segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Como era a vida do povo na Idade Média?

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
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Como é que os medievais eles próprios descreviam a vida popular na sua época?

Os medievais faziam muito iluminuras, quer dizer, pequenos desenhos que ilustravam as páginas de seus livros.

Pois os livros eram escritos à mão até o momento em que Gutenberg inventou a tipografia.

Na foto ao lado encontramos uma cena da vida campestre pintada por um medieval.

Acontece num dia do inverno europeu, portanto com muita neve.

Mas o frio não parece incomodá-los quase. Eles estão cheios de saúde e vigor. Todos eles estão trabalhando, indo ou voltando da igreja, e mostram enorme vitalidade.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Corporações: ufania do próprio ofício
e projeção política no governo municipal

Comércio
Luis Dufaur
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“O artesão medieval tem em geral grande amor e zelo pela própria profissão.

“Encontra-se um testemunho disso nos romances de profissão, como os de Thomas Deloney sobre os tecelões e sapateiros de Londres, no qual estes últimos intitulam seu trabalho como “a nobre profissão”, e têm orgulho do provérbio: “todo filho de sapateiro é príncipe nato”.

“É um traço especialmente medieval este orgulho do próprio estado e o zelo das corporações na reivindicação de seus privilégios.

“Um dos mais preciosos para a época era o de poder julgar os delitos cometidos por seus membros.

“Mas a corporação estima essencialmente a liberdade de administrar-se por seus próprios representantes. Para isso é eleito cada ano um conselho de mestres escolhido de mil maneiras, quer pelo conjunto da corporação, quer apenas pelos mestres. Os usos variam segundo os ofícios.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Estímulo à cortesia e à dignidade da vida no povo medieval

Prefeitura de Stein-am-Rhein, Alemanha
Prefeitura de Stein-am-Rhein, Alemanha
Luis Dufaur
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A poesia de aldeias humildes, que contribuem para proporcionar ao povo os valores de cortesia e de dignidade de vida numa civilização católica não é o privilégio da aristocracia.

Pelo contrário, a arte animada pelo espírito cristão favorece essas qualidades em todas as classes sociais no modo que é próprio a cada uma delas.

Por toda a Europa florescem - não há outra expressão - aldeias assim. A um tempo fontes, relicários e sementeiras de uma vida de alma admirável, própria a um povo que não foi transformado em massa.

Como teriam a lucrar na consideração destes exemplos tantas das cidades de nosso interior, às quais a penetração do espírito revolucionário, todo materialista e utilitário, privou desde o nascedouro do encanto de São João del Rei, de Congonhas do Campo, em Minas, de M'Boy, em São Paulo, etc.!

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Maravilhosa estabilidade do povinho medieval: trabalho sem pressa, sem aflição –crônicas da família

Luis Dufaur
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Em geral, as iluminuras da Idade Média representam um operário trabalhando no seu métier, uma dona de casa cozinhando ou costurando, ou um calígrafo no seu pupitre desenhando uma letra.

Em cima tem um passarinho, e o passarinho tem um rolinho de pergaminho no qual se encontra um trecho da Escritura, umas coisas assim.

Todos eles são representados com uma coisa que eu não me farto de admirar quando me cai debaixo dos olhos: o sossego, a estabilidade, a tranquilidade e o gosto de viver na repetição das mesmas coisas, no interior do mesmo ambiente, fazendo o mesmo trabalho que leva longos dias, meses e, às vezes, anos, executado sem pressa, contanto que ele saia perfeito.

Representa mais ou menos o que na ordem material representa a lei da gravidade. 

A lei da gravidade no campo artístico é uma coisa sem valor porque é a força que nos puxa para um elemento vil como é a terra. 

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Corporações: independência trabalhista e importância político-social

Preboste dos mercaderes e magistrados municipais de Paris
Preboste dos mercadores e magistrados municipais de Paris
Luis Dufaur
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“Para melhor se defenderem, e por um costume caro à época, os comerciantes medievais tinham o hábito de se associarem.

“Há no princípio, para os navios, o que se chama a “conserva”: dois ou mais navios decidem fazer juntos sua viagem, e esta decisão é objeto de um contrato, que não se rompe sem se expor a sanções e a uma multa.

“De outro lado, os comerciantes de uma cidade, onde quer que eles se encontrem, formam uma associação e elegem um representante seu para os administrar, e, se for necessário, assumir a responsabilidade ou a defesa de seus interesses.

“As ferrarias mais importantes têm um cônsul permanente — ou pelo menos durante a grande “estação” comercial, que vai de São João (24 de junho) a Santo André, em novembro — fiscalizando os armazéns.

“Marseille nos oferece o exemplo dessa instituição dos cônsules, comum nas cidades do Mediterrâneo, cujas decisões só podiam ser suprimidas pelo reitor da comuna e tinham até força da lei. Havia também cônsules na maior parte das cidades da Síria e do Norte da África, em Acre, Ceuta, Bougie, Túnis e nas Baleares.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

As corporações de mestres (patrões) e aprendizes ditavam as leis trabalhistas

Comércio. Catedral de Chartres, vitral dos Apóstolos
Padaria, venda de pães. Vitral dos Apóstolos, catedral de Chartres, França
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“O exercício de cada profissão era objeto de uma minuciosa regulamentação, que existia principalmente para manter o equilíbrio entre os membros da corporação.

Toda tentativa para embaraçar um mercado, todo esboço de entendimento entre alguns mestres em detrimento de outros, toda apropriação de quantidades excessivamente grandes de matérias-primas, eram severamente punidas.

“Nada mais contrário ao espírito das antigas corporações do que os grandes estoques, a especulação ou os “trusts”.

“Era também punido o desvio da clientela dos vizinhos pelo abuso da propaganda.
Entretanto a concorrência existia sempre, mas restrita ao domínio das qualidades pessoais.

O único modo de atrair os fregueses era fazer pelo mesmo preço um determinado produto mais bem acabado e mais perfeito que o dos vizinhos.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Sindicatos da Idade Média: com espírito familiar trazendo concórdia e alegria para o trabalho

Corporação de sapateiros que doou um vitral para a catedral de Chartres

Luis Dufaur
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Elas (as corporações) se glorificavam por suas obras de caridade

Os joalheiros obtiveram assim permissão para vender nas festas dos apóstolos, no domingo e nos feriados em geral.

Tudo o que o joalheiro ganhasse então era colocado na caixa da confraria, e do dinheiro desta caixa dava-se todo ano, no dia da Páscoa, um jantar aos pobres do Hospital de Paris. 

Na maioria dos ofícios, os órfãos da corporação são educados às suas custas.

Tudo se passa numa atmosfera de concórdia e de alegria, da qual o trabalho moderno não pode dar uma idéia.

“As corporações e confrarias tinham cada uma suas tradições, suas festas, seus ritos piedosos e cômicos, canções e insígnias.

“Ainda segundo Thomas Deloney, para ser adotado como filho do “nobre ofício” um sapateiro deve saber “cantar, soar o corno, tocar flauta, martelar, combater com a espada e cantar seus instrumentos de trabalho em versos”.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

As corporações garantiam todas as formas de segurança social num espírito de amizade familiar

Milão, re-encenação confraria medieval

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A confraria, que era de origem religiosa e existia mais ou menos por toda parte, era um centro de ajuda mútua.

“Figuravam em primeiro plano as pensões concedidas aos mestres idosos ou já enfermos e os socorros aos doentes, durante todo o tempo da doença e da convalescença.

“Era um sistema de seguros em que cada caso podia ser conhecido e examinado em particular, o que permitia dar o remédio apropriado a cada situação e ainda evitar os abusos.

“Se o filho de um mestre é pobre e quer aprender, os homens de bem devem lhe ensinar por 5 soldos (taxa corporativa) e por suas esmolas — diz o estatuto dos fabricantes de escudos.

“A corporação ajudava ainda no caso de seus membros precisarem viajar ou por ocasião do desemprego.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

A corporação medieval no governo da cidade:
genuína democracia

Autoridades da corporação dos comerciantes de Paris em 1611. O chefe desta corporação passou a ser prefeito da cidade
Autoridades da corporação dos comerciantes de Paris em 1611.
O chefe desta corporação passou a ser prefeito da cidade
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A influência das corporações é tal na cidade, que acabam por desempenhar um papel político.

Em algumas cidades, como Marselha, os delegados dos ofícios tomam parte efetiva na direção dos assuntos comunais.

Fazem parte compulsivamente do conselho geral, nenhuma decisão que toque os interesses da cidade pode ser tomada sem eles, escolhem semanalmente os “semaneiros” que assistem o reitor, e sem os quais não se pode tomar deliberação.

Repetindo a expressão do historiador da comuna de Marselha, M. Bourrilly, os chefes de ofício eram “o elemento motor” da vida municipal, e poder-se-ia dizer que Marselha teve no século XIII um governo de base corporativa.

A confraria, que existe um pouco por toda parte, tem origem religiosa.

Mesmo onde o ofício não está organizado em mestria ou confraria (jurande), é um centro de entreajuda.

Entre os encargos que pesam regularmente sobre a caixa da comunidade, figuram em primeiro lugar as pensões dadas aos mestres idosos ou enfermos, e durante o tempo de doença e de convalescença as ajudas aos membros doentes.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Independência das corporações (sindicatos) medievais

O controle de qualidade e os julgamentos eram feitos por autoridades da própria corporação
O controle de qualidade e os julgamentos
eram feitos por autoridades da própria corporação
Luis Dufaur
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O exercício de cada ofício era objeto de uma regulamentação minuciosa, que tendia antes de tudo a manter o equilíbrio entre os membros da corporação.

Nada mais contrário ao espírito das antigas corporações do que o aprovisionamento, a especulação ou os nossos modernos trusts.

Qualquer tentativa para tomar um mercado, qualquer esboço de entendimento entre alguns mestres em detrimento dos outros, qualquer manobra para monopolizar uma excessiva quantidade de matérias-primas, eram severamente reprimidas.

Era também implacavelmente punido o ato de desviar para seu proveito a clientela de um vizinho, o que nos nossos dias se chamaria abuso da publicidade.

A concorrência existia, mas restrita ao domínio das qualidades pessoais.

A única forma de atrair um cliente era fazer melhor, mais acabado e mais cuidado, por preço igual ao do vizinho.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Corporação medieval:
anos-luz à frente do sindicato atual

Tanoeiros fazendo pipas, vitral da catedral de Chartres
Tanoeiros fazendo pipas, vitral da catedral de Chartres
Luis Dufaur
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Além do comércio, o elemento essencial da vida urbana é o ofício.

A forma como foi compreendido na Idade Média, como se regulou o seu exercício e as suas condições, mereceu reter particularmente a atenção da nossa época, que vê no sistema corporativo uma solução possível para o problema do trabalho.

Mas o único tipo de corporação realmente interessante é a corporação medieval, tomada no sentido lato de confraria ou associação de ofício, logo alterada sob pressão da burguesia.

Os séculos seguintes não conheceram dela senão deformações ou caricaturas.

Não poderíamos definir melhor a corporação medieval do que vendo nela uma organização familiar aplicada ao ofício.

Ela é o agrupamento, num organismo único, de todos os elementos de um determinado ofício: patrões, operários e aprendizes estão reunidos, não sob uma autoridade dada, mas em virtude dessa solidariedade que nasce naturalmente do exercício de uma mesma indústria.

Como a família, ela é uma associação natural, não emana do Estado nem do rei.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

O urbanismo medieval: glória da Igreja Católica

Albrechtsburg, Meissen, Sachsen. A cidade medieval
Albrechtsburg, Meissen, Sachsen
Luis Dufaur
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O clero multiplicou nossos vilarejos, fez crescer e embelezou nossas cidades.

Diversos bairros de Paris, tais como os de Santa Genoveva e de Saint-Germain-l’Auxerrois, surgiram em parte às custas das abadias dos mesmos nomes.

Em geral, onde quer que se estabelecesse um mosteiro, ali se formava uma aldeia: a Chaise-Dieu, Abbeville, e muitos outros lugares levam ainda em seus nomes a marca de sua origem.

A cidade de Sante Salvatore, aos pés do Monte Cassino, na Itália, e os burgos circundantes, são obra dos religiosos de São Bento.

Em Fulda, Mainz, em todos os círculos eclesiásticos da Alemanha, na Prússia, Polônia, Suíça, Espanha, Inglaterra, uma multidão de cidades tiveram por fundadoras Ordens monásticas ou militares.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Cada profissão era um universo autônomo de privilégios e leis próprias

Cristo vigia o trabalho dos sapateiros
Luis Dufaur
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O exercício de cada profissão era objeto de uma minuciosa regulamentação, que existia principalmente para manter o equilíbrio entre os membros da corporação.

Toda tentativa para embaraçar um mercado, todo esboço de entendimento entre alguns mestres em detrimento de outros, toda apropriação de quantidades excessivamente grandes de matérias-primas, eram severamente punidas.

Nada mais contrário ao espírito das antigas corporações do que os grandes estoques, a especulação ou os “trusts”.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Relações familiares entre patrões e empregados no trabalho

Mestre açougueiro e aprendiz
Luis Dufaur
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Durante toda a Idade Média, no início as oportunidades são as mesmas para todos, e o aprendiz só não se torna mestre por falta de jeito ou indolência.

O aprendiz liga-se a seu mestre por um contrato de aprendizagem — sempre esse laço pessoal, caro à Idade Média — comportando obrigações a ambas as partes: para o mestre, a de formar seu aluno no ofício, e seu sustento durante esse tempo; para o aprendiz, obediência a seu mestre e dedicação ao trabalho.

Transpôs-se assim ao artesanato a dupla noção de “fidelidade-proteção”, que une o senhor a seu vassalo.

Mas como aqui uma das partes contratantes é uma criança de 12 a 14 anos, todos os cuidados são tendentes a reforçar sua proteção.

Deste modo, por um lado manifesta-se maior indulgência para com suas faltas, estorvamentos e até vagabundagens; por outro, delimitam-se severamente os deveres do mestre: ele não pode ter mais que um aprendiz por vez, para que seu ensino seja frutuoso; não pode explorar seus alunos, descarregando sobre eles uma parte de seu trabalho.

Mestre padeiro e aprendiz
O aprendiz só poderá exercer a profissão como mestre depois de exercer a maestria por um ano, para que se tenha certeza de suas qualidades técnicas e morais.

“Ninguém deve ter aprendiz se não for tão sábio e tão rico que o possa ensinar, governar e sustentar, e isso deve ser conhecido pelos homens que protegem o ofício” — dizem os regulamentos.

Eles fixam também quanto o mestre deve despender diariamente com a alimentação e manutenção do aluno.

Os mestres são ainda submetidos a um direito de visita, exercido pelos jurados da corporação, que vem a domicílio examinar como o aprendiz é alimentado, ensinado e tratado.

O mestre tem para com ele os deveres e obrigações de um pai. Entre outras coisas, deve velar por sua conduta moral.

O aprendiz lhe deve respeito e obediência, apesar de conservar uma certa independência.

No caso de ele abandonar a casa de seu mestre, este deve esperar um ano antes de tomar outro, e durante esse período é obrigado a recebê-lo, se voltar.

Todas as garantias do lado mais fraco, e não do mais forte.

O tempo do aprendizado varia segundo as profissões. Em geral é de 3 a 5 anos.

No final o aluno põe à prova suas habilidades perante os jurados de sua corporação.

Essa é a origem da obra-prima, cujas condições se irão complicando com o correr dos séculos.

Armeiros
Ele deve pagar uma taxa, aliás mínima, que corresponde à sua quota da corporação.

Em alguns ofícios em que o comerciante deve provar sua solvabilidade, exige-se uma caução.

Foram estas as condições da maestria na Idade Média.

A partir do século XIV elas haviam sido independentes, mas a partir de então começam a se ligar ao poder central.

O acesso à maestria vai sendo dificultado pouco a pouco.

Por exemplo, tornou-se então obrigatório em quase todas as corporações um estágio intermediário de 3 anos, como companheiro; o postulante devia desembolsar o que se chamou “compra do ofício”, variando de 5 a 20 soldos.




(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)


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segunda-feira, 20 de abril de 2020

Autonomia operária e burguesa nas sociedades comerciais
e nas corporações de ofício

Orvieto, parada na festa de Corpus Christi:
bandeiras das corporações de sapateiros e açougueiros
Luis Dufaur
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Para melhor se defenderem, e por um costume caro à época, os comerciantes têm o hábito de se associarem.

Há no princípio, para os navios, o que se chama a “conserva”: dois ou mais navios decidem fazer juntos sua viagem, e esta decisão é objeto de um contrato, que não se rompe sem se expor a sanções e a uma multa.

De outro lado, os comerciantes de uma cidade, onde quer que eles se encontrem, formam uma associação e elegem um representante seu para os administrar, e, se for necessário, assumir a responsabilidade ou a defesa de seus interesses.

As ferrarias mais importantes têm um cônsul permanente — ou pelo menos durante a grande “estação” comercial, que vai de São João (24 de junho) a Santo André, em novembro — fiscalizando os armazéns.

Marseille nos oferece o exemplo dessa instituição dos cônsules, comum nas cidades do Mediterrâneo, cujas decisões só podiam ser suprimidas pelo reitor da comuna e tinham até força da lei.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

As cidades medievais em desenvolvimento

Luis Dufaur
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A história da evolução de uma cidade na Idade Média é um dos espetáculos mais cativantes.

Cidades mediterrâneas, como Marseille, Arles, Avignon ou Montpellier, rivalizando pela sua audácia com as grandes cidades italianas no comércio de aquém-mar; centros de tráfico, como Laon, Provins, Troyes ou Le Mans; núcleos de indústria têxtil, como Cambrai, Noyon ou Valenciennes; todas demonstraram um ardor, uma vitalidade sem igual. Obtiveram, além do mais, a simpatia da realeza.

Já que as cidades libertas entravam na enfiteuse real, não procuravam elas por este fato, em seu desejo de emancipação, a dupla vantagem de enfraquecer o poder dos senhores feudais e aumentar com isso inesperadamente o domínio real?

segunda-feira, 23 de março de 2020

Os guerreiros medievais: sua missão social inspirada por uma “visão” mística de Jesus Cristo

Santo Estevão, rei da Hungria
Santo Estevão, rei da Hungria
Luis Dufaur
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O homem de luta e de ideal na Idade Média foi o guerreiro.

Sua missão social era ser protetor contra os inimigos externos, ou seja o Exército hoje, contra os bandidos, ou seja da Polícia hoje, contra os animais ferozes, ou seja algo equivalente a uma Polícia florestal.

Mas esse guerreiro não era um naturalista todo apoiado em seus conhecimentos materiais da guerra, das armas e das tecnologias. É, sem excluir isso, o contrário disso.

O guerreiro típico da Idade Média é o guerreiro que combate por uma razão religiosa.

Ainda que de imediato se trate de uma guerra feudal, em que estão, portanto, envolvidas questões de terras, a veracidade da palavra empenhada, não empenhada, etc., etc., no fundo há algo de religioso.

A família era tida como uma pequena pátria, e deixar de pertencer à família era uma vergonha como deixar de pertencer à pátria.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A vida burguesa orgânica: fenômeno tipicamente medieval

Feltre, Itália: a vida comunal tinha admirável riqueza e originalidade
Luis Dufaur
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Desde quando acabam as invasões, a vida ultrapassa os limites do domínio senhorial.

As famílias não se bastam mais a si próprias.

Toma-se então o caminho da cidade, o tráfico se organiza, e logo, vencendo as muralhas, surgem os burgos.

É então, a partir do século XI, o período de grande atividade urbana.

Dois fatores de vida econômica, até aqui secundários, vão tomar uma importância de primeiro plano: o artesanato e o comércio.