São Luís, rei da França. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Os cargos pertenciam a uma família e não ao funcionalismo público
Na Idade Média, quando se fala de Estado, fala-se de dinastia.
E quando se fala de dinastia, fala-se do rei que personifica a dinastia e o Estado. Em relação aos dias de hoje, não poderíamos dizer o mesmo. Tomemos ao vivo um exemplo.
Ninguém poderia dizer, hoje em dia, que a rainha Elisabeth II é a Inglaterra.
Ela é uma inglesa bem situada, de muito prestígio social, simpática, esperta, como uma magnífica atriz num grande palco, vivendo como se fosse rainha, usando jóias dignas de uma antiga rainha.
Mas, na ordem concreta dos fatos, a Inglaterra praticamente não tem rainha.
Na Idade Média, pelo contrário, o Estado era personificado pelo rei e por todos aqueles que participavam do poder real, fazendo assim com que o Estado fosse profundamente pessoal.
Nos dias de hoje ele é inteiramente impessoal. Algo de análogo poderia dizer-se de vários dos Estados não monárquicos da Idade Média.
Na Idade Média, como dissemos, o rei era a personificação de todo o Estado, de toda a sociedade feudal.
Mas quando comparamos o rei com um nobre – o rei da França, por exemplo, com o duque da Normandia ou com o duque da Bretanha – vemos nesses duques uma miniatura do rei.
Eles são, em âmbito menor, tudo aquilo que o rei é num âmbito maior. E se considerarmos um nobre de categoria inferior, ele é uma miniatura do duque da Normandia.
Por esse processo, de miniatura em miniatura, chegaríamos até o último grau da hierarquia feudal.
Poder-se-ia simplesmente afirmar que o rei está para um senhor feudal como um original está, em ponto grande, para a sua miniatura?
Ou há nisto alguma realidade mais profunda? Poder-se-ia dizer que um príncipe de Condé era uma miniatura de rei da França?
O fato de se afirmar que é uma miniatura não mostra algo de mais profundo, que é a existência entre eles de um laço feudal? No que consiste propriamente este laço feudal?
Um rei de França desmembra o seu reino em feudos, e dá a cada senhor feudal uma parcela do poder real, de que ele é detentor.
Desse modo o senhor feudal não é apenas uma miniatura do rei, mas participante do poder do rei.
Ele tem parte no poder real; ele é, por assim dizer, uma extensão do rei. É miniatura no sentido de que é uma parcela, e não porque possua tamanho menor e se lhe pareça.
Essa ligação que o senhor feudal tem com o rei faz dele uma espécie de desdobramento do próprio rei.
Os senhores feudais de categoria secundária têm um desdobramento do poder do primeiro senhor feudal, e assim, de participação em participação, chegamos às últimas escalas da hierarquia feudal.
Partimos de uma grande fonte de poder, que é o rei, e encontramos nas várias escalas da hierarquia feudal participações sucessivas, que se assemelham aos galhos de uma árvore.
O rei seria o tronco, e as várias categorias de nobreza seriam os galhos, sucessivamente menores e sucessivamente mais delgados, até constituir o cimo da copa da árvore, toda alimentada por uma mesma seiva, que é o poder real, do qual tudo emana e para o qual tudo tende.
Entretanto não é absorvente. Pelo contrário, deita seus inúmeros galhos em todas as direções.
Eis aí configurada a ideia da participação do poder feudal.
continua no próximo post: Majestade e dignidade até no simples chefe de família popular
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