que na Idade Média o papel da mulher era o de submissão total e completo ostracismo.

Há quem cogite que se pensava que a alma da mulher não era imortal ‒ afirmação gratuitamente preconceituosa e contraditória (se a alma é espiritual e imortal, como a alma feminina não seria? Seria uma alma mortal?).

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Extraordinária, proficua e plácida movimentação na Idade Média

Cientistas consideram o mundo.  Bartolomeu o Inglês, "Livro das propriedades das coisas"
Cientistas consideram o mundo.
Fr. Bartolomeu OFM, o Inglês: "Livro das propriedades das coisas", BnF, fr 134, f, 169.
Luis Dufaur
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Na Idade Média: vida intelectual, espiritual e moral sujeita a flutuações e cheia de vais-e-vens

Estudando a história, poder-se-ia achar que a vida na Idade Média era muito mais movimentada do que a de nossos dias. De fato parece ser.

A movimentação era, entretanto, num outro campo e por razões diferentes das movimentações de hoje.

A atividade dos corpos talvez fosse menor. Certos homens viajavam muito, mas era apenas uma certa categoria de homens: os mercadores, os estudantes, os nobres.

Mas a maior parte das populações ficava fixa nas cidades. E o geral dos homens viajava muito menos que os de hoje.

Agora, acontece que enquanto a vida física de um homem era menos trepidante, sua vida espiritual, intelectual e moral era muito mais sujeita a flutuações e muito mais cheia de vais-e-vens.

Isso determinava uma diferença de “colorido” na vida medieval.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Integração entre o campo e a cidade na Idade Média

Luis Dufaur
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Na vida medieval não existia antagonismo entre o campo e a cidade. A cidade estava integrada na vida rural como uma cereja no chantilly.

No século XIII São Tomás de Aquino ensinava que a cidade tem um limite a partir do qual ele fica grande demais.

Qual é?

No momento que desde algum local da cidade não se enxergasse a natureza, a cidade tinha atingido o seu tamanho máximo.

Por isso havia uma proporcionalidade e uma integração notável entre o campo e a cidade.

Com toda naturalidade, uma pessoa passeando pela cidade acabava chegando ao campo e prolongando o passeio pela natureza vizinha.

Da mesma maneira o camponês entrava e saia da cidade para suas necessidades.

Na cena acima temos uma cena da vida pastoral. É o tempo da colheita. Homens e mulheres estão engajados, pois há muito para colher.

No fundo vê-se a cidade tão bonitinha que se diria de conto de fadas. As construções são sólidas em pedra e as agulhas sobem muito alto. O sino marca as horas e ouve-se à distância.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Harmoniosa complementaridade entre o castelo e a casa camponesa

Luis Dufaur
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A imagem representa uma excursão de camponeses mais abastados.

Serão, tal vez, proprietários pequenos ou médios de propriedades rurais.

Eles se divertem num passeio em bote pelo canal.

O homem está tocando uma flauta, um moça está tocando um bandolim, um homem atrás rema.

Eles estão andando num canal que vai ao longo de um castelo.

O castelo tem beleza arquitetônica. A harmonia das linhas, o belo reflexo sobre as águas, os cisnes nadam num grande sossego.

Bem em frente do castelo há uma casa de plebeus.

Entre o castelo e casa dos campônios se estabelece naturalmente uma comparação muito bonita de duas classes sociais: o castelo é mais nobre, rico e belo, mas em frente dele reina a fartura e a comodidade.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

O mais antigo tribunal do mundo e suas lições medievais

O Tribunal das Águas de Valencia, na Espanha, já fez mais de mil anos julgando conflitos de irrigação
O Tribunal das Águas de Valencia, na Espanha,
já fez mais de mil anos julgando conflitos de irrigação
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O tribunal mais antigo da Terra, cujas sentenças são reconhecidas pelo Judiciário de seu país, tem sede na cidade de Valencia, na Espanha, segundo informou a agência AFP.

Mas ele age segundo usos e costumes da Idade Média, época em que foi fundado. O atendimento é imediato, bastando os querelantes se apresentarem.

O julgamento é oral, sem burocracia nem custos, a sentença é pronunciada na hora, não tem apelo e é acatada sem discussão, pois a respeitabilidade do tribunal beira o sagrado.

Trata-se do Tribunal das Águas, fundado em Valencia no século X e que já comemorou mais de um milênio em atividade.

Sua autoridade se estende sobre os conflitos relativos à irrigação na fértil planície situada junto à terceira cidade da Espanha, uma região de laranjais e hortas.

O tribunal está constituído por oito anciãos, escolhidos pelas oito comarcas irrigadas. E se reúne na Porta dos Apóstolos da catedral gótica da cidade, em espaço delimitado especialmente para as suas sessões.

O horário de atendimento é todas as quintas-feiras, quando os sinos da torre Micalet da catedral batem meio-dia.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Jornalista brasileiro se deleita
com ‘passeio medieval em Tallinn’

Vista noturna do centro medieval de Tallinn, Estônia
Vista noturna do centro medieval de Tallinn, Estônia
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Que efeito produz a Idade Média no homem do III Milênio?

Poderíamos mencionar as dezenas de milhões de turistas que vão visitar os monumentos da Idade da Luz que atravessaram os séculos.

Ou do interesse por filmes discutíveis, mas de grande sucesso, ambientados em cenários medievais. Poderíamos falar da Downton Abbey – embora num ambiente não inteiramente medieval – ou “The Crown”.

Mas desçamos a algo mais concreto. O testemunho do jornalista brasileiro Zeca Camargo, perdido em 2017 numa cidade medieval dos Países Bálticos.

Eis o que ele nos conta de seu “passeio medieval em Tallinn”, narrado na “Folha de S.Paulo”.

“Esse lugar é Tallinn, capital da Estônia: tudo ali existe em função de seu passado medieval.

“Cheguei lá tarde da noite e procurei um lugar para comer. Fim do inverno (europeu), os lugares que podem geralmente salvar os turistas — bistrôs, pizzarias e, mais recentemente, hamburguerias artesanais — já estavam fechados.

“Mas lá num canto da grande praça central, uma tocha (e não um neon) dava uma esperança de um prato quente a este visitante faminto.

“Entrei numa sala à luz de velas, onde uma mulher vestida com algo que estava longe de ser um costume moderno logo me ofereceu uma salsicha e uma tigela de guisado.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Turistas e artistas hoje
querem visitar casas do povo medieval

Casas populares em Colmar, Alsácia, França
Casas populares em Colmar, Alsácia, França
Luis Dufaur
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Não é preciso recorrer a documentos; basta olhar os monumentos medievais que restam hoje em dia e que os turistas do mundo inteiro vão admirar para ver que o povo na Idade Média não se reduzia à manada de gente pobre, esquálida, sugada, de que nos falam os anti-medievalistas frenéticos de nossa época.

Basta ver as bonitas casas populares de uma cidade histórica na Europa.

Na foto, as casas se refletem poeticamente no curso de água.

Muito caracteristicamente os vigamentos que estão do lado de fora constituem um ornato e os terraços todos no verão têm flores como na foto embaixo.

Todas essas casas pertenciam à plebe na Idade Média. Eram casas de plebeus, alojamentos de burgueses, ou trabalhadores manuais.

Com este conforto e bom gosto vivia a plebe na Idade Média, da qual tanto mal se fala em nossos dias.

Para ver essas casas populares da Idade Média viajam turistas e artistas do mundo inteiro.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

A família medieval: muitas gerações
e uma mesma herança espiritual e material

Conceito medieval da família: a árvore genealógica e a continuidade familiar
Conceito medieval da família: a árvore genealógica e a continuidade familiar
Luis Dufaur
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A família foi a alma viva da ordem cristã medieval. A sua influência continuou - e continúa - muito depois.

Eis como o erudito Mons. Delassus nos fala de seu benéfico influxo nos séculos passados:

"Citemos como exemplo algumas linhas extraídas do livro de família (*) de André d'Ormesson, conselheiro de Estado [na França] no século XVII:

Que nossos filhos conheçam aqueles dos quais descendem por parte de pai e mãe, que eles sejam incitados a rezar a Deus pelas suas almas e a bendizer a memória das pessoas que, com a graça de Deus, honraram a sua casa e adquiriram os bens de que eles usufruem.

"Outro pai de família escreve em 1807:

Encontrareis, meus filhos, uma sequência de ancestrais estimados, considerados, honrados na sua região e por todos os seus concidadãos.

Uma existência honesta, uma fortuna mediana, mas uma reputação sem mancha, eis o capital que vem sendo transmitido, durante quatrocentos anos, por onze pais de família que jamais abandonaram o nome que receberam nem a terra em que nasceram.

"Por esta palavra família, portanto, não se entendia somente, como hoje, apenas o pai, a mãe e os filhos, mas toda a linhagem dos ancestrais e a dos descendentes que viriam.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Testemunho concludente:
a dignidade do camponês na arte medieval

A dignidade dos camponeses se reflete em suas roupas e na distinção no trabalho.
A dignidade dos camponeses se reflete em suas roupas e na distinção no trabalho.
Luis Dufaur
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Valerão como um hino à glória do camponês as miniaturas das Très riches heures du Duc de Berry ou o Livre des prouffictz champestres, iluminado pelo bastardo Antoine de Bourgogne, ou ainda os pequenos quadros dos meses na fachada de Notre-Dame e em tantos outros edifícios.

Notemos que em todas estas obras de arte, executadas pela multidão ou pelo amador nobre, o camponês aparece na sua vida autêntica: removendo o solo, manejando a enxada, podando a vinha, matando o porco.

Haverá uma outra época, uma só, que possa apresentar da vida rural tantos quadros exatos, vivos, realistas?

Que individualmente determinados nobres ou determinados burgueses tenham manifestado desdém pelos camponeses, é possível e mesmo certo.

Mas isso não existiu em todas as épocas?

A mentalidade geral, contando com hábitos sarcásticos da época, tem muito nitidamente consciência da igualdade fundiária dos homens no meio das desigualdades de condição.

O jurista Philippe de Novare distingue três tipos de humanidade:

as “gentes francas”, isto é, “todos aqueles que tiverem franco coração; [...] e aquele que tiver coração franco, donde quer que tenha vindo, deve ser chamado franco e gentil, porque se é de um mau lugar e é bom, tanto mais honrado deve ser”.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Rotemburgo: bom gosto e dignidade na vida popular medieval


Luis Dufaur
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A sociedade da Idade Média dividia-se em três classes.

A mais alta das classes era o Clero, porque constituída por pessoas consagradas a Deus, integrantes da estrutura da Igreja Católica Apostólica Romana.

A segunda classe era a Nobreza — a classe dos guerreiros e dos proprietários de terras no interior.

Em caso de guerra, eram eles que iam para a frente de batalha. Serviço militar obrigatório era só para os nobres.

Para os plebeus, o serviço militar era muito restrito.

Por fim a Plebe — era a terceira classe, portanto —, à qual cabia a produção econômica.

Habitualmente, quando ouvimos falar em Idade Média, pensamos em catedrais suntuosíssimas, em castelos magníficos.

E com base na realidade, porque na Idade Média construíram-se catedrais e castelos incomparáveis.

Mas é natural a indagação: como seria então a vida da plebe — ou seja, do burguês e do trabalhador manual — nessa época?

terça-feira, 4 de abril de 2017

A burguesia rica: cidadãos ilustres e banqueiros

Banquete, Musée du Petit-Palais, Paris. Ms. Histoire du Grand Alexandre
Banquete, Musée du Petit-Palais, Paris. Ms. Histoire du Grand Alexandre
Luis Dufaur
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Na cena ao lado o ambiente é dos mais elevados.

Estamos na presença de um festim de gente rica e nobre.

Percebe-se a diferença.

A figura vestida de vermelho é o personagem de mais realce e está colocado num plano mais alto.

Ele está olhando para um outro que lhe está fazendo uma saudação pomposa.

Nas mesas do banquete há comerciantes ricos.

Na segunda imagem vemos uma reunião de banqueiros.

Um está ouvindo notícias de seus negócios; outro já fez o bom negócio e está guardando dentro da bolsa e anotando entradas e saídas.

Os bancos estavam naquele tempo apenas se organizando.

terça-feira, 7 de março de 2017

Lendas tétricas sobre camponeses medievais
são produto do rancor moderno

Vestido camponês do Vale de Ansó, Aragão, Espanha
Vestido camponês do Vale de Ansó, Aragão, Espanha
Luis Dufaur
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Não deve iludir-nos determinada literatura, em que o vilão muitas vezes está envolvido.

Não passa de testemunho do rancor, velho como o mundo, que sente o charlatão, o vagabundo, pela situação do camponês no domínio, cuja morada é estável, cujo espírito por vezes é lento, e cuja bolsa muitas vezes demora a abrir-se.

A isto se acrescenta o gosto, bem medieval, de zombar de tudo, inclusive daquilo que parece mais respeitável.

Na realidade, nunca foram mais estreitos os contatos entre o povo e as classes ditas dirigentes — neste caso, os nobres.

Contatos estes facilitados pela noção de laço pessoal, essencial para a sociedade medieval, e multiplicados pelas cerimônias locais, festas religiosas e outras, nas quais o senhor encontra o rendeiro, aprende a conhecê-lo e partilha a sua existência, muito mais estreitamente do que, nos nossos dias, os pequenos burgueses partilham a dos seus criados.

A administração do feudo obriga o nobre a ter em conta todos os detalhes da vida dos servos.

Nascimentos, casamentos, mortes nas famílias de servos entram em linha de conta para o nobre, como interessando diretamente o domínio.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A lenda do camponês medieval inculto, miserável e desprezado
não passa de lenda

Nobre dirige os trabalhos da agricultura no feudo. Todos os detalhes exibem abundância e boa organização da produção, além de camponeses bem vestidos e educados.
Nobre dirige os trabalhos da agricultura no feudo. Todos os detalhes exibem abundância
e boa organização da produção, além de camponeses bem vestidos e educados.
Luis Dufaur
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Cabe-nos o direito de aceitar sem contestação a lenda do camponês miserável, inculto (esta é uma outra história) e desprezado, que se impõe ainda em grande número dos nossos manuais de História?

Veremos que o seu regime geral de vida e de alimentação não oferecia nada que deva suscitar piedade.

O camponês não sofreu mais na Idade Média do que sofreu o homem em geral, em todas as épocas da história da humanidade.

Sofreu sim a repercussão das guerras, mas terão elas poupado os seus descendentes dos séculos XIX e XX?

Além disso, o servo medieval estava livre de qualquer obrigação militar, como a maior parte dos plebeus.

E o castelo senhorial era para ele um refúgio na desventura, a paz de Deus uma garantia contra as brutalidades dos homens de armas.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O nobre feudal estava submetido
às mesmas obrigações que o servo da gleba

A condição dos camponeses obrigava à proteção e deixava-os livres para trabalhar a terra de que acabaram ficando donos. Parada histórica em Pisa, Itália.
A condição dos camponeses obrigava à proteção e deixava-os livres para trabalhar a terra
de que acabaram ficando donos. Parada histórica em Pisa, Itália.
Luis Dufaur
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É oportuno notar-se que o nobre está submetido às mesmas obrigações que o servo, porque também em caso algum pode ele alienar o seu domínio, ou separar-se dele de qualquer forma que seja.

Nas duas extremidades da hierarquia encontramos essa mesma necessidade de estabilidade e fixação, inerente à alma medieval, que produziu a França e, de uma maneira geral, a Europa ocidental.

Não é um paradoxo dizer que o camponês atual deve a sua prosperidade à servidão dos seus antepassados, pois nenhuma instituição contribuiu mais para o destino do campesinato francês.

Mantido durante séculos sobre o mesmo solo, sem responsabilidades civis, sem obrigações militares, o camponês tornou-se o verdadeiro senhor da terra.

Só a servidão poderia realizar uma ligação tão íntima do homem à gleba, fazendo do antigo servo o proprietário do solo.

Se permaneceu tão miserável a condição do camponês na Europa oriental — na Polônia e em outros lugares — é porque não houve esse laço protetor da servidão.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Melhor mecânico do mundo
apreendeu com os “jeitos” da oficina familiar

Enzo ganhou o prêmio de melhor mecânico do mundo, e apreendeu o ofício em casa.
Enzo ganhou o prêmio de melhor mecânico do mundo, e apreendeu o ofício em casa.
Luis Dufaur
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Um mecânico de 24 anos ganhou o prêmio internacional concedido ao mais competente operário de oficina do mundo.

Trata-se de Enzo Malter, da cidade interiorana de Farias, na província argentina de Santiago del Estero. Ele já havia sido premiado como o mais competente da Argentina durante três anos consecutivos.

Enzo explicou ao jornal “La Nación” que é mecânico “desde sempre”, quer dizer, desde muito pequeno, quando ajudava seu avô, seu pai e seu irmão mais velho na oficina familiar em sua cidade natal.

Ele apreendeu a profissão fazendo pequenos serviços no local de trabalho familiar. Quando mudou para Córdoba, uma cidade bem maior e mais exigente, estudou no Instituto Renault e trabalhou numa oficina importante.

A mudança foi total porque consertava modelos novos. Mas a experiência adquirida “em casa” lhe abriu as portas de uma conceituada concessionária que, por sua vez, o encaminhou para cursos de capacitação.

Acabou ganhando o prêmio de melhor técnico nacional e foi convidado a se especializar na China.

Mas Enzo tem suas raízes profundamente deitadas na sua procedência. Ele segue ancorado às tradições do trabalho na oficina familiar, churrasco incluído. Nesse espírito inspira confiança até nos clientes mais exigentes e reclamadores.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A paz medieval, o comércio, as grandes cidades
e o dirigismo hodierno

Iluminura, jogo de Xadrez
Iluminura apresenta medievais num jogo de Xadrez
Luis Dufaur
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Pelo fim da Idade Média, a partir do século XII ou XIII, quando as guerras entre os feudos decaem, a Europa começa a conhecer uma relativa paz.

A ação dos cavaleiros andantes, no extermínio dos bandidos, acabou de desinfestar as estradas e o comércio começou a circular.

Ao mesmo tempo em que o comércio circula, as barreiras desses pequenos mundos se modificam.

E, concomitantemente, vão começando a formar-se aqui, lá e acolá, grandes cidades.

Vai surgindo nos vários reinos uma capital, o rei; e a figura do monarca se destaca.

Ele constitui uma corte, tudo caminha para a centralização.

E essa centralização vai do século XIII, numa marcha ascensional, até o século XVII e começo do XVIII, com Luís XIV na França.

E com reis que participaram um pouco do protótipo de Luís XIV, antes ou depois dele — como, por exemplo, o rei Felipe II, na Espanha, ou Pedro o grande e Catarina a grande, na Rússia etc. O que sucede então é que essa centralização transforma completamente o jogo das influências.

Luis XIV, rei centralizador afastou-se da harmonia social medieval, Hyacinthe Rigaud
Luiz XIV, rei centralizador afastou-se da harmonia social medieval.
Hyacinthe Rigaud (1659 - 1743). Museu do Louvre.
A corte de Luís XIV é paradigmática. Ela já não é a corte medieval.

O rei é o rei sol. Ele se considera o rei como se deve ser rei, o modelo perfeito e acabado do rei.

Uma nobreza, ao lado dele, que se considera e é tida por toda a Europa como modelo perfeito e acabado da aristocracia de salão.

Um conjunto de estadistas que a Europa reputa modelos perfeitos e acabados de estadistas do tempo.

Um conjunto de grandes damas que são o protótipo da elegância, da graça e da beleza feminina do século.

Até a cátedra sagrada entra nesse movimento, e aparece o grande orador sacro, como Bossuet.

E assim forma-se um centro, que é o centro modelar no qual se espelha toda a França, mas espelha-se também toda a Europa, em proporção maior ou menor.

Verifica-se então o fenômeno do afrancesamento da Europa.

Por toda parte vão ruindo as influências locais, os fatores característicos vão desaparecendo.

E aparece um centro dotado dos melhores técnicos, dos melhores especialistas em tudo, desde a arte de conversar até a arte de dirigir finanças, ou de dirigir exércitos, ou de ocupar a tribuna sagrada.

E este centro, imitado por todos, transforma a situação.

A vida, a propulsão social não vem mais da base para cima, mas vem do alto para baixo. É uma inversão da ordem medieval que pressagia maiores desastres.

A imposição de certos estilos e modos de ser de fora para dentro como sucede em shows atuais, vai transformando uma sociedade orgânica em massa

Napoleão, totalitarismo dirigista oposto à sociedade orgânica medieval
Napoleão Bonaparte encarnou o modelo de governante totalitário moderno
E essa orientação centralizadora, ao contrário do que parece, não cessa com a Revolução Francesa.

O Comité de Salut Publique teve uma influência centralizadora e uma soma de poderes muito maior que a de Luís XIV. Mas Napoleão teve uma soma de poderes maior que a do Comité de Salut Publique.

E em geral os historiadores e os juristas franceses estão de acordo em afirmar que um chefe de Estado francês de nossos dias tem, no fundo — é verdade que circunscrito pela lei — uma influência, uma capacidade de dirigir o corpo social muito maior que a de Luís XIV, no auge de sua glória.

Mudou o jogo de influências, passou-se da monarquia mais ou menos aristocrática para a democracia; nessa democracia, evidentemente, o rei passou a ser o povo.

E então, no mesmo centro dirigente, se passam as coisas de um modo um pouco diverso.

Em outros termos, há um conjunto de técnicos, há um conjunto de especialistas que disputam entre si a escolha da solução a ser dada aos problemas.

Eles são apoiados por sistemas de propaganda, têm a seu serviço a imprensa, o rádio, a televisão, o cinema, enfim, todos os meios comuns de propaganda. E, com isso, influenciam o eleitorado.

Manifestação socialista em Sydney: massa sem vida própria, dirigida pela propaganda
O totalitarismo das massas teleguiadas por líderes populistas ou socialistas
dominou e escureceu o horizonte do século XX
O eleitorado-rei decide a favor de uns ou a favor de outros, mas o impulso principal continua a vir da capital, de técnicos que afluíram para a capital, que se dissociaram dos respectivos centros de vida, que vivem da vida artificial da capital, que a partir da capital comandam a propaganda e obtêm, através das eleições, o mando necessário para realizar aquilo que desejam.

De maneira que, em última análise, a capital, com os seus valores cívicos, dirige de fora para dentro a sociedade; e os elementos regionais e locais vão cada vez mais perdendo a sua influência, perdendo a sua capacidade de movimentação.

O resultado dessa nova situação é a depauperação do homem contemporâneo. Cada um de nós tem a sensação de viver como um grão de areia isolado dentro da multidão.

Nós de tal maneira nos habituamos aos meios de propaganda — de tal maneira nos acostumamos a estímulos de fora de nosso espírito, de nossa mente, que nos oferecem material para pensarmos, para refletirmos etc. — que já se chegou à seguinte situação (para mim, a última palavra nessa matéria!): torcedores, em estádio de futebol, assistem à partida com o rádio ao ouvido, porque sem o auxílio de alguém que lhes diga o que está acontecendo (e que eles também estão vendo) não conseguem tomar uma atitude individual e própria em face do fato que se apresentou".

Imperador, Cardeal, nobres e populares discutem sobre a cidade: povo hierárquico vivendo na harmonía
Um imperador e um cardeal rodeados de populares
conversam sobre a cidade.
O Papa Pio XII estabeleceu magistralmente a diferença entre povo e massa na famosa radiomensagem de Natal de 1944:
"O povo vive e move-se por vida própria; a massa é em si mesma inerte e não pode mover-se senão por um elemento extrínseco.

"O povo vive da plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais — na sua própria posição e do modo que lhe é próprio — é uma pessoa cônscia das suas próprias responsabilidades e das suas próprias convicções.

"A massa, pelo contrário, espera o impulso que lhe vem de fora, fácil joguete nas mãos de quem quer que lhe explore os instintos e as impressões, pronta a seguir, sucessivamente, hoje esta, amanhã aquela bandeira".

(Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. VI, p. 239).


(Autor: Plínio Corrêa de Oliveira, "Catolicismo", maio de 2002)


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