segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Doce e sobrenatural paz dos mercados natalinos

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Longe da banalidade comercial, o sorriso sobrenatural do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo enchia de alegria suave e de aconchego as praças de cidades e aldeias, de palácios e choupanas da Idade Média.

A tradição, embora deformada, pervive até hoje.

Trata-se das feiras de Natal que ainda dominam em cidades alemãs, austríacas, alsacianas, etc., na Europa.

Elas constituem um eco saudoso, requintado em épocas posteriores, do Natal medieval.

Cheiro de ervas, amêndoas torradas, vinho, cravo, canela, incenso e resina de pinheiro.

Enfeites natalinos que falam não ao corpo mas à alma nos fazem reviver as profundas alegrias da infância.

Alegrias que a festa do nascimento do Menino Jesus reaviva em toda alma reta.

Luz de vela, utensílios de madeira: tudo relembra o aspecto material rude da Gruta de Belém.

Ao mesmo tempo, parece ecoar a insondável luz sobrenatural da graça, do cântico dos anjos, da alegria ingênua e enlevada dos pastores, do maravilhamento entusiasmado dos Reis do Oriente diante do Menino Deus.

Rudes também foram os tempos medievais em que começou a se definir a tradição das feiras de Natal. Foram tempos de invasões pagãs, de Cruzadas...

Mas foram tempos em que homens rudes como um Carlomagno, imperador e guerreiro, vertiam lágrimas de ternura e veneração ajoelhados aos pés do presépio.

Então tornava-se realidade palpável o cântico dos anjos: Glória a Deus no alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade!



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segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Aldéia medieval: modelo de condomínio bem sucedido

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
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Turenne, França

Segurança, prédios duráveis, inversão garantida, entorno saudável, harmonia prédios-natureza, beleza panorâmica, vizinhança sociável, local psicologicamente aprazível e até dimensão espiritual, são requisitos de um bom condomínio.

Encontrá-los reunidos na justa proporção é coisa rara e custosa.
Frigliana, Espanha

Uma empreendedora descobriu que todos eles estão presentes nas cidades e aldeias medievais.

Lançou então um projeto que espelha os povoados espanhóis da Idade Média.

O Conjunto Residencial Sopetrán foi planejado em volta do mosteiro de Hita, Guadajalara (Espanha).

A “cidade medieval do século XXI”, planeja 325 casas cujo exterior reproduz as construções de há 1.000 anos, mas o interior contêm todo o conforto hodierno.


O mosteiro de Hita, fundado no ano 611, agora em ruínas, será centro cultural.

O condomínio terá áreas deportivas, gastronômicas e lúdicas.

Estaing, França
O empreendimento foi saudado na Espanha como um triunfo da imaginação na hora em que se esgotam as ideias na área de construção.

Eguisheim, Alsácia, França


Kaiserberg, Alsácia, França





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segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Feeria de cores e sons da Paris medieval

Paris, Quai des Grands Augustins
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Por mais admirável que vos pareça a Paris do presente, refazei a Paris do século XV, reconstruí-a em vosso pensamento; olhai o dia através deste renque surpreendente de agulhas, de torres e de campanários, espalhai-o no meio da imensa cidade, rasgai-o nas pontas das ilhas, dobrai-o sob os arcos das pontes do Sena, com suas grandes manchas verdes e amareladas, mais mutável que uma pele de serpente, destacai nitidamente sobre o horizonte azulado o perfil gótico dessa velha Paris, fazei flutuar o contorno em uma bruma de inverno que se agarra em suas numerosas chaminés.

Notre Dame no anoitecer
Afogai-o em uma noite profunda, e olhai o jogo bizarro das trevas e da luz nesse sombrio labirinto de edifícios; jogai aí um raio de lua que o delineie vagamente e fazei sair do nevoeiro as grandes cabeças das torres, ou retomai essa negra silhueta e escurecei de sombra os mil ângulos agudos das flechas e dos pinhões dos telhados e fazei-a sobressair, mais rendada que um pescoço enlutado, sobre o céu de cobre do poente.

E, depois, comparai.

E se vós quiserdes receber da velha cidade uma impressão que a moderna não vos pode dar, subi, numa manhã de grande festa, ao sol levante da Páscoa ou de Pentecostes, subi até algum ponto elevado de onde domineis a capital inteira, e assisti ao despertar dos carrilhões.

Vede, a um sinal partido do céu, porque é o sol que o dá, essas mil igrejas estremecerem ao mesmo tempo.

Primeiro, tinidos esparsos, indo de uma igreja à outra, como quando os músicos se avisam que vão começar; depois de repente vede – porque parece que em certos instantes o ouvido tem também sua vista – elevar-se, no mesmo momento, de cada campanário uma coluna de barulho, como uma fumaça de harmonia.

Clique para ouvir o antigo carrilhão das horas em Notre Dame de PARIS:


Antes, a vibração de cada sino sobe reta, pura e por assim dizer isolada dos outros nesse céu esplêndido da manhã.


Depois, pouco a pouco crescendo, elas se fundem, misturam-se, desfazem-se umas nas outras, amalgamam-se em um magnífico concerto.

Clique para ouvir os sinos da torre norte da catedral de Notre Dame de PARIS:


Não é mais senão uma massa de vibrações sonoras que se desprende sem cessar dos inumeráveis campanários; massa que flutua, ondula, salta, turbilhona sobre a cidade, e prolonga bem além do horizonte o círculo ensurdecedor de suas oscilações.

Contudo, esse mar de harmonia não é de nenhuma maneira um caos. Por maior o mais profundo que seja, ele não perdeu sua transparência.

Clique para ouvir o Bourdon (o sino mor) da Catedral Notre Dame de PARIS:


Vede-os serpentear à parte cada grupo das notas que escapa dos toques; podeis seguir o diálogo, alternadamente grave e agudo, do pequeno e do grande sino; vedes saltar as oitavas de um campanário a outro; lançando-se aladas, ligeiras, murmurantes do sino de prata, e caindo quebradas e claudicantes do sino de madeira; admirais no meio delas a variedade rica que desce e sobe sem cessar dos sete sinos de Saint-Eustache; vedes correr no meio de tudo notas claras e rápidas que fazem três ou quatro zig-zags luminosos e desaparecem como relâmpagos.

Notre Dame na noiteAli é a abadia Saint Urtin, cantora amarga e desafinada; aqui, a voz sinistra e rouca da Bastilha; na outra extremidade, a larga Torre do Louvre, com sua terceira voz.

O carrilhão real do Palácio lança sem descanso de todos os lados trilhas resplandecentes sobre as quais caem a tempos iguais os pesados golpes da torre de Notre-Dame, que as fazem faiscar como a bigorna sob o martelo.

Por intervalos vedes passar sons de toda forma que vêm do tríplice carrilhão de Saint-Germain-des-Prés.

Após, ainda de tempos em tempos, essa massa de barulhos sublimes se entreabre e dá passagem a parte final da Ave Maria que estoura e corusca como uma ‘aigrette' de estrelas.

Abaixo, no mais profundo do concerto, distinguis confusamente o canto interior das igrejas que transpira através dos poros vibrantes de suas ogivas. Certamente, essa é uma ópera que vale a pena ser escutada.

Notre Dame no amanhecerHabitualmente, o ruído que sai de Paris de dia, é a cidade que fala; da noite, é a cidade que respira; aqui é a cidade que canta.

Atentai a esse ‘tutti’ dos campanários, espalhai sobre o conjunto o murmúrio do meio milhão de homens, o queixume eterno do rio, o sopro infindo do vento, o quarteto grave e longínquo das quatro florestas dispostas sobre as colinas do horizonte como imensos tecladas de órgão, extingui assim em uma meia-voz tudo o que o carrilhão central teria de muito rouco e muito agudo, e dizei se conheceis no mundo alguma coisa de mais rico, de mais alegre, de mais dourado, de mais resplandecente do que esse tumulto de sinos e de torres; do que essa fornalha de música; do que essas dez mil vozes de bronze cantando ao mesmo tempo em flautas de pedra, altas de trezentos pés.




(Fonte : Victor Hugo, « Notre Dame de Paris », Garnier-Flammarion, 1967, pp. 158 ss.);





Sinos gloriosos e triunfantes da Igreja Mãe de Paris
Primeira execução oficial dos sinos restaurados em 31.03.2013, Domingo de Páscoa (ficaram intactos no incêndio de 2019)







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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Professor medieval: cavaleiro andante no mundo do pensamento

Luis Dufaur
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Eu peguei restos de uma concepção do homem que vai espantar muito aos senhores.

A mais bela condição para o homem civil era ser professor universitário.

Mas professor universitário especialmente, porque ele era uma espécie de cavaleiro andante no mundo do pensamento.

Então, ele ia refutar os sofismas abomináveis, e ia esmagar os hereges mostrando que estavam falsos nisso, naquilo, naquilo outro, e passava a vida pensando nisto e combatendo os inimigos de Cristo com o pensamento.

Bom, o arquétipo disso foi São Tomás de Aquino.

Hoje seria um exagero estender a figura de São Tomás de Aquino a todos os professores universitários.

Mas, na Idade Média não, porque ele encarnava um ideal que muitos professores universitários procuravam seguir.

O professor universitário que não vara com a espada os inimigos da fé, mas vara com a argúcia da inteligência os erros contrários à fé, ele forma alunos que são por sua vez capazes de perfurar as heresias, e assim construir as muralhas de pensamento que defendem a fé.

Então, ele é mais ou menos do que o guerreiro?

Aos professores Nossa Senhora chamou para horizontes mais insaciáveis.

São Tomás de Aquino, até onde ele foi? E quanto outros, não é verdade?

O que é preciso é que cada um na sua condição e sem ter a ambição de se promover, tenha as mais altas cogitações e queira fazer do modo mais perfeito aquilo que é próprio à sua profissão.



(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 28/2/91. Sem revisão do autor)




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