terça-feira, 7 de agosto de 2018

Governantes e súbditos na Idade Média: relacionamento com protocolo, cerimônia e grande respeito mútuo


Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



Como os governantes – senhor feudal, bispo, autoridades municipais – comunicavam ao povo as informações e decisões de interesse geral?

Hoje confia-se tudo aos meios de comunicação social que, muitas vezes deixam o que desejar.

Na Idade Média – e até em épocas posteriores, inclusive no Brasil imperial – exerciam essa função proclamadores oficiais.

Seu ofício era dar a conhecer, lendo ou recitando, as normas ou informações a viva voz, a pé ou a cavalo, pelas ruas e praças, por vezes acompanhados de trompetes, ou outros instrumentos sonoros.

E, para caracterizar bem a dignidade e importância de sua missão, iam revestidos de símbolos que indicavam a autoridade que os tinha enviado.

O espírito humano sente a necessidade de que as coisas importantes sejam rodeadas de cerimônia e protocolo. De ali os métodos dos proclamadores, suas roupagens, símbolos e aparato proporcionado.

O nascimento do príncipe George em Londres teve um pitoresco e muito difundido momento que nos remonta a essas épocas.

Acontece que na Grã-Bretanha e em alguns países da área cultural anglo-saxã ainda se conserva a tradição dos proclamadores oficiais, por exemplo na Austrália.

Foi assim que, com um tricórnio de plumas, grande uniforme de veludo vermelho, brasões e franjas douradas, um sino numa mão, um manuscrito desenrolado na outra e voz sonora, Tony Appleton, proclamador oficial da cidade de Romford (50 km de Londres) anunciou o gaudioso nascimento do mais novo principezinho inglês.

O curioso é que segundo o jornal francês “Le Figaro”, embora Tony Appleton seja de fato um proclamador oficial, no entanto não tinha licença para exercer essa função em Londres, tendo agido por iniciativa própria.

Este pormenor importante só veio a ser conhecido depois. Na hora todo o mundo achou normal que um acontecimento como o advento do bebê real fosse anunciado com pompa condigna.

E os que o ouviram se sentiram dignificados pois a autoridade enviava um representante pomposamente ataviado para informa-los.

Numa entrevista à agência Associated Press, o arauto oficial explicou: “Eu não fui convidado, eu me convidei para a festa. Eu saí do táxi, fiquei ao pé da escada do hospital e desempenhei meu papel.”

Como incontáveis ingleses, Tony Appleton gosta da família real. Ele achou inadequado que a cidade de Londres não enviasse um arauto – como é seu caso em Romford e o de muitos outros em diferentes cidades inglesas – para desempenhar esse papel de pomposo anunciador da feliz boa nova.

Mas jornalistas e redações de jornal, como também milhões de leitores de jornais, público de TV e Internet, acharam inteiramente coerente que o nascimento de um príncipe fosse anunciado por um cerimoniário que evoca os tempos medievais.

Este quiproquo pôs em evidencia da necessidade do protocolo e da pompa, estão impregnados na alma humana, sobre tudo quando tem uma conotação medieval

O fundo da natureza dos homens pede cerimônias e cerimoniários como o “arauto oficial” Tony Appleton – não de Londres ou da família real, mas de Romford.

A “façanha” individualista de Tony Appleton ficou rodeada de simpatia. Ele conta que muitas futuras mães já ficaram de contratá-lo para anunciar o nascimento de seus bebês. Como na Idade Média...



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