segunda-feira, 16 de setembro de 2024

A vida urbana e a origem da burguesia medieval

Budapest medieval
Budapest, hoje capital da Hungria, na Idade Média
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Desde quando acabaram as invasões dos bárbaros, a vida organizada ultrapassou os limites do domínio senhorial.

As famílias não se bastavam mais a si próprias.

Toma-se então o caminho da cidade, o tráfico comercial se organiza, e logo, vencendo as muralhas, surgem os burgos.

É então, a partir do século XI, o período de grande atividade urbana. Dois fatores de vida econômica, até aqui secundários, vão tomar uma importância de primeiro plano: o artesanato e o comércio.

Paris medieval
Paris medieval

Com eles surgirá uma classe — a burguesia — cuja influência sobre os destinos da França será capital. Mas sua ascensão ao poder efetivo só começa na Revolução Francesa, da qual será ela a única a tirar benefícios reais.

No entanto, o poder da burguesia se origina muito anteriormente, pois desde o começo ela manteve um lugar preponderante no governo das cidades, uma vez que os reis, sobretudo a partir de Filipe o Belo, voluntariamente tornavam procuradores os burgueses, com seus conselhos, administradores e agentes do poder central.

Ela deve sua grandeza à expansão do movimento comunal, do qual foi o principal motor.

Nada de mais vivo e dinâmico do que esse impulso irresistível que, do século XI ao começo do século XIII, incita as cidades a se libertarem da autoridade dos senhores.

A burguesia foi a categoria social dominante nas cidades
A burguesia foi a categoria social dominante nas cidades
E nada mais ciumentamente guardado do que as liberdades comunais, uma vez adquiridas.

Os direitos devidos aos barões tornavam-se insuportáveis a partir do momento em que não se tinha mais necessidade da sua proteção.

Nos tempos de perturbações, outorgas e pedágios, eram justificados, pois representavam o gasto do policiamento das estradas.

Um comerciante espoliado nas terras de um senhor podia ser indenizado por ele; mas, nos tempos novos e melhores, devia haver um reajustamento, que foi obra do movimento comunal.



(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” - Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)




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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Alguns grandes nomes da ciência medieval

Santo Alberto Magno, St Dominic, Londres
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
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San Alberto Magno (1193-1280), o Doutor Universal, foi o principal representante da tradição filosófica dos dominicanos.

Além disso, é um dos trinta e três Santos da Igreja Católica com o título de Doutor da Igreja.

Tornou-se famoso por seu vasto conhecimento e por sua defesa da coexistência pacífica da ciência com a religião.

Alberto foi essencial em introduzir a ciência grega e árabe nas universidades medievais, mas nunca hesitou em duvidar de Aristóteles.

Em uma de suas frases famosas, afirmou: a ciência não consiste em ratificar o que outros disseram, mas em buscar as causas dos fenômenos.

Tomás de Aquino foi seu aluno.

Robert Grosseteste (1168-1253), Bispo de Lincoln, foi a figura central do movimento intelectual inglês na primeira metade do século XIII.

É considerado o fundador do pensamento científico em Oxford.

Tinha grande interesse no mundo natural e escreveu textos sobre temas como som, astronomia, geometria e óptica.

Bispo Roberto Grosseteste, St Paul, Westernmost
Afirmava que experimentos deveriam ser usados para verificar uma teoria, testando suas consequências; também foi relevante o seu trabalho experimental na área da óptica. Roger Bacon foi um de seus alunos mais renomados.

Roger Bacon (1214-1294), o Doutor Admirável, ingressou para a Ordem dos Franciscanos por volta de 1240, onde, influenciado por Grosseteste, dedicou-se a estudos nos quais introduziu a observação da natureza e a experimentação como fundamentos do conhecimento natural.

Bacon propagou o conceito de “leis da natureza“ e contribuiu com estudos em áreas como a mecânica, a geografia e principalmente a ótica.

As pesquisas em ótica de Grosseteste e Bacon estabeleceram a disciplina como um campo de estudo na universidade medieval e formaram a base para uma duradoura tradição de pesquisa na área.

Tradição que chegou até o início do século XVII, quando Kepler fundou a ótica moderna.

Tomás de Aquino (1227-1274), também conhecido como o Doutor Angélico, foi um frade dominicano e teólogo italiano.

Tal qual seu professor Alberto Magno, é santo Católico e doutor desta mesma Igreja.

Seus interesses não se restringiam à filosofia; também interessou-se pelo estudo de química, tendo publicado uma importante obra química chamada “Aurora Consurgens”.

Entretanto, a verdadeira contribuição de São Tomás para a ciência do período foi ter sido o maior responsável pela integração definitiva do aristotelismo com a tradição escolástica anterior.

Frei João Duns Scot OFM
João Duns Scot (1266-1308), o Doutor Sutil, foi membro da Ordem Franciscana, filósofo e teólogo.

Formado no ambiente acadêmico da Universidade de Oxford, onde ainda pairava a aura de Robert Grosseteste e Roger Bacon, teve uma posição alternativa à de São Tomás de Aquino no enfoque da relação entre a Razão e a Fé.

Para Scot, as verdades da fé não poderiam ser compreendidas pela razão. A filosofia, assim, deveria deixar de ser uma serva da teologia e adquirir autonomia.

Duns Scot foi mentor de outro grande nome da filosofia medieval: William de Ockham.

Jean Buridan (1300-1358) foi um filósofo e padre francês. Embora tenha sido um dos mais famosos e influentes filósofos da Idade Média tardia, ele é hoje um dos nomes menos conhecidos pelo público não-especialista.

Uma de suas contribuições mais significativas foi desenvolver e popularizar da teoria do Ímpeto, que explicava o movimeto de projéteis e objetos em queda livre.

Essa teoria pavimentou o caminho para a dinâmica de Galileu e para o famoso princípio da Inércia, de Isaac Newton.

William de Ockham (1285-1350), o Doutor Invencível, foi um frade franciscano, teórico da lógica e teólogo inglês. Occam defendia o princípio da parcimônia (a natureza é por si mesma econômica), que já podia ser visto no trabalho de Duns Scott, seu professor.

Nicolás d'Oresme
William foi o criador da doutrina conhecida como Navalha de Ockham: se há várias explicações igualmente válidas para um fato, então devemos escolher a mais simples. 

Isso tornou-se parte básica do que viria a ser conhecido como método científico e um dos pilares do reducionismo em ciência.

Occam morreu vítima da peste negra. Jean Buridan e Nicole Oresme foram seus seguidores.

Nicolás d'Oresme (c.1323-1382) foi um gênio intelectual e talvez o pensador mais original do século XIV. Teólogo dedicado e Bispo de Lisieux, foi um dos principais propagadores das ciências modernas.

Além de suas contribuições estritamente científicas, Oresme combateu fortemente a astrologia e especulou sobre a possibilidade de haver outros mundos habitados no espaço.

Ele foi o último grande intelectual europeu a ter crescido antes do surgimento da peste negra, evento que teve impacto bastante negativo na inovação intelectual no período final da Idade Média.

A lista não é exaustiva. Outros nomes relevantes da ciência européia no período medieval incluem:

Beato Hermannus Contractus
-- Beda, o Venerável (672-735), monge e historiador

-- Beato Hermannus Contractus (1013–1054), matemático, astrónomo, teórico da música e compositor,

-- Jordanus de Nemore (por volta de 1200), frade dominicano e matemático, escreveu tratados sobre a ciência dos pesos; os algoritmos nos tratados de aritmética prática; aritmética pura; álgebra; geometria e projeçao estereográfica,

-- Theodoric de Freiberg (1250-1310), físico, autor de um tratado clave para o estudo do arco-irís e a difração da luz e a formação das cores

-- Thomas Bradwardine (1290–1349), matemático, físico e arcebispo de Cantuária, e

-- Nicolau de Cusa (1401-1464), cardeal, teólogo e filósofo marca o afastamento do pensamento medieval aristotélico-tomista e abre as portas para o Humanismo.

A lista foca os nomes da ciência na Europa de língua latina: não inclui, por exemplo, a ciência desenvolvida nos territórios sob domínio Árabe.



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