segunda-feira, 12 de julho de 2021

As estirpes ordenaram os homens que fugiam do caos

Conceito medieval da família: a árvore genealógica e a continuidade familiar
A estirpe familiar dá continuidade ao espírito dos primeiros pais ao longo de gerações.
A árvore genealógica registra essa continuidade familiar
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Continuação do post anterior: A família organizou a vida social e os países



A teoria de Funck-Brentano sobre a origem do Estado francês não é muito clara porque carece de um elemento que trataremos agora.

Pois a Inglaterra, ao tempo em que o feudalismo nascia por esta forma, era invadida pelos normandos, e já antes destes pelos anglo-saxões.

Lá encontraram uma população de celtas, que tinham o nome de bretões, donde provém a Bretanha de nossos dias.

Os celtas, que eram cristãos, foram derrotados e sumariamente expulsos pelos invasores, os quais converteram-se e deram origem à Irlanda e ao País de Gales, onde até hoje fala-se um resquício da língua céltica.

As tribos celtas, esmagadas, recuaram diante dos agressores e fixaram-se durante algum tempo na Escócia.

Tendo um destino tão parecido com o das tribos francas, diante da mesma desgraça, obrigadas a fugir da mesma forma, não reagiram contudo do mesmo modo.

Eles não se fixaram de maneira a dar origem ao sistema feudal, mas deixaram-se abater, romperam com a Igreja Católica, caíram no cisma, e nada produziram que prestasse, senão seus remotos descendentes, o País de Gales, a Irlanda e a Bretanha.

Nada de grande como o feudalismo nasceu daí.

Frederico de Sonneburg. Codex Manesse
O paterfamilias vê nos filhos a continuidade da estirpe,
seja nobre, burguesa ou operária.
Frederico de Sonneburg. Codex Manesse
As nossas tribos índias, vivendo perdidas no meio da natureza bravia e indiscutivelmente hostil do Brasil, também não produziram feudalismo algum.

Dizer que a desgraça provocou o feudalismo seria o mesmo que afirmar que o florescimento da Igreja nascente deveu-se às perseguições: perseguidos, os católicos reagiram; reagindo, tiveram zelo; e com isto dominaram o mundo pagão antigo.

É uma explicação por demais mecânica, automática.

Há uma sociedade, sopra um tufão, destrói tudo; todos se reúnem nos lugares ermos, e ali nasce o feudalismo...

Quem afirmaria que a única atitude possível desses povos era realmente reagir e constituir uma célula viva em cada lugar?

Quem afirmaria que eles tinham certamente de produzir em cada refúgio um homem de valor, que fundasse uma estirpe capaz ela mesma de continuar a sua obra?

Quem afirmaria que eles teriam pujança de engenho suficiente para reconstituir uma fecundidade sobre terras em extremo pobres, e daí provocar outro impulso social?

Quem afirmaria que eles teriam tato bastante para, desaparecidas as circunstâncias, manterem a autonomia familiar, em lugar de se deixarem devorar pelo Estado?

Estamos diante de um dos fatos primordiais da história da humanidade.

Quando estas tribos semi-civilizadas foram empurradas para o alto dos montes e para detrás dos pântanos, começou a nascer uma série de estirpes.

E este é o fato que Funck-Brentano não acentua suficientemente.

Uma estirpe é algo muito diverso de uma família.

O que é uma família? É a conjunção de pai, mãe e filhos.

Basta haver pais legitimamente casados para que haja família.

Estirpe, contudo, é bem diverso.

A língua francesa, que é muito precisa, fala em source, ou seja, fonte, origem.

Os filhos são a promessa da continuidade. E não só da família, mas da sociedade como um todo
Os filhos são a promessa da continuidade.
E não só da família, mas da sociedade como um todo.
Sem estirpes o tecido social se decompõe.
Eles tanto dizem source de uma família quanto source de um rio.

O que vem então a ser a source de uma família?

O que é um homem-estirpe?

Aquele que funda uma estirpe é um homem com personalidade bastante vigorosa para criar uma família que mantém a hereditariedade de seus principais traços morais e físicos.

É um homem que dá aos seus uma formação suficientemente forte para que o impulso inicial que ele comunica a uma determinada ordem de coisas continue depois dele.

É um homem que funda uma escola de modo de sentir, de agir, de ser, de vencer dificuldades, que funda um pequeno sistema de vida.

Eu afirmo que é preciso ter muito mais personalidade para fundar uma estirpe do que para governar um Estado.

Isto, qualquer político o faz.


Mas para fundar uma estirpe é preciso ter uma personalidade pujantíssima; e para que ela seja lançada em sentido sadio, é preciso que seja pujantemente sadia.

O admirável neste momento da história europeia é que essas famílias, escorraçadas, banidas, lançadas ao sumo infortúnio, reagem; e formam-se estirpes por toda parte, as estirpes nobres da Europa.

Essas estirpes que nascem, e que vão marcar mil anos de História, nascem no infortúnio o mais atroz.

Pelo seu vigor natural, e sobretudo pela correspondência que seus membros deram à graça de Deus, a família abandonada, isolada, deu origem à família nobre, e o conjunto das famílias nobres deu origem à Europa.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário! Escreva sempre. Este blog se reserva o direito de moderação dos comentários de acordo com sua idoneidade e teor. Este blog não faz seus necessariamente os comentários e opiniões dos comentaristas. Não serão publicados comentários que contenham linguagem vulgar ou desrespeitosa.