segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Como Europa recuperou e aperfeiçoou a ordem em todos os pontos

São Bento, pai dos monges de Ocidente,  alma fundadora da Cristandade medieval.  Estátua em Montecassino, Itália
São Bento, pai dos monges de Ocidente,
alma fundadora da Cristandade medieval.
Estátua em Montecassino, Itália
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








No início da Idad Média, a Europa inteira não tinha nem caminhos nem pousadas; suas florestas estavam cheias de ladrões e assassinos; suas leis eram impotentes, ou, sobretudo, ali não havia lei alguma; a Religião só, como uma grande coluna elevada no meio das ruínas bárbaras, oferecia abrigos e um ponto de comunicação aos homens.

Sob a segunda linhagem de nossos reis, a França tendo caído na anarquia mais profunda, sobretudo os viajantes eram detidos, espoliados e mortos ao cruzar os rios.

Monges hábeis e corajosos tiveram a iniciativa de remediar estes males.

Formaram entre eles uma companhia, sob o nome de ‘hospitalários pontífices’ ou ‘fazedores de pontes’.

Obrigavam-se, pela sua instituição, a prestar socorro aos viajantes, a reparar os caminhos públicos, a construir pontes, a hospedar os estrangeiros nas hospedarias que eles elevavam à beira dos rios.

Hospitais de religiosos e religiosas atendiam gratuitamente
Hospitais de religiosos e religiosas atendiam gratuitamente
Fixaram-se primeiramente às margens do Durance, num local perigoso, chamado Maupas ou Mauvais-pas, que, graças a esses generosos monges, logo tomou o nome de Bon-pas, que guarda ainda hoje.

Foi esta ordem que construiu a ponte sobre o Ródano, em Avinhão.

Sabe-se que as encomendas e correios, aperfeiçoadas por Luís XI, foram primeiramente estabelecidas pela Universidade de Paris.

Sobre uma íngreme e alta montanha do Rouergue, coberta de neve e brumas durante oito meses do ano, percebe-se um mosteiro, construído pelo ano de 1120, por Alard, visconde de Flandres.

Uma legião de monges tirou Europa do caos e da ignorância
Uma legião de monges tirou Europa do caos e da ignorância
Este senhor, retornando de uma peregrinação, foi atacado nesse local por ladrões; fez voto de, se se salvasse de suas mãos, fundar naquele deserto uma hospedagem para os viajantes, e de expulsar os bandidos da montanha.

Tendo escapado ao perigo, foi fiel às suas promessas, e a hospedagem de Albrac ou de Aubrac elevou-se ‘in loco horroris et vastae solítudinis’, como diz a ata de fundação.

Alard ali fixou padres para o serviço da Igreja, cavaleiros hospitalários para escoltar os viajantes, e damas de qualidade para lavar os pés dos peregrinos, arrumar seus leitos, e cuidar de suas vestimentas.

Antes de partir para reinos estrangeiros, o viajante dirigia-se a seu Bispo, que lhe dava uma carta apostólica, com a qual passava seguro por toda a Cristandade.

A forma dessas cartas variava conforme a categoria e a profissão do portador, donde serem denominadas 'formatae' .

Assim, a Religião ocupava-se em religar os fios sociais, que a barbárie rompia sem cessar.

Em geral, os mosteiros serviam como hospedarias onde os forasteiros encontravam, na passagem, víveres e teto.
Os mosteiros funcionavam também como hotéis e refúgios gratuitos
Os mosteiros funcionavam também como hotéis e refúgios gratuitos

Essa hospitalidade, admirada entre os antigos, e cujos restos ainda se vê no Oriente, era honrada entre nossos religiosos: vários dentre eles, com o nome de hospitalários, consagraram-se particularmente a essa virtude tocante.

Ela manifestava-se, como nos dias de Abraão, em toda a sua beleza antiga, pelo lava-pés, o fogo da lareira e as doçuras da refeição e do repouso.

Se o viajante era pobre, davam-se-lhe vestidos, víveres e algum dinheiro para poder chegar a outro mosteiro, onde recebia os mesmos socorros.

As damas montadas sobre seu palafrím, os valentes buscando aventuras, os reis extraviados durante a caçada, batiam, no meio da noite, à porta das velhas abadias, e vinham partilhar a hospitalidade que se dava ao obscuro peregrino.

Os mosteiros salvaram a cultura, os grandes escritos da Antiguidade pagã
Os mosteiros salvaram a cultura, os grandes escritos da Antiguidade pagã
Às vezes seis cavaleiros inimigos encontravam-se ali e se faziam amável recepção, até o nascer do sol, quando, com o ferro à mão, mantinham um contra outro a superioridade de suas pátrias.

Boucicault, na volta da cruzada da Prússía, alojado num mosteiro com diversos cavaleiros ingleses, sustentou, só, contra todos, que um cavaleiro escocês, atacado por eles nos bosques, fora morto traiçoeiramente.

Nessas hospedarias da Religião, considerava-se prestar muita honra a um príncipe se se lhe propunha de tomar alguns cuidados dos pobres que por acaso ali se encontrassem.

O Cardeal de Bourbon, voltando após ter deixado a infortunada Elisabeth na Espanha, deteve-se no hospital de Roncevaux, nos Pirineus, serviu à mesa trezentos peregrinos, e deu a cada um três reais para continuarem sua viagem.

Le Poussin é um dos últimos viajantes que se beneficiou desse costume católico; foi à Roma, de mosteiro em mosteiro, pintando os quadros dos altares como retribuição pela hospitalidade que recebia.




(Autor : François René de Chateaubriand, « Génie du Christianisme », Garnier-Flammarion, Paris, 1966, Tomo II, pp. 219 a 226).



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