Vestido camponês do Vale de Ansó, Aragão, Espanha |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Não deve iludir-nos determinada literatura, em que o vilão muitas vezes está envolvido.
Não passa de testemunho do rancor, velho como o mundo, que sente o charlatão, o vagabundo, pela situação do camponês no domínio, cuja morada é estável, cujo espírito por vezes é lento, e cuja bolsa muitas vezes demora a abrir-se.
A isto se acrescenta o gosto, bem medieval, de zombar de tudo, inclusive daquilo que parece mais respeitável.
Na realidade, nunca foram mais estreitos os contatos entre o povo e as classes ditas dirigentes — neste caso, os nobres.
Contatos estes facilitados pela noção de laço pessoal, essencial para a sociedade medieval, e multiplicados pelas cerimônias locais, festas religiosas e outras, nas quais o senhor encontra o rendeiro, aprende a conhecê-lo e partilha a sua existência, muito mais estreitamente do que, nos nossos dias, os pequenos burgueses partilham a dos seus criados.
A administração do feudo obriga o nobre a ter em conta todos os detalhes da vida dos servos.
Nascimentos, casamentos, mortes nas famílias de servos entram em linha de conta para o nobre, como interessando diretamente o domínio.
Populares na festa do Ommegang, na Bélgica |
Tem portanto em relação a eles uma responsabilidade moral, do mesmo modo que suporta a responsabilidade material do feudo em relação ao suserano.
Jovens do Vale do Roncal, Espanha, indo para a Missa principal. |
Não o vemos abrir as portas da sua casa para lhes oferecer um banquete, por exemplo, na ocasião do casamento de um dos filhos.
No conjunto, uma concepção totalmente diferente da que prevaleceu na Idade Média.
Como disse Jean Guiraud, o camponês ocupa a ponta da mesa, mas é a mesa do senhor.
Poderíamos facilmente dar-nos conta disso examinando o patrimônio artístico que essa época nos legou, e constatando o lugar que o camponês nela ocupa.
Na Idade Média ele está em toda parte: nos quadros, nas tapeçarias, nas esculturas das catedrais, nas iluminuras dos manuscritos.
Em toda parte o encontramos como o mais corrente tema de inspiração.
(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)
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