Giethoorn: turistas podem alugar pequenas lanchas elétricas |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O espírito católico aspira a criar nesta terra de exílio ambientes de uma beleza que nos faça desejar o Céu, ainda quando os elementos naturais possam ser muito pobres ou adversos.
Um dos muitos exemplos disso vem até hoje desde o século XIII, e teve seu ponto de partida nos pântanos Weerribben-Wieden.
Esses eram um inferno de lama e mosquitos, mas ali se instalou um grupo de fugitivos da justiça pensando que a longa mão das autoridades não chegaria a um local tão infestado, segundo reportagem do “Clarín”.
Se não fossem católicos, o resultado teria sido um ninho de criminosos, mas a influência da Igreja os foi suavizando e tornando civilizados.
Os fugitivos encontraram o local cheio de carcaças de animais que haviam sido afogados pelas recentes enchentes
Giethoorn e sua vida social-cultural |
Mas oito séculos à sombra benéfica da Igreja embora não mudaram a configuração geológica da área, fizeram da paisagem matéria para inúmeros quadros.
O que foi um lugar a ser evitado, hoje é o alvo de quem quer viver a alegre experiência de visitar uma belíssima cidade na Holanda que não tem ruas e, portanto, não tem carros.
A 120 quilômetros a nordeste de Amsterdã, no lado oposto da baía de Ijseelmeer, está esta cidade de 2.600 habitantes que nem sequer possui município, pois pertence ao município de Steenwijkerland.
Sua principal característica, que a torna única, é que as casas e equipamentos urbanos estão localizados em ilhotas originalmente pantanosas, separadas por uma intrincada rede de canais de água abertos trabalhosa e estavelmente pelos moradores.
São muitas as pontes que ligam as casas, mas as possibilidades de caminhar são limitadas, pois ficam praticamente reduzidas a ir de uma casa a outra, o que carece de utilidade e incentivo para quem não é morador.
Os habitantes de Giethoorn, é claro, se transportam de um lugar para outro, mas o fazem em seu próprio barco, geralmente atracado à sua porta.
O turista pode fazer o mesmo, pois há uma frota de pequenas lanchas de aluguel – elétricas, para não perturbar o silêncio que reina em uma cidade sem carros – a preços muito razoáveis para percorrer os mais de seis quilômetros de canais da cidade.
A paisagem urbana é cuidadosamente mantida. O gramado comunal é sempre cortado, e muitas das casas se atrevem a optar por telhados verdes tradicionais, que muitas vezes são caros e difíceis de manter, mas que dão a Giethoorn uma aparência pitoresca incomparável.
Giethoorn convida a uma caminhada sem muitos objetivos, pelo prazer de experimentar a sensação de visitar uma cidade aquática.
O Museu da Fazenda, que reproduz como era uma fazenda familiar no início do século XIX. É pequeno, mas charmoso, exibindo as ferramentas e suprimentos cotidianos da época. E ilustra algo muito importante, até indispensável: a vida de família.
A família bem constituída abençoada pela Igreja é o pilar de toda sociedade feliz e ordenada. O contrário, se evidencia em tantas cidades modernas, ateizadas e em proa ao crime.
A aparência atual de Griethoorn deve-se à recorrente de turfa, material esponjoso útil para a agricultura produzido pelo acúmulo de detritos vegetais, que ocorreu na área ao longo dos séculos.
Ao desenraizar essa “esponja vegetal”, a água do Mar do Norte penetrou e gerou canais e lagoas.
Hoje a maioria dos habitantes da cidade trabalham nas grandes cidades holandesas próximas, para onde viajam diariamente deixando seus veículos estacionados na periferia e chegando de barco, é claro.
Apesar da abundância do turismo, Giethoorn mantém um ambiente muito calmo.
A ausência de trânsito e o ruído associado fazem com que suave deslizar dos barcos e o trinado dos pássaros seja praticamente a única banda sonora da vila, onde existem vários restaurantes e meia dúzia de hotéis.
Os habitantes usam lanchas em lugar de carros |
Nos invernos, quando os canais congelam – com mais frequência do que podemos imaginar em nossas cálidas cidades – o povo de Giethoorn se move pelas ruas patinando no gelo.
É a grande forma de “caminhar” pelas ruas inexistentes da cidade que é ao mesmo tempo uma fonte inesgotável de entretenimento. Nada disso há nas gigantescas nas ruas das modernas urbes, aliás muitas vezes feias e perigosas.
Giethoorn fica a uma hora e meia de carro de Amsterdã pela autoestrada A6. As zonas úmidas de Weerribben-Wieden têm a mais alta proteção legal, fazem parte do parque nacional de mesmo nome.
Os roteiros turísticos não acostumam mencionar a fonte de tanta paz e beleza: a bênção da Civilização Cristã, mas ela permanece irradiando ordem e bem-estar.
GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS HEROIS ORAÇÕES CONTOS SIMBOLOS
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo comentário! Escreva sempre. Este blog se reserva o direito de moderação dos comentários de acordo com sua idoneidade e teor. Este blog não faz seus necessariamente os comentários e opiniões dos comentaristas. Não serão publicados comentários que contenham linguagem vulgar ou desrespeitosa.