São Bento, pai dos monges de Ocidente, alma fundadora da Cristandade medieval. Estátua em Montecassino, Itália |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No início da Idad Média, a Europa inteira não tinha nem caminhos nem pousadas; suas florestas estavam cheias de ladrões e assassinos; suas leis eram impotentes, ou, sobretudo, ali não havia lei alguma; a Religião só, como uma grande coluna elevada no meio das ruínas bárbaras, oferecia abrigos e um ponto de comunicação aos homens.
Sob a segunda linhagem de nossos reis, a França tendo caído na anarquia mais profunda, sobretudo os viajantes eram detidos, espoliados e mortos ao cruzar os rios.
Monges hábeis e corajosos tiveram a iniciativa de remediar estes males.
Formaram entre eles uma companhia, sob o nome de ‘hospitalários pontífices’ ou ‘fazedores de pontes’.
Obrigavam-se, pela sua instituição, a prestar socorro aos viajantes, a reparar os caminhos públicos, a construir pontes, a hospedar os estrangeiros nas hospedarias que eles elevavam à beira dos rios.
Hospitais de religiosos e religiosas atendiam gratuitamente |
Foi esta ordem que construiu a ponte sobre o Ródano, em Avinhão.
Sabe-se que as encomendas e correios, aperfeiçoadas por Luís XI, foram primeiramente estabelecidas pela Universidade de Paris.
Sobre uma íngreme e alta montanha do Rouergue, coberta de neve e brumas durante oito meses do ano, percebe-se um mosteiro, construído pelo ano de 1120, por Alard, visconde de Flandres.
Uma legião de monges tirou Europa do caos e da ignorância |
Tendo escapado ao perigo, foi fiel às suas promessas, e a hospedagem de Albrac ou de Aubrac elevou-se ‘in loco horroris et vastae solítudinis’, como diz a ata de fundação.
Alard ali fixou padres para o serviço da Igreja, cavaleiros hospitalários para escoltar os viajantes, e damas de qualidade para lavar os pés dos peregrinos, arrumar seus leitos, e cuidar de suas vestimentas.
Antes de partir para reinos estrangeiros, o viajante dirigia-se a seu Bispo, que lhe dava uma carta apostólica, com a qual passava seguro por toda a Cristandade.
A forma dessas cartas variava conforme a categoria e a profissão do portador, donde serem denominadas 'formatae' .
Assim, a Religião ocupava-se em religar os fios sociais, que a barbárie rompia sem cessar.
Em geral, os mosteiros serviam como hospedarias onde os forasteiros encontravam, na passagem, víveres e teto.
Os mosteiros funcionavam também como hotéis e refúgios gratuitos |
Essa hospitalidade, admirada entre os antigos, e cujos restos ainda se vê no Oriente, era honrada entre nossos religiosos: vários dentre eles, com o nome de hospitalários, consagraram-se particularmente a essa virtude tocante.
Ela manifestava-se, como nos dias de Abraão, em toda a sua beleza antiga, pelo lava-pés, o fogo da lareira e as doçuras da refeição e do repouso.
Se o viajante era pobre, davam-se-lhe vestidos, víveres e algum dinheiro para poder chegar a outro mosteiro, onde recebia os mesmos socorros.
As damas montadas sobre seu palafrím, os valentes buscando aventuras, os reis extraviados durante a caçada, batiam, no meio da noite, à porta das velhas abadias, e vinham partilhar a hospitalidade que se dava ao obscuro peregrino.
Os mosteiros salvaram a cultura, os grandes escritos da Antiguidade pagã |
Boucicault, na volta da cruzada da Prússía, alojado num mosteiro com diversos cavaleiros ingleses, sustentou, só, contra todos, que um cavaleiro escocês, atacado por eles nos bosques, fora morto traiçoeiramente.
Nessas hospedarias da Religião, considerava-se prestar muita honra a um príncipe se se lhe propunha de tomar alguns cuidados dos pobres que por acaso ali se encontrassem.
O Cardeal de Bourbon, voltando após ter deixado a infortunada Elisabeth na Espanha, deteve-se no hospital de Roncevaux, nos Pirineus, serviu à mesa trezentos peregrinos, e deu a cada um três reais para continuarem sua viagem.
Le Poussin é um dos últimos viajantes que se beneficiou desse costume católico; foi à Roma, de mosteiro em mosteiro, pintando os quadros dos altares como retribuição pela hospitalidade que recebia.
(Autor : François René de Chateaubriand, « Génie du Christianisme », Garnier-Flammarion, Paris, 1966, Tomo II, pp. 219 a 226).
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