segunda-feira, 15 de julho de 2024

A cidade de GENAZZANO: exemplo de urbanismo medieval pitoresco

Genazzano, A cidade medieval

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







As fotografias apresentam uma visão da cidadezinha de Genazzano, na Itália.

No centro, vêem-se o campanário e o corpo da igreja. Em torno dela, pode-se observar a localidade, que se "pendura" nas encostas de uma pequena montanha.

Chama a atenção o pitoresco do lugarejo, que foi outrora uma cidade fortificada, espécie de feudo dos príncipes Colonna.

No período das guerras feudais, teve que enfrentar várias dificuldades, diversos cercos. Em vista disso, a população procurava concentrar-se dentro da cidade, encostando-se as casas umas nas outras tanto quanto possível.

E como a fortificação, para defender-se com facilidade, localizava-se no alto da montanha, houve a necessidade de conceber as ruas o mais possível estreitas e com traçado sinuoso.

De maneira que é mais a rua adaptando-se ao modo pelo qual cada casa consegue pendurar-se no morro...

Daí o extremo pitoresco do urbanismo "genazzaniano", nascido organicamente das circunstâncias da época.

* * *

Genazzano, rua tipica, cidade medieval
As tortuosas ruas de Genazzano: o pitoresco e o original...


É interessante fazermos uma comparação entre esta cidadezinha medieval e o aspecto de uma cidade moderna.

Tal comparação ajuda a compreender a lógica do multissecular processo revolucionário.

À primeira vista, quem olhasse Genazzano poderia objetar:

"Aqui há um espaço mal aproveitado, a cidade não deveria ter sido construída nesse local.

As casas ficam se encostando, se acotovelando umas nas outras.

"A população fica mal servida quanto a espaços, as ruas são sinuosas, e portanto feias.

Não há um plano de conjunto.

Pelo contrário, caso se construa uma cidade dividida como um tabuleiro de xadrez, em quadradinhos, com espaço horizontal bem amplo, com grandes avenidas e um trânsito abundante passando por elas, a resultante será muito mais bela".

...contraste chocante com as avenidas de Brasilia e a monotonia de qualquer megalópole contemporânea.

Genazzano, A cidade medieval
Disso decorreria a banalidade que todos conhecemos.

Basta pensar um pouco nas grandes avenidas das megalópoles modernas e fazer a comparação com esta cidadezinha.

Genazzano é pitoresca, atrai por seu pitoresco e originalidade, cativando o observador a conhecê-la.

Pelo contrário, uma grande avenida, recurso urbanístico cosmopolita de qualquer megalópole do mundo atual, torna-se monótona, dando vontade de bocejar.

_______________

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 9/11/1988. Sem revisão do autor.




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segunda-feira, 1 de julho de 2024

Moradia: conforto físico e bem estar moral

Um recanto nas ruas de Warwick, Grã-Bretanha
Um recanto nas ruas de Warwick, Grã-Bretanha
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Comparar é um dos melhores meios de analisar.

Se queremos, pois analisar nossa época, é legítimo que a comparemos.

E com o que? Com o futuro, ainda incógnito, é impossível, pois objetos desconhecidos não podem servir de termo de comparação.

Logo, a comparação só pode ser com o passado.

Uma das mais notáveis utilidades da História consiste precisamente nisto: apresentar-nos uma fiel imagem do passado, a fim de que melhor conheçamos o presente.

E fazer tal comparação não é ser saudosista. É ser claro, prático, direto no nobre exercício de espírito que é a análise.

Habitações populares num bairro moderno, Manaus, o conjunto residencial Manoa II
Habitações populares num bairro moderno, Manaus, o conjunto residencial Manoa II
As habitações populares atuais, parecidas com as que existem em tantas e tantas cidades modernas, no mundo inteiro, constituem um grupo de 3.500 residências de concreto, com cinco quartos cada.

Que tesouros de técnica e ciência em tudo isto!

O concreto é um material de construção resultante de uma longa evolução prática e científica.

Em cada uma destas vivendas, a ciência tornou possíveis as vantagens da água corrente, da luz elétrica, do gás, o passatempo do rádio e da televisão, o conforto do telefone.

Deste ponto de vista, que imensa transformação em confronto com as casas antigas de Warwick, as deficiências higiênicas, as dificuldades de vida, e sob alguns pontos de vista o desconforto físico que nelas sentiria por certo qualquer habitante de cidade contemporânea!

Entretanto, de outro lado, que desconforto psíquico nestas moradias modernas, com sua estandardização desumana, a monotonia e a severidade de suas massas retangulares e sombrias, que fazem de cada vivenda uma carranca, que desabrigo atrás das paredes destas casas, abertas a todos os olhos, a todos os ruídos, quiçá a todos os ventos!

Rua de casas populares em Warwick, vista da torre do castelo
Rua de casas populares em Warwick, vista da torre do castelo
Compare-se a esta frieza de linhas e de substância – nada mais “frio” que o cimento – o recolhimento, o aconchego, a harmonia das casas velhas de Warwick.

Ali, cada uma das casas parece considerar o transeunte com um plácido sorriso impregnado de bonomia familiar, e conter em si o calor de uma vida doméstica animada e rica em valores morais.

Warwick, casa para aposentados e viúvas
Warwick, casa para aposentados e viúvas
Casas simples, despretensiosas, e agradáveis de se ver, imagem da própria existência quotidiana de seus habitantes.

Casas obedecendo a um mesmo estilo, mas tendo cada uma sua nota de originalidade, discreta e vivaz.

Aproximados os termos da comparação, a conclusão é lógica.

Quanto ao conforto do corpo, podemos estar mais bem servidos com as residências do tipo moderno – pelo menos quando têm cinco bons quartos como estas.

Mas do ponto de vista do conforto da alma, quanto perdemos!

Seria possível harmonizar num estilo novo ambos os confortos, da alma e do corpo?

O estilo é muito menos produto de um homem, ou de uma equipe de homens, do que de uma sociedade, uma época, uma civilização.

Não cremos que este estilo apareça sem que previamente o mundo de hoje se tenha recristianizado.

E é para preparar este mundo novo fundamentalmente católico, que olhamos com amor estas lembranças do passado cristão de nossa civilização.

Warwick: conjunto de casas que sobreviveu a um incêndio
Warwick: conjunto de casas que sobreviveu a um incêndio

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, “Catolicismo” Nº 46 – Outubro de 1954)


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segunda-feira, 17 de junho de 2024

Bulício na rua, aconchego no lar:
agradáveis contrastes da vida medieval

Mercado medieval, séculos XII-XIII
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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Uma coisa magnífica na Idade Média é o contraste entre, de um lado, os remansos e de outro lado a atividade, a luta e até a aventura.

Nunca houve tanta atividade, tanta luta, tanta aventura como quando houve remanso.

As ruas das cidades da Idade Média viviam repletas, borbulhando de atividade.

Todos os andares térreos com comércios, anúncios, gente gritando para vender mercadorias, falando alto, brigaria.

As ruas eram movimentadíssimas.

Mas nas casas que bordejavam as ruas, de um lado e de outro, logo na primeira sala se estava psicologicamente a mil léguas da rua.

Não eram como as casas de hoje que têm um janelão que dá para a rua e a pessoa no quarto de dormir se sente na rua.

Mas eram aquelas casas de paredes grossas ‒ parede grossa tem um efeito psicológico tremendo ‒ com umas janelas com onde o peitoril é larguíssimo, com banquinho de um lado e de outro para colocar almofada.

Móveis medievais, Museu de Arte decorativa, Paris
Móveis medievais, Museu de Arte decorativa, Paris
Podemos imaginar uma família sentada de um e outro lado da janela para aproveitar a luz que entra, e lendo um livrão.

E um jarrozinho de flor ainda no peitoril da janela.

Porta de casa medieval. Museu de Arte decorativa, Paris
Umas tulipas, uma coisa qualquer iluminada pela luz que entra, e a rua psicologicamente a léguas.


Os vidros das janelas eram tipo fundo de garrafa, de maneira que o ambiente da casa já ressumia intimidade a poucos centímetros da rua onde está havendo toda aquela barulheira.

Depois, noites calmas e muito recolhidas.

Os bandidos prestavam este serviço: todo mundo tinha medo de sair por falta de iluminação e por causa deles.

Então, fora ruge o perigo, mas dentro, as casas têm portas com dobradiças de metal e trancas aferrolhadas.

De maneira que a pessoa ouve lá fora os bandidos e o guarda que vai correndo atrás deles, se sentido inteiramente seguro em casa.

Dentro, cada um se sente aconchegado, com um carapução e bebendo um chá de losna, com pantufas, junto á lareira que está acesa, enquanto um qualquer vai lendo a história dos antepassados, mesmo nas famílias plebeias. Ou lendo o Evangelho e a vida dos Santos.

Tem-se aquela sensação de tranquilidade...

Quarto de dormir da Idade Média, Museu de Arte Decorativa, Paris.
No silêncio da noite, o guarda passa cantando canções religiosas para avisar todo mundo que ele está por perto...

Eu aprendi em menino uma canção em alemão que dizia:

“Ouvi, senhor, e permiti que Vos cante que nosso relógio deu doze horas. Meia noite. Doze apóstolos no mundo. Ó homem quanta vigilância isto representa para teu coração”.

Tudo isto, ouvido no isolamento da casa onde mora muita gente, e gente intimamente imbricada pela solidariedade familiar, dá uma atmosfera de aconchego, de calor, de placidez, que é propriamente o remanso dentro da vida familiar.

É um remanso gerado pela reta vida estática, e não é uma paradera de morte.

(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 29/4/67. Sem revisão do autor.)


Vídeo: dormitório medieval com peças de época




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segunda-feira, 3 de junho de 2024

Maravilhosa estabilidade ideal para a vida espiritual

Cozinheiros. Vitral da catedral de Chartres
Cozinheiros. Vitral da catedral de Chartres
Luis Dufaur
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Na Idade Média descia uma luz sobrenatural sobre o bom senso do pequeno burguês, do operário qualificado ou não qualificado, do pedreiro que passa cinco anos cinzelando uma volta de uma coluna, sem pressa, sem aflição, sem nada, e que termina na hora em que se reza o Angelus.

Ele termina, guarda seus instrumentos de trabalho, vai para casa direto, sem ficar borboleteando pelas ruas nem indo atrás de mulhericas, encontra sua esposa que está preparando o jantar.

Ele se senta, os filhos se põem em torno dele, trazem-lhe uns chinelões bons para pés de elefantes, ele calça aquilo e começa então a doutorar lá, e contar; depois lê um trecho da Escritura, etc.

Uma coisa tocante que naquele tempo se fazia: toda casa, por mais modesta que fosse a família, escrevia seu livro de história, em que se registrava o que aconteceu.

Então, hoje nasceu Carlinhos, filho da Maria e do Pedro pedreiro, ele é forte, tem não sei o quê... mas nasceu com o nariz torto. Não tinha remédio.

Mais adiante: “Fulano e o irmão dele foram despedidos do emprego. Ele foi ato contínuo contratado para ir servir em Valença, no condado de Barcelona. Mas antes de ir ele quer fazer uma peregrinação a tal lugar assim da Itália, depois voltará e deve estar em Barcelona em tal data”.

De tudo que acontecia iam tomando nota, e de vez em quando, nas longas noites de inverno em que anoitecia cedo, e levava muito tempo para o pessoal dormir — não tinha televisão — lia-se o livro de memórias familiares do passado.

Eu acho muito bonito. Essa estabilidade eu acho maravilhosa.

Eu ainda peguei muito a estabilidade do povinho, porque em frente de minha casa na rua Barão de Limeira, no início do século XX, havia todo um renque de casas operárias misturadas com as casas das melhores famílias de São Paulo.

Tintureiros. O aprendiz aprende o ofício auxiliando o mestre. Vitral dos Apóstolos, catedral de Chartres, França.
Tintureiros. O aprendiz aprende o ofício auxiliando o mestre.
Vitral dos Apóstolos, catedral de Chartres, França.
Eu via os operários viverem. E achava a vida deles muito mais sossegada que a nossa.

Sempre que eles entravam em casa, entravam pé ante pé, devagar.

Em geral eu entrava na minha casa, subia a escada de dois em dois, e mal chegava em cima já ia tirando a chave e abrindo para fazer não sei o quê, porque tinha não sei o quê. E eu que sou amigo do sossego, suspirava e dizia: “Afinal, aqueles homens lá não ficam com o melhor da vida?”

No fundo era uma forma de recolhimento. E esse recolhimento estabelecia um nexo do que há de mais alto, de mais sobrenatural com as coisas menores e mais sem importância.

Vamos dizer, uma dona de casa preparando as malas dela para ir passar uma temporada de férias na casa de uma prima. E ela, enquanto se prepara, se lembra de Nossa Senhora preparando a viagem para visitar Santa Isabel e fica pensando na Visitação.

Depois, antes de ir embora, pede a Santa Isabel que proteja a viagem e sai. Tudo isso é densamente impregnado de perfume sobrenatural.

Imaginemos um homem que, por exemplo, frita linguiças na porta de entrada de algum local para vender ao público.

Qual é a diferença entre o medieval e o homem moderno?

É que o medieval, enquanto fritava a linguiça, no interior da alma ficava considerando horizontes internos, proporcionados ao trabalhador manual, mas sempre mais amplos, e nisto era insaciável.

Do meio desse povo, Nossa Senhora selecionava e chamava para horizontes mais insaciáveis alguns que não necessariamente iam ser mártires, mas poderiam ser professores, ou pregadores como São Luís Grignion de Montfort!

Então, o que é que era necessário em qualquer uma das categorias da ordem medieval?

O que era preciso é que cada um na sua condição, sem ter a ambição de se promover, cultivasse as mais altas cogitações e quisesse fazer do modo mais perfeito aquilo que é próprio à sua profissão.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 28/2/91. Sem revisão do autor)


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