segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

O urbanismo medieval e o urbanismo moderno

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Quando nas iluminuras medievais consideramos uma cidade vista de longe, ela se apresenta de modo inteiramente diferente da cidade moderna.

A cidade moderna é de contornos imprecisos, irregulares.

É como um tumor que se vai estendendo de lá para cá e para acolá, de maneira tal que numa certa direção ela cresceu muito, e noutra existem ainda parques que vão quase até o seu centro.

A cidade medieval nos dá impressão de uma moeda bem cunhada.

Ela está repleta de casas, num recinto delimitado por um muro e realçado por torres.

Braunfels
Bernkastel
O limite é definido e claro: para além do muro, campo; para dentro do muro, cidade.

O muro é o resplendor da cidade, que tem em torno de si uma coroa feita de muralhas.

Essas lhe asseguram a possibilidade de se defender por si própria e de manter sua autonomia.

Vista assim em seu conjunto, a cidade dá a impressão de uma caixa de tesouros.

Porque o que emerge de dentro dela são coisas preciosas: as torres das igrejas, as pontas das catedrais com as rosáceas e os vitrais, as torres de um ou outro palácio, etc.

Dir-se-ia que entre suas torres havia uma espécie de competição para atingir o céu.

Bernkastel
As ruas não correspondiam muito às ideias do urbanismo moderno.

Eram sinuosas, caprichosas, inesperadas, com peculiaridades singulares.

As casas não tinham numeração.

Nada de anúncios imorais, ou de algo que pudesse ir contra os bons costumes.

Essas ruelas estão para os quarteirões de nossos dias, quadrados e cortados em ângulo reto, mais ou menos como a caligrafia está para a datilografia.

A letra datilográfica é irrepreensível; a letra manuscrita muitas vezes é irregular, e até feia, mas tem a expressão de uma alma.

Esses quadriláteros urbanos, o que exprimem?

As almas dos homens sem alma...



Plinio Corrêa de Oliveira, texto sem revisão do autor.


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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Assombrosa e deleitável desigualdade entre as cidades

A cidade medieval ideal
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Com excessiva frequência as cidades modernas passam uma sensação de monotonia. Elas parecem quase idênticas.

A historiadora Regine Pernoud, especializada na Idade Média, descreve uma realidade absolutamente diferente que existiu naquela época.

A França conservou durante todo o Ancien Régime um caráter muito especial, derivado dos costumes particulares de cada cidade, fruto empírico das lições do passado e fixados independentemente pelo poder local, tendo em vista as necessidades de cada uma.

Esta variedade de uma cidade para outra dava ao nosso país uma fisionomia muito atraente e muito simpática.

A monarquia absoluta teve a sabedoria de não tocar nos usos locais, de não impor um tipo de administração uniforme.

Esta foi uma das forças e um dos encantos da antiga França.

Cada cidade possuía, num grau difícil de se imaginar em nossos dias, sua personalidade própria, não somente exterior mas interior, em todos os detalhes de sua administração, em todas as modalidades de sua existência.

As muralhas eram um símbolo e uma garantia da autonomia da cidade, inclusive face aos reis
As muralhas garantiam a autonomia da cidade, inclusive face ao poder real ou feudal

Em geral elas são, pelo menos no sul, dirigidas por cônsules, cujo número varia: dois, seis, e algumas vezes doze; ou ainda um só reitor reúne o conjunto dos encargos em suas mãos, sendo assistido por um juiz representante do senhor, quando a cidade não possui a plenitude das liberdades políticas.

Muitas vezes ainda, nas cidades mediterrâneas, recorre-se ao sistema de alcaides, instituição muito curiosa.

Bergheim, Alsacia, França
Bergheim, na Alsácia, França, é uma outra cidade inteiramente diferente
O alcaide é sempre um estrangeiro (os de Marseille são todos italianos), ao qual confia-se o governo da cidade por um período de um ou dois anos. Em toda parte onde foi empregado, este regime foi satisfatório.

Em todo caso, a administração da cidade compreende um conselho eleito pelos habitantes — geralmente por sufrágio restrito ou a vários graus — e por assembléias plenárias, reunindo o conjunto da população, mas cujo papel é sobretudo consultivo.

As representações das corporações possuem sempre um lugar importante, e sabe-se bem qual foi o papel desempenhado pelo representante dos comerciantes em Paris nos movimentos populares do século XIV.

Obernai, Alsácia, França
Obernai, na Alsácia, França, ainda conserva sinais de sua originalidade
A grande dificuldade encontrada pelas comunas são os problemas financeiros.

Quase todas se mostram incapazes de assegurar uma boa gestão das riquezas, e além disso o poder é logo monopolizado por uma oligarquia burguesa, que se mostra mais dura para com o povo miúdo do que os antigos senhores feudais.

Daí a rápida decadência das comunas. Muitas vezes elas são agitadas por tumultos populares, e periclitam desde o século XIV, ajudadas nisso, é verdade, pelas guerras da época e pela enfermidade geral do reino.


(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” - Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)


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