segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Por que os filhos parecem com os pais
As forças misteriosas da hereditariedade

No ambiente familiar se transmite um espírfito único de geração em geração, Hugo Engl (1852 - 1926). Wikimedia Commons
No ambiente familiar se transmite um espírito único de geração em geração,
Hugo Engl (1852 - 1926). Wikimedia Commons
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Continuação do post anterior: No feudalismo os povos florescem e saem do caos



Num discurso à nobreza romana, Pio XII fala das forças misteriosas da hereditariedade.

São misteriosas, de fato, pois que até hoje os biologistas não conseguiram definir satisfatoriamente as regras que presidem a hereditariedade.

Mas ela é um fato, e muito importante, constatado sob mil aspectos diversos.

Cada homem traz dentro de si várias hereditariedades.

Somos a resultante biológica de um sem número de correntes de vida, que vieram ter em nós o seu ponto de encontro.

Assim como numa lagoa existem águas de diversos rios que nela desembocam, assim existem em nós essas hereditariedades.

Somos recipientes em que várias correntes do passado se fundem.

O pintor John Singleton Copley e três gerações de sua família (1738 – 1815)
O pintor John Singleton Copley e três gerações de sua família (1738 – 1815)
A hereditariedade física, em primeiro lugar, que se atesta pela semelhança dos traços, pela transmissão da saúde e dos defeitos, da beleza e da feiúra, da graça ou do emburramento, da elegância ou do desengonçamento.

Tudo são hereditariedades.

Conhecemos certas famílias que timbram pelo bom gosto no trajar-se; outras, pelo mau gosto.

Um exemplo bem descrito é a família Guermantes-Courvoisier, de Marcel Proust, que estava sempre na penúltima moda.

Tudo isto, embora muito relacionado com a hereditariedade física, o está ainda mais com a mental.

Deus cria as almas para os corpos, e cada uma é criada com adequação para um determinado corpo.

Assim, havendo hereditariedade física, Deus a respeita, criando almas hereditariamente semelhantes aos corpos que irão nascer.

Se bem que a alma não seja transmitida dos pais para os filhos, mas infundida por Deus, há uma continuidade na sua obra.

Pode-se atestar numa família uma série de disposições de alma, puramente espirituais, mas também ligadas a este fenômeno da hereditariedade.

Temos então uma realidade que na família atravessa gerações: a transmissão de um conjunto de predicados físicos e morais.

Essa transmissão é o primeiro núcleo daquilo que se chama tradição.

Tradere significa entregar; é o que se transmite, o que se entrega.

O espírito familiar nasce naturamente em qualquer parfte onde há família, como esta indo a Missa em algum lugar da antiga Rússia. Sergei Ivanov (1864-1910) Wikimedia
O espírito familiar nasce naturalmente onde há família,
como esta indo a Missa em algum lugar da antiga Rússia.
Sergei Ivanov (1864-1910) Wikimedia
O primeiro dado da tradição é a transmissão de caracteres físicos e morais.

A hereditariedade e o ambiente

Esta transmissão de caracteres físicos e morais é acentuada pelo ambiente.

Suponhamos que eu, comentou o Dr. Plinio Correa de Oliveira, que tenho uma inclinação natural para a advocacia, tendo nascido numa família de advogados, fosse transplantado artificialmente para uma de financeiros, que entende de preço de sapatos, qualidade de graxas, alta dos couros, etc.

Eu teria me tornado um ser meio engarrafado, porque as aptidões naturais que em mim jazem em estado germinativo teriam ficado sem a possibilidade de se expandir.

No momento em que eu quisesse fazer um rodeio de frases bem feito, uma argumentação sutil, não encontraria nas graxas e nos sapatos matéria para tal.

Eu precisaria conversar e interessar-me pelas graxas, ficando meio contaminado pela sua sujeira.

O resultado é que eu poderia talvez até dar um bom comerciante de graxas, mas haveria algo de irremediavelmente trincado em minha pessoa.

As forças profundas de minha hereditariedade pediam que eu fosse advogado, intelectual, mas as circunstâncias da vida teriam esmagado este apelo do meu ser, e me imposto uma personalidade artificial.

As famílias dotadas para governar bem são essenciais para um bom governo. O rei Luis XIV e familia. Atribuido a Nicolas de Largillière  (1656 – 1746),  Wallace collection
As famílias dotadas para governar bem são essenciais para um bom governo.
O rei Luis XIV e familia. Atribuido a Nicolas de Largillière  (1656 – 1746),  Wallace collection

Como, pelo contrário, fui educado numa família de advogados, os meus pendores naturais tiveram expansão, e pude realizar-me.

Tudo o que em mim havia em estado germinativo desabrochou, floresceu, e realizou o pouco que podia realizar.

Num ambiente de família onde existe hereditariedade de alma, de corpo e de atmosfera moral, encontramos todo um ambiente espiritual que acentua o efeito da hereditariedade, obrigando a pessoa a dar absolutamente tudo quanto tem.

Mas a hereditariedade é uma força cheia de mistérios.

Tem exceções, é próprio dela ter exceções, às vezes até gloriosas.

Há homens que brilhantemente rompem a crosta das disposições familiares, para virem a ser algo muito mais alto.

Mas a regra geral permanece intacta.



 Continua no próximo post: A tradição familiar, as estirpes e o governo do Estado




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2 comentários:

  1. Muito interessante esse texto!
    Alguns têm uma hereditariedade feliz! Outros, não, infelizmente.
    Fico pensando nos casos de barriga de aluguel, onde as crianças depois de nascidas. crescem em famílias, às vezes, com aptidões diferentes daquelas dos bebês. Quantos casos desses não devem ter sido desastrosos para as crianças "adotadas".

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  2. Tem uma palestra interessante que fala da hereditariedade sob o ponto de vista espiritual ou místico. Falo da palestra do exorcista americano Fr. Chad Ripperger. Vejam!

    The 6th Generation: Generational Spirits: Lost Generation to the One Current~ Fr Ripperger
    https://youtu.be/XC_hJywMUQ8

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