terça-feira, 31 de outubro de 2017

Desigualdade proporcionada e harmônica das classes na direção da sociedade

Cardeal da Igreja Católica
Cardeal da Igreja Católica
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






A Igreja Católica, na Civilização Medieval, manteve o regime das classes sociais diferentes, reconhecendo a existência de um clero, uma nobreza e um povo.

Mas ao mesmo tempo que manteve essa diferença, alterou fundamentalmente alguns aspectos dessa diferença.

Antes de tudo, a primeira das classes sociais, que era o clero, era uma classe completamente aberta a todas as pessoas que tivessem vocação para nela ingressar.

A Igreja nunca exigiu que a pessoa pertencesse a determinada classe social para chegar a entrar no clero.

Pelo contrário, foi muito frequente o exemplo de pessoas pertencentes às camadas mais modestas da sociedade e que ascendiam a mais alta categoria da hierarquia eclesiástica.

De outro lado, tínhamos a nobreza. A nobreza era uma classe hereditária, mas havia aí também uma grande diferença.

Em primeiro lugar, um nobre podia ser destituído de sua nobreza, se ele praticasse determinados atos infamantes.

De outro lado, um plebeu poderia ser promovido a nobre se ele praticasse atos de relevância.



De maneira que a condição de nobre não era uma condição fechada, na qual ninguém pudesse entrar e ninguém pudesse sair.

Era, pelo contrário, uma condição que passava por uma renovação lenta.

Nobre francesa no século XV
Nobre francesa no século XV
Aos poucos os elementos deficientes eram eliminados e os elementos novos que iam aparecendo, eram aproveitados. Esta classe era uma classe que tinha alguma fixidez, mas era uma classe aberta.

Ao lado disto, tínhamos a burguesia e depois a plebe.

Mas o ponto mais importante é saber o seguinte: clero, burguesia, nas suas imensas variedades, mercadores, industriais, homens de estudo, proprietários, pequenos lavradores, trabalhadores manuais, nobres, clérigos, em que medida todos eles participavam, ou em que medida deviam participar da direção do Estado.

Dentro do comum das organizações políticas modernas, o problema foi resolvido numa base puramente numérica.

Entende-se que o Estado é indiferente em questão de classes sociais e que por causa disto, cada um tem o direito a um voto.

E quando se chega na hora de votar, cada um dando um voto o resultado se aprecia numericamente. Tantos brasileiros tiveram tal orientação, se essa orientação é da maioria, ela prepondera.

Na aparência, dizia o Papa Pio XII num de seus recentes discursos, na aparência, a solução é das melhores.

Porque uma vez que confia a direção da coisa pública a maioria dos cidadãos é naturalmente interessada em que as coisas do Estado vão bem.

Colocar a direção do Estado nas mãos dos principais interessados é, certamente, a melhor das soluções.

Mas na realidade, verificamos que no plano das competências, no plano das especializações, esta solução pode ser muitas vezes defeituosa.

 E por quê? É porque necessariamente, as classes mais numerosas ficam com a voz dirigente.

Pois se tudo se apura em termos de número, é claro que a categoria mais numerosa acaba tendo uma força que pesa com o elemento que resolve.

Comerciantes italianos
Comerciantes italianos
De outro lado, o elemento menos numeroso, o elemento que resolve poderia representar precisamente o fator pensamento, o fator orientação, o fator elite, esse elemento fica excluído porque é menos numeroso e é necessariamente derrotado.

Esse mecanismo, muito simples e claro à primeira vista, acaba produzindo freqüentemente uma seleção, às vezes. Pode ser que produza uma verdadeira seleção, mas frequentemente acaba produzindo uma seleção às avessas.

Então, nasce o problema para o qual o Papa Pio XII pedia a atenção dos homens cultos e dos homens de Estado de nosso tempo, de saber como dentro de um país, se devem distribuir as parcelas de influência na direção do Estado, de maneira que o Estado seja judiciosamente orientado e governado.

A esta questão, a Idade Média pode nos dar algumas sugestões para uma solução.

O que prevalecia na Idade Média era antes de tudo a seguinte idéia de que todos os homens foram criados por Deus, iguais. Iguais por natureza. Todos os homens, enquanto homens, são iguais. Por causa disto, têm todos eles, em face do Estado, os direitos inerentes à natureza humana, inteiramente iguais.

A natureza humana deu ao homem, ou por outra, o homem tem por natureza, direito à vida, direito à propriedade, certo direito à liberdade individual, direito à dignidade pessoal, à saúde, etc..

Como estes direitos decorrem da natureza humana, e todos os homens são igualmente homens, é natural que o Estado deve assegurar esses direitos igualmente a todos os homens.

Mas acontece que os homens, ao lado desses direitos essenciais que são inerentes a todos, têm também determinados direitos que são acidentais. São direitos que provém de acidentes existentes em sua própria natureza.

O homem mais inteligente, o homem mais capaz, o mais trabalhador, o mais virtuoso, pelo fato de ter determinadas qualidades que estão acima do nível comum, acaba adquirindo direitos maiores.


As classes sociais e o governo na Idade Média
As classes sociais e o governo na Idade Média

Então, a verdadeira justiça dentro da sociedade, não consiste em ser absolutamente igual para todos, mas consiste em tratar a todos de tal maneira que lhes assegure os direitos essenciais da pessoa humana.

E que além disso, distribua maiores vantagens e maiores honrarias para aqueles que aguentam mais pesadamente o fardo dos interesses coletivos.

Dentro dessa ordem de ideias, na Idade Média prevalecia o conceito de que duas classes sociais deveriam sobretudo viver para o bem público, e que essas duas classes sociais mereceriam a participação maior na direção dos negócios públicos: o clero e a nobreza.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, conferência de 1954. Sem revisão do autor)
 

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2 comentários:

  1. Tendo em conta que classe social é um conceito marxista do século XIX, talvez seja abusivo falar de classes sociais a propósito da Idade Média...

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  2. No meu ver, isso não funcionaria no Brasil, porque nossas elites não têm o senso de dever, o pensamento nobre e altruísta, como a elite japonesa possuí. Lá eles realmente se preocupam com o bem-estar dos subordinados e pensam mais nos seus deveres. Com isso, o povo os respeita e aceita sua orientação. Mas aqui, a elite é egoísta. Só interessa o próprio patrimônio e bajular a Virgem nos céus, pra ver se ela dá uma forcinha no dia do Juízo e aumente as chances de ficar bem perante Cristo. A Urna é uma caixa de Pandora. Não tem como voltar atrás e se tentar voltar, o egoísmo da elite vai deteriorar o nível de vida dos pobres, como ocorreu no regime militar, até chegar ao ponto da revolta.
    A verdadeira nobreza para governar está no altruísmo, na inteligência e no senso de dever e não no tamanho do patrimônio ou na competência numa profissão privada. A competência profissional e um grande patrimônio é um indicativo de incompetência política, pois é uma prova de que o intelecto foi usado para aprender a se beneficiar pessoalmente e não para entender os problemas de Estado.
    Por outro lado, nos problemas econômicos ou sacrifícios militares podemos ver surgir o caldo de uma verdadeira elite de estado, pois nessas circunstâncias surge o interesse em entender como o mundo político e econômico funciona e a vontade de poder que no fim é a que governará o rumo de todos. Daí a razão pela qual apenas os nacionalistas, oriundos da classe média baixa ou os socialistas, oriundos da classe média intelectual chegam de fato ao poder hoje em dia. Até na idade média, a nobreza era militar, precisava ir na guerra e sacrificar a vida e o castelo para defender o povo. O que a nossa elite patrimonial tem a nos oferecer além de choramingar na barra da saia da Virgem?
    A única esperança para ressurgir a civilização cristã está na defesa do nacionalismo. É preciso um bloco ideológico para substituir o socialismo, coisa que só o nacionalismo pode oferecer. Eu particularmente aprecio muito os seus blogs de combate ao socialismo, pois acredito que em uma ou duas décadas o nacionalismo já estará forte o suficiente para retomar o poder nesse país. Mas eu sou realista, sei que o socialismo governará por pelo menos uma década a mais este país, pois simplesmente não temos alternativa a ele hoje. O neoliberalismo é uma falácia entreguista. O nacionalismo está em estado de coma. Ajudem a ressuscitar o nacionalismo e em troca os ajudaremos a reerguerem a civilização cristã. Do contrário, o socialismo não governará apenas mais uma década, mas mais um século.

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