terça-feira, 26 de julho de 2016

Como se vestiam os medievais? – 2
A vestimenta militar

Cavaleiro antes de aparecerem as armaduras:
cota de malha, elmo, sobreveste, grevas e esporões.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Continuação do post anterior: Como se vestiam os medievais? – 1



É sabido, no entanto, que Luís, o Jovem, São Luís e Filipe Augusto se faziam notar pela sobriedade do traje, frequentemente mais simples que o dos seus vassalos.

No que respeita ao traje militar, cometeria um erro quem imaginasse o cavaleiro medieval sob as pesadas armaduras complicadas que se veem nos nossos museus.

Elas não aparecem antes do fim do século XIV, quando as armas de fogo requerem um aparelho defensivo aperfeiçoado.

Nos séculos XII e XIII, a armadura consiste essencialmente na cota de malha, que desce até pouco acima do joelho; e no elmo, pesado e maciço a princípio, que se aperfeiçoa e suaviza depois com viseiras e fitas sob o queixo, móveis e com nasal e frontal.

Para atenuar o brilho do lorigão ou cota de malha, passava-se uma sobreveste de tecido, pano fino ou outro. As grevas e esporões completavam a farpela.

Não é possível fazer melhor ideia da indumentária de guerra da época do que através da bela estátua do Cavaleiro de Bamberg, obra-prima de harmonia e máscula simplicidade.

Mas é necessário um esforço suplementar para reconstituir o espetáculo deslumbrante que deviam apresentar os exércitos de então, com essa multidão de cascos, lanças e espadas chamejando ao sol, a ponto de a sua reverberação ter sido muitas vezes uma causa de derrota para aqueles que se encontravam desfavoravelmente orientados.



Podem-se conceber os gritos de admiração arrancados aos cronistas por essas hostes rutilantes, com as suas bandeirolas e estandartes, os cavalos carapaçonados, as sedas brilhantes abrindo-se sobre as cotas de aço, cada corte agrupada em torno do seu senhor e usando as suas cores.

De fato é na mesma época, em princípios do século XII, que aparece o brasão. Os termos e a maior parte das peças foram tirados do oriente árabe, mas o costume generalizou-se rapidamente na Europa.

Reconstituição histórica da batalha de Hastings, na Inglaterra em 1066
permite apreciar o armamento e vestimentas
Foi expandido pela prática dos torneios, pois para seguir a evolução dos cavaleiros em campos frequentemente muito amplos, os espectadores se fixavam nas suas armas, como hoje nas cores de um jóquei.

Com uma voga hoje renovada, o brasão faz parte integrante da vida medieval, traduzindo sob uma forma articulada a divisa de um senhor ou de uma família.

É ao mesmo tempo grito de guerra e sinal de aliança. É sabido que cada cor, ou antes cada esmalte, tem a sua significação, como cada móvel a que está aposto: o azul é símbolo de lealdade; o goles, de coragem; o areia, de prudência; e o sinople, de cortesia.

Dos dois metais, a prata significa pureza, e o ouro o ardor e amor. O brasão foi-se complicando ao longo dos séculos, mas desde o seu aparecimento constitui uma ciência e uma espécie de linguagem hermética.

Sob essa forma rica e colorida, que tanto apraz à Idade Média, traduzia todo o feixe de tradições e de ambições que compõe a personalidade moral de cada corte.


(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)



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