Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A dona de casa deve estender mais longe a sua solicitude (ver posts anteriores):
“Se um dos vossos serviçais cai em enfermidade, separai todas as coisas de uso comum, pensai nele muito amorosa e caridosamente, e visitai-o várias vezes; e pensai nele ou nela muito curiosamente, avançando a sua cura”.
Ela deve igualmente pensar nos “irmãos inferiores”, nesses animais domésticos que parece terem sido muito mais numerosos então do que nos nossos dias.
Não há miniatura de cenas de interior ou de vida familiar onde não figurem cães saltando ao pé dos donos, rondando em volta das mesas nos banquetes, ou ajuizadamente estendidos aos pés da dona ocupada a fiar.
Em todos os jardins se veem pavões desdobrarem ao sol a cauda luzidia. Assim, o autor do Ménagier recomenda à mulher:
“Mandai cuidar principal, cuidadosa e diligentemente dos animais domésticos, como cãezinhos e passarinhos de gaiola; e pensai igualmente nos outros animais domésticos, pois não podem falar, e por isso deveis falar e pensar por eles”.
As reservas de aves eram numerosas, e cada senhor ou burguês tinha o seu equipamento de caça, ainda que reduzido: um cão ou uma matilha, falcões, gaviões ou marelhões.
Se se gosta dos animais, não se apreciam menos as flores.
Além da rua e da casa, o cenário habitual da vida é o jardim.
Os manuscritos de iluminuras mostram inesquecíveis pinturas, com jardins cercados de muros a meia altura, sempre com um poço ou uma fonte, e um riacho que corre nas margens dos relvados.
Muitas vezes são parreiras, árvores em latadas onde acabam de amadurecer os frutos, ou ainda esses bosques de verdura onde, nos romances, cavaleiros e donzelas se encontram.
O que é notável é que a época não conhece a nossa distinção entre jardim hortícola e jardim floral.
Os canteiros acolhem flores e legumes.
Não restam dúvidas de que se achava agradáveis à vista tanto a baga desabrochada de uma couve-flor, a renda delicada das folhas de cenoura e a abundante folhagem de uma planta de melão ou de abóbora, como uma frisa de jacintos ou de tulipas.
Salve sancte custos. Pequeno livro de orações de Renée de France ornado com flores. |
O que não significa que não se apreciem as flores de puro enfeite, pois a nossa literatura lírica mostra-nos sem cessar pastoras e donzéis ocupados a entrançar “rosários” de flores e de folhagem.
Numerosos quadros e tapeçarias têm um fundo de florzinhas de cores suaves.
Mas se os autores das iluminuras semeiam de flores e pássaros os enquadramentos das páginas dos manuscritos, não deixam de tirar partido das plantas hortícolas, e a folha de alcachofra, estranhamente recortada, serviu de modelo a gerações de escultores, nomeadamente na época da arte flamboyant.
(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)
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entendi nada
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