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Iluminura apresenta medievais num jogo de Xadrez |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs
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Pelo fim da Idade Média, a partir do século XII ou XIII, quando as guerras entre os feudos decaem, a Europa começa a conhecer uma relativa paz.
A ação dos cavaleiros andantes, no extermínio dos bandidos, acabou de desinfestar as estradas e o comércio começou a circular.
Ao mesmo tempo em que o comércio circula, as barreiras desses pequenos mundos se modificam.
E, concomitantemente, vão começando a formar-se aqui, lá e acolá, grandes cidades.
Vai surgindo nos vários reinos uma capital, o rei; e a figura do monarca se destaca.
Ele constitui uma corte, tudo caminha para a centralização.
E essa centralização vai do século XIII, numa marcha ascensional, até o século XVII e começo do XVIII, com Luís XIV na França.
E com reis que participaram um pouco do protótipo de Luís XIV, antes ou depois dele — como, por exemplo, o rei Felipe II, na Espanha, ou Pedro o grande e Catarina a grande, na Rússia etc. O que sucede então é que essa centralização transforma completamente o jogo das influências.
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Luiz XIV, rei centralizador abafou a harmonia social medieval.
Hyacinthe Rigaud (1659 - 1743). Museu do Louvre. |
A corte de Luís XIV é paradigmática. Ela já não é a corte medieval.
O rei é o rei sol. Ele se considera o rei como se deve ser rei, o modelo perfeito e acabado do rei.
Uma nobreza, ao lado dele, que se considera e é tida por toda a Europa como modelo perfeito e acabado da aristocracia de salão.
Um conjunto de estadistas que a Europa reputa modelos perfeitos e acabados de estadistas do tempo.
Um conjunto de grandes damas que são o protótipo da elegância, da graça e da beleza feminina do século.
Até a cátedra sagrada entra nesse movimento, e aparece o grande orador sacro, como Bossuet.
E assim forma-se um centro, que é o centro modelar no qual se espelha toda a França, mas espelha-se também toda a Europa, em proporção maior ou menor.
Verifica-se então o fenômeno do afrancesamento da Europa.
Por toda parte vão ruindo as influências locais, os fatores característicos vão desaparecendo.
E aparece um centro dotado dos melhores técnicos, dos melhores especialistas em tudo, desde a arte de conversar até a arte de dirigir finanças, ou de dirigir exércitos, ou de ocupar a tribuna sagrada.
E este centro, imitado por todos, transforma a situação.
A vida,
a propulsão social não vem mais da base para cima, mas vem do alto para baixo. É uma inversão da ordem medieval que pressagia maiores desastres.
A
imposição de certos estilos e modos de ser de fora para dentro como sucede em shows atuais, vai transformando uma sociedade orgânica em massa
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Napoleão Bonaparte encarnou o modelo de governante totalitário moderno |
E essa orientação centralizadora, ao contrário do que parece, não cessa com a Revolução Francesa.
O
Comité de Salut Publique teve uma influência centralizadora e uma soma de poderes muito maior que a de Luís XIV. Mas Napoleão teve uma soma de poderes maior que a do
Comité de Salut Publique.
E em geral os historiadores e os juristas franceses estão de acordo em afirmar que um chefe de Estado francês de nossos dias tem, no fundo — é verdade que circunscrito pela lei — uma influência, uma capacidade de dirigir o corpo social muito maior que a de Luís XIV, no auge de sua glória.
Mudou o jogo de influências, passou-se da monarquia mais ou menos aristocrática para a democracia; nessa democracia, evidentemente, o rei passou a ser o povo.
E então, no mesmo centro dirigente, se passam as coisas de um modo um pouco diverso.
Em outros termos, há um
conjunto de técnicos, há um conjunto de especialistas que disputam entre si a escolha da solução a ser dada aos problemas.
Eles são
apoiados por sistemas de propaganda, têm a seu serviço a imprensa, o rádio, a televisão, o cinema, enfim, todos os meios comuns de propaganda. E, com isso, influenciam o eleitorado.
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O totalitarismo das massas teleguiadas por líderes populistas ou socialistas
dominou e escureceu o horizonte do século XX |
O eleitorado-rei decide a favor de uns ou a favor de outros, mas o impulso principal continua a vir da capital, de técnicos que afluíram para a capital, que se dissociaram dos respectivos centros de vida, que vivem da vida artificial da capital, que a partir da capital comandam a propaganda e obtêm, através das eleições, o mando necessário para realizar aquilo que desejam.
De maneira que, em última análise, a capital, com os seus valores cívicos, dirige de fora para dentro a sociedade; e os elementos regionais e locais vão cada vez mais perdendo a sua influência, perdendo a sua capacidade de movimentação.
O resultado dessa nova situação é a
depauperação do homem contemporâneo.
Cada um de nós tem a sensação de viver como um grão de areia isolado dentro da multidão.
Nós de tal maneira nos habituamos aos meios de propaganda — de tal maneira nos acostumamos a estímulos de fora de nosso espírito, de nossa mente, que nos oferecem material para pensarmos, para refletirmos etc. — que já se chegou à seguinte situação (para mim, a última palavra nessa matéria!): torcedores, em estádio de futebol, assistem à partida com o rádio ao ouvido, porque sem o auxílio de alguém que lhes diga o que está acontecendo (e que eles também estão vendo) não conseguem tomar uma atitude individual e própria em face do fato que se apresentou".
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Um imperador e um cardeal rodeados de populares
conversam sobre a cidade. |
O Papa Pio XII estabeleceu magistralmente a diferença entre povo e massa na famosa radiomensagem de Natal de 1944:
"O povo vive e move-se por vida própria; a massa é em si mesma inerte e não pode mover-se senão por um elemento extrínseco.
"O povo vive da plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais — na sua própria posição e do modo que lhe é próprio — é uma pessoa cônscia das suas próprias responsabilidades e das suas próprias convicções.
"A massa, pelo contrário, espera o impulso que lhe vem de fora, fácil joguete nas mãos de quem quer que lhe explore os instintos e as impressões, pronta a seguir, sucessivamente, hoje esta, amanhã aquela bandeira".
(Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. VI, p. 239).
(Autor: Plínio Corrêa de Oliveira, "Catolicismo", maio de 2002)
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