segunda-feira, 31 de maio de 2021

A família nas origens da civilização

Casamento, Conrad Beckmann (1846 – 1902)
Casamento, Conrad Beckmann (1846 – 1902)
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








A obra de Funck-Brentano “L’Ancien Régime” (Arthème, Fayard e Cie., Paris, 1937) dá-nos ocasião para tecer considerações acerca das origens da Idade Média.

Historiador de grande renome, o autor é contudo naturalista, mas suas obras nos são de grande valia, se bem examinadas, com espírito crítico.

Funck-Brentano parte da posição muito boa de que, no Estado, a matéria-prima fundamental é a família.

O Cardeal Billot, em seu livro “De Ecclesia”, discorrendo acerca do Estado orgânico, diz, magistralmente, que quem definisse o corpo humano como um conjunto de células diria um disparate, mas se dissesse ser um conjunto de órgãos diria uma grande verdade.

Com efeito, o corpo humano não é constituído simplesmente de células, mas de células que por sua vez compõem órgãos.

As unidades do corpo humano mais próximas são os órgãos.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Benefícios da união dos poderes espiritual (Papado)
e temporal (Império)

Ato de submissão de São Luis a Inocêncio IV em Cluny. Bibliothèque National de France.
Ato de submissão de São Luis rei da França a Inocêncio IV em Cluny.
Bibliothèque National de France.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Que tenha havido abusos da parte da Santa Sé, como da parte do poder temporal, é coisa incontestável, e a história das disputas entre o papado e o império está aí para prová-lo.

Mas podemos dizer que no conjunto esta tentativa audaciosa de unir os dois poderes — o espiritual e o temporal — teve um saldo positivo para o bem comum.

Era uma garantia de paz e de justiça esse poder moral do qual não se podiam infringir as decisões sem correr perigos precisos — entre outros o de se ver despojado da sua própria autoridade e afastado da estima dos seus súditos.

Enquanto Henrique II está em luta com Thomas Becket, não se sabe qual prevalecerá, mas no dia em que o rei decide desembaraçar-se do prelado por um assassínio, é ele o vencido.

A reprovação moral e as sanções que ela provoca têm então mais eficácia que a força material.

Para um príncipe interdito, a vida deixa de ser tolerável: os sinos silenciosos à sua passagem, os súditos fugindo à sua aproximação, tudo isto compõe uma atmosfera à qual não resistem até mesmo os caracteres mais fortemente temperados.

Até Filipe Augusto acaba finalmente por se submeter, quando nenhum constrangimento exterior o teria podido impedir de deixar a infeliz Ingeburga gemer na prisão.

Durante a maior parte da Idade Média, o direito de guerra privada permanece considerado inviolável, tanto pelo poder civil como pela mentalidade geral.

Manter a paz entre os barões e os Estados apresenta, portanto, imensas dificuldades; e se não fosse esta concepção da Cristandade, a Europa correria o risco de nunca passar de um vasto campo de batalha.