segunda-feira, 24 de agosto de 2020

As corporações garantiam todas as formas de segurança social num espírito de amizade familiar

Milão, re-encenação confraria medieval

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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A confraria, que era de origem religiosa e existia mais ou menos por toda parte, era um centro de ajuda mútua.

“Figuravam em primeiro plano as pensões concedidas aos mestres idosos ou já enfermos e os socorros aos doentes, durante todo o tempo da doença e da convalescença.

“Era um sistema de seguros em que cada caso podia ser conhecido e examinado em particular, o que permitia dar o remédio apropriado a cada situação e ainda evitar os abusos.

“Se o filho de um mestre é pobre e quer aprender, os homens de bem devem lhe ensinar por 5 soldos (taxa corporativa) e por suas esmolas — diz o estatuto dos fabricantes de escudos.

“A corporação ajudava ainda no caso de seus membros precisarem viajar ou por ocasião do desemprego.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

A corporação medieval no governo da cidade:
genuína democracia

Autoridades da corporação dos comerciantes de Paris em 1611. O chefe desta corporação passou a ser prefeito da cidade
Autoridades da corporação dos comerciantes de Paris em 1611.
O chefe desta corporação passou a ser prefeito da cidade
Luis Dufaur
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A influência das corporações é tal na cidade, que acabam por desempenhar um papel político.

Em algumas cidades, como Marselha, os delegados dos ofícios tomam parte efetiva na direção dos assuntos comunais.

Fazem parte compulsivamente do conselho geral, nenhuma decisão que toque os interesses da cidade pode ser tomada sem eles, escolhem semanalmente os “semaneiros” que assistem o reitor, e sem os quais não se pode tomar deliberação.

Repetindo a expressão do historiador da comuna de Marselha, M. Bourrilly, os chefes de ofício eram “o elemento motor” da vida municipal, e poder-se-ia dizer que Marselha teve no século XIII um governo de base corporativa.

A confraria, que existe um pouco por toda parte, tem origem religiosa.

Mesmo onde o ofício não está organizado em mestria ou confraria (jurande), é um centro de entreajuda.

Entre os encargos que pesam regularmente sobre a caixa da comunidade, figuram em primeiro lugar as pensões dadas aos mestres idosos ou enfermos, e durante o tempo de doença e de convalescença as ajudas aos membros doentes.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Independência das corporações (sindicatos) medievais

O controle de qualidade e os julgamentos eram feitos por autoridades da própria corporação
O controle de qualidade e os julgamentos
eram feitos por autoridades da própria corporação
Luis Dufaur
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O exercício de cada ofício era objeto de uma regulamentação minuciosa, que tendia antes de tudo a manter o equilíbrio entre os membros da corporação.

Nada mais contrário ao espírito das antigas corporações do que o aprovisionamento, a especulação ou os nossos modernos trusts.

Qualquer tentativa para tomar um mercado, qualquer esboço de entendimento entre alguns mestres em detrimento dos outros, qualquer manobra para monopolizar uma excessiva quantidade de matérias-primas, eram severamente reprimidas.

Era também implacavelmente punido o ato de desviar para seu proveito a clientela de um vizinho, o que nos nossos dias se chamaria abuso da publicidade.

A concorrência existia, mas restrita ao domínio das qualidades pessoais.

A única forma de atrair um cliente era fazer melhor, mais acabado e mais cuidado, por preço igual ao do vizinho.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Corporação medieval:
anos-luz à frente do sindicato atual

Tanoeiros fazendo pipas, vitral da catedral de Chartres
Tanoeiros fazendo pipas, vitral da catedral de Chartres
Luis Dufaur
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Além do comércio, o elemento essencial da vida urbana é o ofício.

A forma como foi compreendido na Idade Média, como se regulou o seu exercício e as suas condições, mereceu reter particularmente a atenção da nossa época, que vê no sistema corporativo uma solução possível para o problema do trabalho.

Mas o único tipo de corporação realmente interessante é a corporação medieval, tomada no sentido lato de confraria ou associação de ofício, logo alterada sob pressão da burguesia.

Os séculos seguintes não conheceram dela senão deformações ou caricaturas.

Não poderíamos definir melhor a corporação medieval do que vendo nela uma organização familiar aplicada ao ofício.

Ela é o agrupamento, num organismo único, de todos os elementos de um determinado ofício: patrões, operários e aprendizes estão reunidos, não sob uma autoridade dada, mas em virtude dessa solidariedade que nasce naturalmente do exercício de uma mesma indústria.

Como a família, ela é uma associação natural, não emana do Estado nem do rei.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

O urbanismo medieval: glória da Igreja Católica

Albrechtsburg, Meissen, Sachsen. A cidade medieval
Albrechtsburg, Meissen, Sachsen
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O clero multiplicou nossos vilarejos, fez crescer e embelezou nossas cidades.

Diversos bairros de Paris, tais como os de Santa Genoveva e de Saint-Germain-l’Auxerrois, surgiram em parte às custas das abadias dos mesmos nomes.

Em geral, onde quer que se estabelecesse um mosteiro, ali se formava uma aldeia: a Chaise-Dieu, Abbeville, e muitos outros lugares levam ainda em seus nomes a marca de sua origem.

A cidade de Sante Salvatore, aos pés do Monte Cassino, na Itália, e os burgos circundantes, são obra dos religiosos de São Bento.

Em Fulda, Mainz, em todos os círculos eclesiásticos da Alemanha, na Prússia, Polônia, Suíça, Espanha, Inglaterra, uma multidão de cidades tiveram por fundadoras Ordens monásticas ou militares.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Cada profissão era um universo autônomo de privilégios e leis próprias

Cristo vigia o trabalho dos sapateiros
Luis Dufaur
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O exercício de cada profissão era objeto de uma minuciosa regulamentação, que existia principalmente para manter o equilíbrio entre os membros da corporação.

Toda tentativa para embaraçar um mercado, todo esboço de entendimento entre alguns mestres em detrimento de outros, toda apropriação de quantidades excessivamente grandes de matérias-primas, eram severamente punidas.

Nada mais contrário ao espírito das antigas corporações do que os grandes estoques, a especulação ou os “trusts”.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Relações familiares entre patrões e empregados no trabalho

Mestre açougueiro e aprendiz
Luis Dufaur
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Durante toda a Idade Média, no início as oportunidades são as mesmas para todos, e o aprendiz só não se torna mestre por falta de jeito ou indolência.

O aprendiz liga-se a seu mestre por um contrato de aprendizagem — sempre esse laço pessoal, caro à Idade Média — comportando obrigações a ambas as partes: para o mestre, a de formar seu aluno no ofício, e seu sustento durante esse tempo; para o aprendiz, obediência a seu mestre e dedicação ao trabalho.

Transpôs-se assim ao artesanato a dupla noção de “fidelidade-proteção”, que une o senhor a seu vassalo.

Mas como aqui uma das partes contratantes é uma criança de 12 a 14 anos, todos os cuidados são tendentes a reforçar sua proteção.

Deste modo, por um lado manifesta-se maior indulgência para com suas faltas, estorvamentos e até vagabundagens; por outro, delimitam-se severamente os deveres do mestre: ele não pode ter mais que um aprendiz por vez, para que seu ensino seja frutuoso; não pode explorar seus alunos, descarregando sobre eles uma parte de seu trabalho.

Mestre padeiro e aprendiz
O aprendiz só poderá exercer a profissão como mestre depois de exercer a maestria por um ano, para que se tenha certeza de suas qualidades técnicas e morais.

“Ninguém deve ter aprendiz se não for tão sábio e tão rico que o possa ensinar, governar e sustentar, e isso deve ser conhecido pelos homens que protegem o ofício” — dizem os regulamentos.

Eles fixam também quanto o mestre deve despender diariamente com a alimentação e manutenção do aluno.

Os mestres são ainda submetidos a um direito de visita, exercido pelos jurados da corporação, que vem a domicílio examinar como o aprendiz é alimentado, ensinado e tratado.

O mestre tem para com ele os deveres e obrigações de um pai. Entre outras coisas, deve velar por sua conduta moral.

O aprendiz lhe deve respeito e obediência, apesar de conservar uma certa independência.

No caso de ele abandonar a casa de seu mestre, este deve esperar um ano antes de tomar outro, e durante esse período é obrigado a recebê-lo, se voltar.

Todas as garantias do lado mais fraco, e não do mais forte.

O tempo do aprendizado varia segundo as profissões. Em geral é de 3 a 5 anos.

No final o aluno põe à prova suas habilidades perante os jurados de sua corporação.

Essa é a origem da obra-prima, cujas condições se irão complicando com o correr dos séculos.

Armeiros
Ele deve pagar uma taxa, aliás mínima, que corresponde à sua quota da corporação.

Em alguns ofícios em que o comerciante deve provar sua solvabilidade, exige-se uma caução.

Foram estas as condições da maestria na Idade Média.

A partir do século XIV elas haviam sido independentes, mas a partir de então começam a se ligar ao poder central.

O acesso à maestria vai sendo dificultado pouco a pouco.

Por exemplo, tornou-se então obrigatório em quase todas as corporações um estágio intermediário de 3 anos, como companheiro; o postulante devia desembolsar o que se chamou “compra do ofício”, variando de 5 a 20 soldos.




(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)


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segunda-feira, 20 de abril de 2020

Autonomia operária e burguesa nas sociedades comerciais
e nas corporações de ofício

Orvieto, parada na festa de Corpus Christi:
bandeiras das corporações de sapateiros e açougueiros
Luis Dufaur
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Para melhor se defenderem, e por um costume caro à época, os comerciantes têm o hábito de se associarem.

Há no princípio, para os navios, o que se chama a “conserva”: dois ou mais navios decidem fazer juntos sua viagem, e esta decisão é objeto de um contrato, que não se rompe sem se expor a sanções e a uma multa.

De outro lado, os comerciantes de uma cidade, onde quer que eles se encontrem, formam uma associação e elegem um representante seu para os administrar, e, se for necessário, assumir a responsabilidade ou a defesa de seus interesses.

As ferrarias mais importantes têm um cônsul permanente — ou pelo menos durante a grande “estação” comercial, que vai de São João (24 de junho) a Santo André, em novembro — fiscalizando os armazéns.

Marseille nos oferece o exemplo dessa instituição dos cônsules, comum nas cidades do Mediterrâneo, cujas decisões só podiam ser suprimidas pelo reitor da comuna e tinham até força da lei.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

As cidades medievais em desenvolvimento

Luis Dufaur
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A história da evolução de uma cidade na Idade Média é um dos espetáculos mais cativantes.

Cidades mediterrâneas, como Marseille, Arles, Avignon ou Montpellier, rivalizando pela sua audácia com as grandes cidades italianas no comércio de aquém-mar; centros de tráfico, como Laon, Provins, Troyes ou Le Mans; núcleos de indústria têxtil, como Cambrai, Noyon ou Valenciennes; todas demonstraram um ardor, uma vitalidade sem igual. Obtiveram, além do mais, a simpatia da realeza.

Já que as cidades libertas entravam na enfiteuse real, não procuravam elas por este fato, em seu desejo de emancipação, a dupla vantagem de enfraquecer o poder dos senhores feudais e aumentar com isso inesperadamente o domínio real?

segunda-feira, 23 de março de 2020

Os guerreiros medievais: sua missão social inspirada por uma “visão” mística de Jesus Cristo

Santo Estevão, rei da Hungria
Santo Estevão, rei da Hungria
Luis Dufaur
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O homem de luta e de ideal na Idade Média foi o guerreiro.

Sua missão social era ser protetor contra os inimigos externos, ou seja o Exército hoje, contra os bandidos, ou seja da Polícia hoje, contra os animais ferozes, ou seja algo equivalente a uma Polícia florestal.

Mas esse guerreiro não era um naturalista todo apoiado em seus conhecimentos materiais da guerra, das armas e das tecnologias. É, sem excluir isso, o contrário disso.

O guerreiro típico da Idade Média é o guerreiro que combate por uma razão religiosa.

Ainda que de imediato se trate de uma guerra feudal, em que estão, portanto, envolvidas questões de terras, a veracidade da palavra empenhada, não empenhada, etc., etc., no fundo há algo de religioso.

A família era tida como uma pequena pátria, e deixar de pertencer à família era uma vergonha como deixar de pertencer à pátria.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A vida burguesa orgânica: fenômeno tipicamente medieval

Feltre, Itália: a vida comunal tinha admirável riqueza e originalidade
Luis Dufaur
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Desde quando acabam as invasões, a vida ultrapassa os limites do domínio senhorial.

As famílias não se bastam mais a si próprias.

Toma-se então o caminho da cidade, o tráfico se organiza, e logo, vencendo as muralhas, surgem os burgos.

É então, a partir do século XI, o período de grande atividade urbana.

Dois fatores de vida econômica, até aqui secundários, vão tomar uma importância de primeiro plano: o artesanato e o comércio.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O Pálio de Siena, glória da cidade medieval na Civilização Cristã (5)

Palio de Siena, corrida, a cidad medieval.

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Continuação do post anterior: O Pálio de Siena, onde o passado glorioso da Civilização Cristã entra no presente (4)




O prêmio pertence ao santo patrono

No pátio do Palácio Público surgem os dez cavalos com os seus jóqueis, e são vagarosamente conduzidos ao ponto de partida, onde se colocam em ordem pré-estabelecida por sorteio, e esperam.

O juiz dá um sinal, cai a corda que os retém, da multidão irrompe um clamor imenso, os cavalos disparam.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

O Pálio de Siena, onde o passado glorioso da Civilização Cristã entra no presente (4)

Palio di Siena, a cidade medieval

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Continuação do post anterior: O Pálio de Siena, relíquia palpitante de vida da Civilização Cristã (3)



 Uma cidade revive seu passado

O cortejo histórico do Pálio de Siena é mais do que uma simples reconstituição arqueológica.

É a revivescência da tradição de uma cidade, pela qual um povo toma consciência de si mesmo, de seu passado, de seus valores, de sua personalidade e de seus traços característicos.

No brilho e no pitoresco dos trajes medievais, com seu talhe esbelto, com a variedade de seus adornos, capacetes, couraças, plumas, emblemas, se refletem as glórias antigas da cidade.

Mas se espelha sobretudo a alma de um povo, com seu talento artístico, sua vivacidade, sua riqueza de expressão, suas virtudes.

Nada a ver com os espetáculos de massa das cidades hodiernas. É isto, mais que tudo, que explica o entusiasmo em meio do qual o desfile decorre.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

O Pálio de Siena, relíquia palpitante de vida da Civilização Cristã (3)

Palio di Siena, a cidade medieval

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Continuação do post anterior: O Pálio de Siena, relíquia palpitante de vida da Civilização Cristã (2)


Entre a "prova generale" e a "provaccia", um banquete

Nos dias que antecedem a corrida, a cidade toda se agita com os preparativos.

A municipalidade anuncia em termos solenes a sua próxima realização, as contradas se aprestam, as casas são enfeitadas, preparam-se as vestes para o desfile, ninguém comenta outra coisa senão o Pálio: Siena vai viver seu grande dia.

A corrida tem regras muito peculiares, a começar pelo sorteio dos cavalos entre as contradas.

Os capitães escolhem os dez melhores entre os animais que podem concorrer, e cada um destes recebe um número, colocado sob a sua orelha direita; uma criança, retirando de uma urna um número e de outra um nome, decide a qual contrada será entregue cada cavalo.

Palio di Siena, cavalo, a cidade medieval
Aconteça o que acontecer, a escolha pela sorte não pode ser mudada.

Em duas ocasiões sucedeu de um cavalo morrer durante os treinos: os representantes da contrada infeliz desfilaram na festa com uma tarja na bandeira e uma capa preta nos tambores silenciosos.

As montarias são levadas para as respectivas contradas, onde são tratadas e vigiadas com grande cuidado. O capitão sorteia o jóquei, que poderá, conforme sua atuação, tornar-se famoso ou execrado.

Começa então uma série de treinos, para habituar os cavalos com a saída e com os perigos do percurso.

Na tarde da véspera todos correm, já vestidos com seus uniformes, a "prova generale", após a qual participam de um grande banquete. E na manhã do grande dia há um último treino, a "provaccia".

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O Pálio de Siena, relíquia palpitante de vida da Civilização Cristã (2)

Palio di Siena, a cidade medieval
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Continuação do post anterior: Siena e seu Palio: relíquia que vibra ainda pelo impulso da vida da Civilização Cristã (1)


 Em louvor da Virgem

O Pálio não é apenas uma festa esportiva e guerreira, é também uma comemoração religiosa.

A primeira corrida se realiza no dia 2 de julho, em honra da Madona de Provenzano, e a segunda a 16 de agosto, em louvor de Nossa Senhora da Assunção.

Esta especial devoção dos sienenses para com a Mãe de Deus, a Quem elegeram como Padroeira da cidade, tem origens muito antigas.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Siena e seu Palio: relíquia que vibra ainda
pelo impulso da vida da Civilização Cristã (1)


Luis Dufaur
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Quem viaja pela Toscana e chega de noite a Siena atravessa majestosas muralhas e percorre ruas antigas e tortuosas, cheias de mistérios e de encanto.

Assim chega até a Piazza del Campo, centro da história da cidade através dos séculos. Se sobe pela Via di Cittá encontra a catedral, das mais lindas joias da arte medieval italiana, na riqueza de seus mármores e mosaicos.

Então, a pessoa sente a impressão de ter penetrado num mundo de sonhos.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Gôndolas: um meio de transporte original
herdado da Veneza medieval

Cada góndola é feita à medida do gondoleiro
Cada góndola é feita à medida do gondoleiro
Luis Dufaur
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As gôndolas negras deslizam pelos canais de Veneza ostentando os sinais de um pequeno, mas requintado grupo de artesãos que mantêm vivos os métodos tradicionais de construção, informou a “Folha de S.Paulo”.

Cerca de 700 anos atrás, existiam 7.000 delas em Veneza, mas seu uso cotidiano foi suplantado pelo de barcos mais modernos.

Restam 433, primordialmente dedicadas a atender as saudades dos turistas.

O construtor de gôndolas Roberto Tramontin explica que uma gôndola demora dois meses para ser construída, leva 280 peças de madeiras diversas, como limoeiro, carvalho, mogno, nogueira, cerejeira, abeto, lárix e olmo, e custa cerca de € 38 mil (R$ 123 mil).

A madeira é tratada durante até um ano antes de ser modelada na forma cilíndrica ligeiramente assimétrica, o que permite a um único gondoleiro conduzir a embarcação em linha reta.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Deslumbrante crescimento não planificado
do comércio medieval

A atividade comercial recuperou as vías fluviais pouco aproveitadas
A atividade comercial recuperou as vías fluviais pouco aproveitadas
Luis Dufaur
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Cada cidade possuía, num grau difícil de imaginar nos nossos dias, a sua personalidade própria, não somente exterior, mas também interior, em todos os detalhes da sua administração, em todas as modalidades da sua existência.

São geralmente, pelo menos no Midi, dirigidas por meirinhos, cujo número varia: dois, seis, por vezes doze; ou ainda um único reitor reúne o conjunto dos cargos, assistido por um preboste que representa o senhor, quando a cidade não tem a plenitude das liberdades políticas.

Muitas vezes ainda, nas cidades mediterrânicas faz-se apelo a um poderoso (podestà), instituição muito curiosa.

O poderoso é sempre um estrangeiro (os de Marselha são sempre italianos), ao qual se confia o governo da cidade por um período de um ano ou dois.

Em toda parte onde foi empregado, este regime deu inteira satisfação.

Em todo caso, a administração da cidade compreende um conselho eleito pelos habitantes, geralmente por sufrágio restrito ou com vários graus, e assembléias plenárias que reúnem o conjunto da população, mas cujo papel é sobretudo consultivo.

Os representantes dos ofícios têm sempre um lugar importante, e sabemos qual foi a parte ocupada pelo preboste dos comerciantes em Paris nos movimentos populares do século XIV.

A grande dificuldade com que as comunas se debatem são os embaraços financeiros.

Marceneiro e sua família. Os locais de trabalho costumavam ser na própria residência familiar.
Marceneiro e sua família.
Os locais de trabalho costumavam ser na própria residência familiar.
Quase todas se mostram incapazes de assegurar uma boa gestão de recursos.

O poder é, aliás, rapidamente absorvido por uma oligarquia burguesa, que se mostra mais dura para com o povo miúdo do que tinham sido os senhores, daí a rápida decadência das comunas.

São muitas vezes agitadas por perturbações populares, e periclitam a partir do século XIV; um tanto ajudadas, é preciso dizê-lo, pelas guerras da época e pelo mal-estar geral do reino.

Nos séculos XII e XIII o comércio toma uma extensão prodigiosa, já que uma causa exterior, as cruzadas, vem dar-lhe um novo impulso.

As relações com o Oriente, que nunca tinham sido completamente interrompidas nas épocas precedentes, conhecem então um vigor novo.

As expedições ultramarinas favorecem o estabelecimento dos nossos mercados na Síria, Palestina, África do Norte, e mesmo nas margens do mar Negro.

Italianos, provençais e languedócios fazem entre si uma severa concorrência, e se estabelece uma corrente de trocas cujo centro é o Mediterrâneo.

Ela vai seguindo a estrada secular do vale do Reno, do Saône e do Sena até ao norte da França, países flamengos e Inglaterra.

Essa estrada já era seguida pelas caravanas que, antes da fundação de Marselha no século VI a.C., transportavam o estanho das ilhas Cassitérides — isto é, da Grã-Bretanha — até aos portos freqüentados pelos comerciantes fenícios.

É a época das grandes feiras de Champagne, Brie e Ilha de França — Provins, Lagny, Londit, San Denis, Bar, Troyes — aonde chegam as sedas, os veludos e os brocados, o alúmen, a canela e o cravo-da-Índia, os perfumes e as especiarias vindos do centro da Ásia, e que em Damasco ou em Jaffa eram trocados pelos tecidos de Douai ou de Cambrai, as lãs da Inglaterra e as peles da Escandinávia.

As casas de comércio de Gênova ou de Florença tinham nos nossos mercados as suas sucursais permanentes.

Os banqueiros lombardos ou de Cahors negociavam aí com os representantes das hansas do Norte e entregavam letras de câmbio válidas até nos distantes portos do mar Negro.

A atividade comercial tinha seu epicentro nas feiras livres em praças públicas
A atividade comercial tinha seu epicentro nas feiras livres em praças públicas
As nossas estradas conheciam assim uma extraordinária animação. A importância do mercado oriental é capital na civilização medieval.

Já a Alta Idade Média tinha conhecido o Oriente através de Bizâncio: a igreja de Paris recitava em grego uma parte dos seus ofícios; foram os marfins bizantinos que verdadeiramente reensinaram ao Ocidente a arte esquecida de esculpir a madeira e a pedra; e a decoração dos manuscritos irlandeses inspira-se nas miniaturas persas.

Mais tarde os árabes conduzem as suas conquistas com a brutalidade que sabemos, e cortam por algum tempo as pontes entre as duas civilizações.

Mas vêm as cruzadas, e o mercado oriental — ao qual corresponde, aliás, um mercado “franco” na Ásia Menor, que trabalhos recentes manifestaram — banha toda a Europa e a faz conhecer a vertigem do tráfego, o deslumbramento dos frutos estranhos, dos tecidos preciosos, dos perfumes violentos, dos costumes suntuosos, e inunda com a sua luz essa época apaixonada pela cor e pela claridade.

Sobretudo multiplica esse gosto pelo risco, essa sede de movimento, que na Idade Média coexiste de forma tão tocante com a ligação à terra.



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