terça-feira, 30 de outubro de 2012

A despedida dos mortos aguardando reencontrá-los na Ressurreição

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Quando um membro da família senhorial vinha a falecer, era exposto na grande sala do castelo, revestido com seus mais belos ornamentos, e, freqüentemente, embalsamado.

O luto era caracterizado pela cor violeta, e mais raramente pelo preto.

Mas a viúva guardava-o habitualmente de branco, à imitação das Rainhas, às quais a etiqueta prescreve esta cor, o que explica às Rainhas-mães o titulo de 'reines-blanches'.

O caixão, recoberto de damasco dourado ou de tecido vermelho, era conduzido à igreja, não sobre os ombros de servidores ou aldeões, mas sobre os dos mais próximos parentes e dos principais vassalos.

Quando transladaram à França o relicário com os ossos de São Luis, morto em Tunis, ele foi levado até Saint-Denis por Philippe le Hardi, filho do defunto.

Os nobres carregadores vestiam, para a ocasião, longas túnicas negras com capuz, e receberam a denominação de 'pleurants'.

Acontecia de o corpo ser seguido por um personagem, que, por seus trajes, maquilagem, modo de andar e atitudes, esforça-se por se assemelhar ao senhor defunto .

Quanto aos túmulos edificados sobre a sepultura, no coro ou nas criptas da capela ou igreja, são todos, ou quase todos, do mesmo modelo: o gisante.

Ou seja, a estátua do falecido, deitada sobre a laje funerária.

Estes túmulos são também inspirados em convenções que permitem reconhecer, num olhar, certos detalhes da existência do morto.

Se o cavaleiro pereceu em campo de batalha, o escultor o representa completamente armado, espada desembainhada na mão direita, escudo à esquerda e os pés apoiados sobre o flanco de um leão deitado.

Se morreu no leito, é figurado de cabeça descoberta, sem cinto, sem espada nem escudo, tendo os pés um galgo.

Uma grade de ferro em torno da estátua, indicava que o senhor morreu no cativeiro.

Quanto às damas, sua efígie as mostra de vestido longo, mãos postas, os pés sobre o flanco de um cão, símbolo da fidelidade conjugal.

Só os muito altos senhores tinham o direito de se fazerem representar em mármore, pois este era ainda, na Idade Média, um material muito custoso e raro.

Os nobres de menor hierarquia deviam contentar-se com um gisante de pedra, do qual só o rosto e as mãos são de mármore.

Os burgueses não tinham direito senão à pedra.



(Autor : Alfred Carlier, « Sous les Voútes dos Cháteaux-Forts -- La Vie Féodale », Editions Desoer, Liège, pp. 147 a 150)





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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Os privilégios do Vale do Roncal, exemplo de sociedade orgânica não planificada – 3

Rapazes roncaleses com trajes típicos.
Rapazes roncaleses com trajes típicos.

continuação do post anterior

Outros privilégios do Vale, como a isenção do serviço militar fora de suas fronteiras e o livre comércio com a França, não subsistem hoje, se bem que tenham sido os roncaleses os últimos a perdê-los.

A liberdade de alfândegas com a França encontra-se reduzida atualmente ao dia de Ernaz ou do Tributo das Três Vacas.

Quanto à isenção do serviço militar ordinário, permaneceu para os roncaleses por mais tempo que para o Reino da Navarra. Por Real Cédula de Carlos III, em 1773, estabeleceu-se o sorteio e recrutamento em Navarra, apesar dos protestos da Deputação, que denunciou o contraforo.

Os roncaleses, por sua parte, amotinaram-se contra o acordo do Real Conselho que pretendia incluí-los, e negaram-se a renunciar seus privilégios, até conseguirem que se revogasse o acordo.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Os privilégios do Vale do Roncal, exemplo de sociedade orgânica não planificada – 2

El Roncal, cruz em Urzainqui, Navarra
El Roncal, cruz em Urzainqui, Navarra

continuação do post anterior


No ano do Senhor de 785 foi muito comentada a passagem que Abderraman, o grande rei de Córdoba, fez dos Pirineus pelas marcas de Aragão, com seu exército mouro.

Fugitivos horrorizados chegaram então a Roncal contando as crueldades e extermínio que na sua passagem deixavam aqueles selvagens da África.

Os mouros chegaram até Toulouse naquela sangrenta expedição, bem dentro da Gália.

À volta decidiu o rei mouro fazê-la pelos passos do Val-de-Roncal, castigando simultaneamente os habitantes do Vale que tinham escorraçado até então todas as incursões muçulmanas.