segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Placidez no comércio, na produção e nos sindicatos medievais

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Nas águas plácidas deste canal da cidade belga de Gand, refletem-se há séculos as fachadas típicas de alguns prédios da Idade Média e da Renascença.

Prédios que dão uma singular impressão de equilíbrio arquitetônico, pelo contraste harmônico entre sua massa imponente, grave e sólida, e a decoração rica, variada e quase fantasiosa de suas fachadas.

Para que serviram primitivamente estes edifícios tão recolhidos e quase diríamos tão pensativos?

Residências patrícias? Centros de estudos? Não.

Eram ocupados por entidades de cunho corporativo: à extrema direita, a sede da corporação dos Barqueiros Livres; depois, a casa dos Medidores de Grãos, vizinha do pequeno edifício da Alfândega, onde os mercadores medievais vinham declarar suas mercadorias. Em seguida, o Celeiro, e por fim a Corporação dos Pedreiros.

Casas de trabalho e de negócios, pois. E nestas casas a história nos diz que se desenvolveu uma atividade das mais intensas e produtivas.

Mas a produção econômica ainda não estava envolvida pelas influências materialistas de hoje, e por isto ela se fazia num ambiente de calma, de pensamento e de fino gosto.

Não na atmosfera febricitante, trepidante, irrefletida e proletarizante que tantas vezes a marca em nossos dias.

Quem imaginaria para edifícios burgueses tanta nobreza, e para corporações de trabalho tanto bom gosto?

Mais do que um problema de arte, há aqui um problema de mentalidade.

Segundo uma concepção espiritualista, o melhor modo de agir humano se faz com a mente, e por isto a produção econômica dá o melhor de si mesma, como qualidade e até como quantidade, quando feita na calma sem ócio e no recolhimento meditativo.

Segundo uma concepção materialista, vale mais a quantidade que a qualidade, o agir do corpo que o da alma, o corre-corre do que a reflexão, e a superexcitação nervosa do que o pensamento autêntico. E daí a atmosfera vibrante de certas bolsas ou de certas grandes artérias modernas.

* * *

À superexcitação dos ambientes corresponde a dos homens, como o efeito à causa.

"Os síndicos dos mercadores de tecidos", Rembrandt
"Os síndicos dos mercadores de tecidos", Rembrandt
Todos conhecemos este tipo de businessman que masca chicles, rói as unhas, bate com os pés no chão, é hipertenso, cardíaco, nevrótico.

Como é diferente, este tipo, dos burgueses plácidos, estáveis, dignos, prósperos, e de olhar inteligente, que o pincel de Rembrandt nos apresenta no admirável quadro "Os síndicos dos mercadores de tecidos".

Foram homens destes que, com meios de comunicação ainda incertos e lentos, deitaram para todas as direções a rede de suas atividades e lançaram as bases do comércio moderno.

Sua obra, entretanto, foi realizada na tranqüilidade e quase diríamos no recolhimento. Eles ainda espelham a atmosfera peculiar aos antigos prédios que analisamos.

Lição fecunda para nosso pobre mundo, cada vez mais devastado pelas nevroses.



Plinio Corrêa de Oliveira, CATOLICISMO, agosto de 1958



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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Os reis apoiaram as liberdades e os privilégios municipais

Luís VI

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
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A realeza dá o exemplo na outorga de liberdades às comunas rurais. A “Carta de Lorris”, concedida por Luís VI, suprime as “corvées”, a servidão; reduz as contribuições, simplifica o processo de justiça; e estipula, além disso, a proteção dos mercados e das feiras:

“Nenhum homem da paróquia de Lorris pagará quaisquer taxas ou direitos por aquilo que é necessário à sua subsistência, nem pelas colheitas feitas por trabalho seu ou de seus animais, nem pelo vinho que obteve de suas vinhas.

“A ninguém será exigida cavalgada ou expedição que não permita voltar no mesmo dia para casa, caso queira.

“Ninguém pagará pedágio para Étampes, Orléans, Milly, Gâtinais e Melun.

“O que tiver sua propriedade na paróquia de Lorris estará isento do seu confisco, se cometer alguma falta, a menos que seja contra Nós ou nossa gente.

“Ninguém que venha às feiras ou ao mercado de Lorris, ou que delas volte, poderá ser preso ou atormentado, a menos que tenha cometido alguma falta nesse dia.

“Ninguém, nem Nós nem outros, poderá impor a “talha” aos homens de Lorris.

“Nenhum dentre eles fará “corvée” para Nós, a não ser uma vez ao ano, e para levar nosso vinho a Orléans e não além.

“Todo aquele que permanecer um ano e um dia na paróquia de Lorris sem que ninguém proteste, e desde que não tenha sido proibido por Nós nem por nosso representante, daquele dia em diante será livre”.
A pequena vila de Beaumont recebe pouco depois os mesmos privilégios, e logo o movimento se delineia por todo o reino.



(Fonte: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” - Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)





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