Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Continuação do post anterior: O Pálio de Siena, onde o passado glorioso da Civilização Cristã entra no presente (4)
O prêmio pertence ao santo patrono
No pátio do Palácio Público surgem os dez cavalos com os seus jóqueis, e são vagarosamente conduzidos ao ponto de partida, onde se colocam em ordem pré-estabelecida por sorteio, e esperam.
O juiz dá um sinal, cai a corda que os retém, da multidão irrompe um clamor imenso, os cavalos disparam.
Uma volta, duas voltas, três voltas na praça, em que eles se atropelam, se perseguem, dobram os ângulos da pista, descem desabaladamente a pequena rampa, surgem fogosos na curva.
Tudo se passa em segundos, entre o delírio ensurdecedor da multidão, até a passagem final pela meta, que consagra o vencedor.
Neste momento a pista é invadida de todos os lados, e os membros da contrada vencedora correm para junto da plataforma dos juízes a fim de receber o pálio.
Imediatamente levam-no à igreja de Provenzano ou à catedral, para agradecer a Nossa Senhora a vitória tão sonhada. Um solene Te Deum é celebrado.
Em triunfo eles seguem depois para o oratório da contrada, cujos sinos repicam festivamente; ali rendem graças ao santo patrono e depositam o prêmio que conquistaram.
Pela noite a dentro a vitória é comemorada alegremente.
Na manhã seguinte apresentam-se novamente, com os trajes tradicionais, para homenagear as autoridades da cidade e os protetores da contrada.
Um soneto, composto para exaltar a vitória, é distribuído ao povo.
Um mês depois, um grande banquete é oferecido nas ruas da contrada vencedora, decoradas com flores e tapeçarias, com as bandeiras tremulando.
O jóquei senta-se à mesa principal, e perto dele fica o cavalo, todo engalanado, diante de uma mangedoura com a mais suculenta alfafa.
Testemunho vivo da civilização cristã
Quem tiver tido a felicidade de assistir ao Pálio de Siena não terá visto apenas uma das mais belas e interessantes manifestações populares do mundo e uma das mais perfeitas reconstituições históricas que hoje em dia se realizam.
Terá sobretudo tido a ocasião única de ver e sentir, viva e palpitante, a beleza e o esplendor da Idade Média.
Nesta "era feliz, em que a Igreja presidia pacificamente os destinos dos povos", como disse Leão XIII, o espírito católico vivificava todos os costumes e modos de ser da Cristandade, imprimindo-lhes a alegria, o encanto e a harmonia próprios da existência conforme a lei de Deus.
O tufão revolucionário que desde a Renascença e pseudo-reforma protestante varre o mundo, destruindo o doce jugo de Nosso Senhor, tem tornado a vida cada vez mais intemperante, voluptuosa, triste, feia, e sempre insatisfeita.
A visão concreta da luminosa beleza medieval desperta uma nostalgia profunda de uma época em que a existência era digna, suave e toda impregnada de sublimidade.
O Pálio de Siena é um testemunho ainda vivo da civilização cristã, num mundo que apostatou da Santa Igreja de Deus.
É uma afirmação de todas as potencialidades culturais que essa mesma Igreja contém, e que poderão dar novos aspectos e novo lustre a uma civilização cristã do futuro, desde que a humanidade se converta de seus erros atuais, queimando o que adorava e adorando o que queimava.
Fim
(Fonte: "Catolicismo" - nº 45, setembro de 1954)
GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS HEROIS ORAÇÕES CONTOS SIMBOLOS
Você fala da Era Medieval como se ela fosse perfeita. Foi uma época de pobreza, desgraça e violência aclamada pela sua tão amada igreja. O Renascimento e a Reforma Protestante foram um dos acontecimentos mais importantes na modernização cultural do mundo, principalmente.
ResponderExcluir