quinta-feira, 1 de julho de 2021

A família organizou a vida social e os países

Fugindo dos bárbaros no caos do fim do Império Romano, os restos de civilização se reuniram em torno de empalizadas. A família era a alma da resistência
Fugindo dos bárbaros no caos do fim do Império Romano,
os restos de civilização se reuniram em torno de paliçadas.
A família era a alma da resistência
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Continuação do post anterior: A família nas origens da civilização



No início da Idade Média, os homens mais civilizados, horrorizados com a invasão dos bárbaros, começaram a galgar os montes e montanhas, fixando-se nos pontos menos acessíveis.

De tal modo que os normandos passando pelas vias fluviais não tivessem vontade de atingi-los.

Começaram, por outro lado, a fixar culturas e a construir casas por detrás dos pântanos, nos lugares chamados marécage, zonas pantanosas atrás das quais há regiões férteis.

No topo dos morros para escapulir dos bárbaros, passaram a construir defesas com pedras.
No topo dos morros para escapulir dos bárbaros,
passaram a construir defesas com pedras.
Os bárbaros, que percorriam os caminhos das grandes cidades, não os encontravam, por estarem escondidos por detrás dos pântanos, nas montanhas, nas regiões as mais inóspitas.

Eram fugas desordenadas, levadas a efeito pelo pavor.

Por isso fugiam, não cidades inteiras, mas grupos de famílias.

E cada qual para onde podia.

Em presença da rudeza da natureza e dos adversários que os atacavam de todos os lados, não tendo mais um Estado que os governasse.

Os reis, fracos e sem nenhum poder, não podiam fazer chegar suas ordens a esses lugares absolutamente recônditos que ficaram reduzidos à célula inicial da sociedade, a família.

Esta foi a organização natural primeira que lhes permitiu sobreviver.

A “motte” medieval feita primeiro de paliçadas foram as primitivas “fortalezas” para proteção dos agrupamentos familiares iniciais.

Conselho Municipal de El Roncal. Joaquín Sorolla, 1914.
O paterfamilias chefiou agueles grupos humanos.
No quadro, preside o Conselho Municipal de Roncal, Espanha.
(Joaquín Sorolla, 1914).
Apareceu então o paterfamilias, ou patriarca, desta célula familiar que era ao mesmo tempo um pequeno exército, uma pequena unidade religiosa, um pequeno núcleo de produção, constituindo em cada ponto do território um pequeno país.

Em cada um destes grupos sociais, o paterfamilias, em geral de envergadura maior, tomava a direção.

Ele era o suporte natural daquela coletividade em debandada.

Era um homem de personalidade muito ampla, dotado do poder de chefiar, da perspectiva dos perigos, da capacidade de organizar, e no qual todos encontravam ponto de apoio.

Ele organizava a vida.

Sua prole herdava suas qualidades e herdava suas funções.

Em torno deste homem e desta família princeps começaram então a se aglutinar as famílias dos fugitivos, constituindo pequenas unidades sociais, que eram naturalmente monárquicas e familiares.

Monárquicas pela presença de uma autoridade única inquestionável; familiares porque, em essência, o que havia era o chefe de uma família com sua grei alargada.

A esses se somavam os agregados que ali entravam como pessoas admitidas, toleradas, semi-assimiladas, mas que não constituíam propriamente a essência daquela unidade, que se consubstanciava no chefe e na sua família.

Funck-Brentano dá-nos uma descrição em extremo pitoresca – no que ele é exímio – de uma dessas pequenas aldeias de tipo fundamentalmente familiar, que vai se formando.

As famílias cresciam, diversificavam as funções e assimilavam pelo casamento outras pessoas
As famílias cresciam, diversificavam as funções
e assimilavam pelo casamento outras pessoas
Ele descreve o pitoresco dos primeiros trabalhos, a derrubada das árvores centenárias, a construção das primeiras choupanas, o primeiro aproveitamento do solo, as primeiras colheitas, as primeiras batalhas, o pequeno exército familiar que sai à luta, em defesa de uma família vizinha ou contra uma horda bárbara que se aproxima, a pequena indústria que vai nascendo das mãos da família.

Começa a produção das armas, as mulheres tecem, aparecem certas criações, como a das abelhas.

Tudo isto faz de cada família um pequeno mundo, e no centro está o chefe.

Onde está o Estado? Quase não existe.

Todas as funções que lhe são próprias, exerce-as o chefe da família.



Continua no próximo post: As estirpes ordenaram os homens que fugiam do caos



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